AGRONEGÓCIOS
23/07/2009
Mônica Scaramuzzo, de São Paulo
Um processo na Justiça movido contra uma usina de Pernambuco travou as intenções de investimentos da trading de commodities agrícolas Olam International no Brasil. O grupo, com sede em Cingapura, acusa a Usina Interiorana, em Ribeirão (PE), de não ter cumprido o contrato de entrega referente a 24 mil toneladas de açúcar adquiridas pelo grupo e ter vendido o mesmo produto a terceiros.
O processo (nº 001.2009.119540-4) tramita na 3ª Vara Criminal de Recife, onde os empresários Guilherme Cavalcanti de Petribu de Albuquerque Maranhão, acionista da usina, e seu irmão Carlos Henrique Cavalcanti de Petribu de Albuquerque Maranhão, também sócio da Interiorana, são apontados como réus.
A empresa negociou três contratos com a usina Interiorana para a compra de 52 mil toneladas de açúcar, para entrega entre outubro de 2008 a fevereiro de 2009, destinadas ao mercado externo. Segundo Marcelo Pedro, presidente da Olam no Brasil, os dois primeiros contratos, de 14 mil toneladas cada um, foram cumpridos. O último, de 24 mil toneladas, deixou de ser entregue. “O argumento do diretor da usina [Guilherme Maranhão] à época foi que o produto sofreu arresto na Justiça pela empresa ICT”, disse.
De acordo com Denise Garcia, do escritório Joyce Roysen Advogados, que representa a Olam, o empresário Carlos Henrique Maranhão, acionista da usina e irmão de Guilherme Maranhão, é apontado como um dos acionistas da ICT. “O açúcar foi retirado da usina [na qual Guilherme estava como fiel depositário] durante o feriado de Carnaval e negociado a terceiros.”
O presidente da Olam afirmou ao Valor que pagou antecipado o equivalente a 86% do total dos produtos que não foram entregues. Segundo Pedro, por conta desse processo, a matriz da Olam está revendo seus investimentos no Brasil. A empresa interrompeu também as operações de pré-financiamentos para usinas de açúcar no Brasil por tempo indeterminado, e adiou o projeto de compra de uma usina de açúcar e álcool, que estava previsto para ocorrer entre este ano e 2010, com aporte estimado em R$ 300 milhões. “Também tínhamos planos de investir em uma beneficiadora de arroz no país.”
Procurado, Carlos Henrique Maranhão informou que somente o seu irmão é que pode responder pelo processo movido pela Olam. Em relação à ICT, o empresário disse “que tinha um volume de açúcar a receber”. Ao Valor, Guilherme Maranhão afirmou que a Olam fechou contrato com a usina com preço fixado e depois quis pagar um valor menor pelo produto. O empresário também argumentou que a trading exigiu novas sacarias para embalar o produto, o que encareceria mais a operação. De acordo com Maranhão, a usina está buscando um acordo com a Olam na Justiça. Ele não descarta pagar em dinheiro ou em produto. Mas o usineiro questiona os custos cobrados pela trading.
De acordo com Marcelo Pedro, a Interiorana deve à trading US$ 11 milhões, valor que inclui o produto já pago, os custos da empresa para recomprar o açúcar para repor ao cliente final, custos no porto e com o processo, além de perdas com operações futuras.
Com faturamento global de US$ 8,1 bilhões em 2008, a Olam é uma das maiores tradings de commodities agrícolas do mundo. Maior exportadora global de arroz e uma das maiores em café e algodão, o grupo tem planos para expandir seus negócios no Brasil. No país desde 2003, a empresa possui uma processadora de castanha de caju no Rio Grande do Norte e tornou-se grande negociadora de café, por meio de sua subsidiária Outspam. A receita do grupo no país é de cerca de US$ 700 milhões.
De acordo com Pedro, a empresa tem planos de adquirir uma usina de açúcar e álcool e também investir em uma beneficiadora de arroz no país. No entanto, esses projetos estão parados, uma vez que a matriz espera o desenrolar do processo envolvendo a Interiorana. “O Brasil é um importante originador de commodities para a Olam e deverá ser uma plataforma estratégica para os negócios do grupo na África”, disse.