Lavouras atingem produtividade de 55 sacas por hectare, contra uma média nacional de 19 sacas
O exemplo baiano do café irrigado foi conhecido pelos participantes da II Conferência Mundial
As circunferências perfeitas visualizadas durante um sobrevôo no cerrado baiano denunciam a intervenção humana para fazer brotar na região o café irrigado. A técnica que introduziu no cerrado a vegetação de verde exuberante e perfume floral ainda se mostra mágica ao olhar dos visitantes. Um grupo de cafeicultores estrangeiros que participou da II Conferência Mundial do Café, realizada pela primeira vez no país, na cidade de Salvador, em setembro, visitou a Fazenda Agronol, no município de Luís Eduardo Magalhães, margem esquerda do Rio São Francisco. Eles foram conhecer, in loco, os cafezais que possuem produtividade média de 55 sacas por hectare, enquanto a média nacional é de 19 sacas.
O sol forte característico da região deu as boas-vindas ao grupo formado por cerca de cem cafeicultores. “Esta é uma forma de mostrar a importância política do café para todos os países produtores”, afirmou o diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), Nestor Osório, a despeito da importância da realização da conferência e da reunião da cadeia produtiva.
A região oeste é conhecida pela boa incidência de luz, pouca variação da temperatura, com média de 24ºC, índices pluviométricos entre 1.000 e 1.800 mm anuais, solos planos e altitudes que variam de 750 a 850 metros. A área cultivada com café compreende os municípios de Catolândia, Correntina, Cocos, São Desidério, Luís Eduardo Magalhães (LEM) e Barreiras, totalizando a área plantada de aproximadamente 13 mil hectares irrigados por pivô e cerca de 700 hectares irrigados por gotejamento, a partir de tecnologia criada pela equipe do Mapa-Procafé.
O Brasil, maior produtor mundial desse grão, tem seu prestígio reconhecido internacionalmente. O produtor salvadorenho Ricardo Espitia, que é diretor executivo do Conselho Salvadorenho do Café, em El Salvador, afirmou, durante a visita, que em seu país a cafeicultura é menos mecanizada e possui custos maiores. “A imagem do brasileiro que se tem é de um produtor tecnificado e empresário. Olhamos os brasileiros com grande admiração e também com temor”, disse.
A concorrência internacional exige dos cafeicultores a profissionalização da produção e a conseqüente modernização dos processos. Segundo levantamento conduzido pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), os custos administrativos e operacionais da cafeicultura no oeste da Bahia, na safra 2005, giraram em torno de R$10,5 mil por hectare.
Para o pioneiro e responsável pela introdução da agricultura irrigada no oeste baiano, em 1989, João Barata, os agricultores ainda têm um caminho longo a percorrer: “Na minha opinião, o café irrigado não pode ser bienal. A produção tem que ser anual. Há que se fazer mais experiências técnicas”, comentou o cafeicultor, hoje aposentado, que soma 63 anos de experiência com a commodity.
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Cafeicultores cobram ferrovia
A má conservação das rodovias e a distância de aproximadamente 800km que separa a região oeste do estado do Pólo Petroquímico de Camaçari, fonte de matérias-primas dos produtores, faz da logística o principal gargalo desse setor produtivo. Nos cálculos do presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Humberto Santa Cruz Filho, o custo da logística encareceu cerca de 30%. “A ferrovia é a solução definitiva ligando o oeste da Bahia ao cerrado e ao litoral”, defende o presidente da Aiba.
O prefeito do município de Luís Eduardo Magalhães, Oziel Oliveira, afirma que a rodovia federal BR-242, que interliga Brasília a Salvador, está causando prejuízos financeiros aos produtores. “Acredito que nós perdemos cerca de 5% de nossa produção na estrada”, calcula. O estado geral de conservação da BR-242 é classificado por ruim para os 773km avaliados na Pesquisa Rodoviária 2005 da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Segundo Oliveira, um estudo encomendado revela que o custo do projeto ferroviário, com malha de 550km de extensão interligando os municípios de Luís Eduardo Magalhães e Brumado, exige aporte de recursos de cerca de US$1 bilhão. “A classe produtiva está pronta para fazer essa parceria com o governo”, antecipa.
Os irrigantes do oeste compram, anualmente, do Pólo Petroquímico de Camaçari cerca de 700 milhões de litros de combustível, 1,2 milhão de toneladas de fertilizantes, cerca de um milhão de toneladas de corretivos e 140 milhões de litros de defensivos agrícolas. Apesar da distância e da má conservação, a rodovia é o meio utilizado para transportar a carga.
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Agricultura desenvolve região oeste
A fronteira agrícola do oeste é a maior do estado da Bahia, perfazendo um total de 1.487.843 hectares plantados na safra 2004/2005, segundo levantamento da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Com um valor bruto da produção agrícola avaliado em cerca de R$3,1 bilhões, o oeste tem ainda a seu favor a expansão da fruticultura. Na região, existem cerca de 13 mil hectares plantados com diferentes espécies de frutas, entre elas a manga, o mamão e variedades de citrus, como o limão e a laranja.
Segundo o relatório 5º Anuário de Pesquisa da Cafeicultura Irrigada do Oeste da Bahia, uma realização conjunta entre a Aiba e a Fundação Bahia, a área cultivada da matriz produtiva do oeste se divide entre a soja, com 60%, 14% de algodão, 9% de milho, 1% de café, 1% de frutas e no conjunto outros, 14%, tendo como parâmetro da análise a safra 2004/2005.
Na avaliação por valor bruto da produção agrícola, a soja participa com 41%, o algodão com 31%, o milho, 6%, as frutas, 5%, o café também aparece com 5% e o aglomerado outros participa com 12%.
A pecuária também tem presença expressiva na região, com destaque para a quantidade de 1,7 milhão de cabeças de gado bovino e 450 mil cabeças de caprinos e ovinos.
Segundo prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Oziel Oliveira, o agronegócio participa com 99% na economia local. O Produto Interno Agrícola (PIA) de LEM está avaliado em US$700 milhões, em 2005, o que denota crescimento de 20% em relação ao ano passado. Somente a cafeicultura participa com 15% das riquezas produzidas na cidade e emprega, diretamente, cerca de dez mil pessoas na lavoura.
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Fertilizantes encarecem produção
A alta do fertilizante nos últimos três anos, por conta das variações cambiais, tem onerado em cerca de 60% os custos do insumo. “Nada na agricultura com essa taxa do dólar está sendo compensado. O maior problema nosso chama-se fertilizante”, afirmou o cafeicultor Marcelo Gomes, que produz na Fazenda São Francisco, em LEM, cerca de dez mil a 12 mil sacas de café por ano. O cafeicultor Marcelo Gomes investiu na lavoura há cinco anos, com vistas ao mercado externo. Ele destina cerca de 70% da produção para Europa e Estados Unidos.
O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Humberto Santa Cruz Filho, desabafou: “Eu não sei até quando a gente vai conseguir manter a produção”. A variação cambial já está provocando impacto negativo na colheita. Da previsão de 2,2 milhões de sacas de café, a produção baiana deve atingir cerca de 1,8 milhão de sacas.
“A expectativa é que nós tenhamos, pelo menos, uma estabilidade de preços”, comentou o presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), Eduardo Salles. Ele afirma que a produção do estado é de 1,6 milhão de sacas anuais, enquanto o consumo interno oscila entre 600 mil e 800 mil sacas – o que torna a Bahia auto-suficiente. O estado possui três grandes pólos produtores de café – cerrado, planalto e atlântico sul – e participa com cerca de 5% da produção nacional.