swissinfo 6 de Outubro de 2005 14:44
O ministro da Agricultura do Brasil esteve na Suíça para reunião na OMC, em Genebra, e fez uma conferência em Zurique, aos membros da Câmara Latino-Americana de Comércio na Suíça.
Essa foi a parte oficial, mas talvez a mais importante tenha sido a reunião de mais de duas horas e meia com o ministro suíço da Economia, Joseph Deiss, que foi especialmente a Zurique para o encontro com Roberto Rodrigues.
As divergências na agricultura
Ambos falaram das negociações agrícolas na OMC, antes da reunião de Hong Kong, em dezembro, que deveria concluir as negociações sobre a liberalização do comércio mundial iniciadas em 2001 em Doha, no Catar. No entanto, as previsões são pessimistas justamente por causa da agricultura.
Os países do G20 – grupo de países em desenvolvimento e exportadores agrícolas como Brasil, China e Índia – querem que o limite máximo de barreiras tarifárias nos países importadores e mais desenvolvidos do chamado G10 não ultrapasse 100% do valor do produto agrícola.
Os países do G10 defendem abrir seus mercados de maneira progressiva e aceitável para seus agricultores, antes de fazerem mais concessões. Querem ainda que sejam consideradas a auto-suficiência e o papel da agricultura na proteção da paisagem.
A Suíça tem uma participação pequena no comércio agrícola e exporta muito pouco mas defende as mesmas posições do G10, em que os pesos pesados são União européia e Estados Unidos.
No encontro de Zurique, Deiss pediu maior flexibilidade nas reinvindicações do G20 quanto ao acesso a mercados, alegando que a agricultura suíça não resistiria às restrições tarifárias e à abertura exigidas pelo G20.
Ao final da reunião, o ministro brasileiro Roberto Rodrigues disse a swissinfo que « acha perfeitamente possível discutir esse tema com países como a Suíça, que não têm uma participação relevante no comércio agrícola”.
Acho que a Suíça também vai caminhando para o biocombustível com mais firmeza.
Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura
Algodão e açucar na OMC
Rodrigues disse que também pediu o apoio da Suíça na OMC para a implementação das decisões tomadas em favor do Brasil e outros produtores nos painéis do algodão (contra os Estados Unidos) e do açucar (contra a União Européia).
“Se essas decisões não forem implementadas rapidamente, a OMC chegará desmoralizada à reunião de Hong Kong, em dezembro”, afirmou o ministro da Agricultura.
Os dois ministros falaram ainda de biocombustível. A Suíça começa a misturar álcool na gasolina mas não pode ser auto-suficiente em etanol.
O projeto chamado Etha+ prevê até 5% de etanol na gasolina e a construção de uma usina na Suíça ocidental para transformar o excende agrícola em biocombustível. A construção ainda não foi iniciada mas poderá suprir apenas 25% da demanda.
Etanol e biodiesel
“O restante terá de ser importado e poderia ser do Brasil, por exemplo”, afirmou a swissinfo Pierre Schaller, diretor da Alcosuisse, uma autarquia ligada à administração federal, autora do projeto Etha+. O etanol produzido na Suíça, mesmo para atender a apenas um-quarto da demada, seria muito mais caro que o brasileiro mas daria um alento aos agricultores suíços.
“Coloquei ao ministro Deiss a visão brasileira do etanol. Pensamos que ele terá uma posição relevante por causa dos preços e da diminuição de estoques de petróleo e da questão ambiental”, afirmou Roberto Rodrigues.
O assunto já fora abordado entre ambos em Brasília, em 2003. Joseph Deiss respondeu que a questão está em estudo na Suíça e que possivelmente terá uma boa posição como consumidora, no futuro.
“De qualquer forma, nas negociações em curso entre a União Européia e o Mercosul, está prevista uma quota para etanol que promete ser interessante. Mas a Suíça é um país que forma opinião perante o mundo, que tem grande precupação com a questão ambiental, e eu penso que importanto biodiesel ou etanol do Brasil daria uma importância para o produto a nível mundial”, precisou o ministro da Agricultura.
Em relação às conversas iniciadas em Brasília com o ministro Deiss, Roberto Rodrigues constatou uma “receptividade melhor, como em outros países”, devido a questão ambiental e aos preços do petróleo. “Acho que a Suíça também vai caminhando para o biocombustível com mais firmeza”, conclui o ministro brasileiro.
swissinfo, Claudinê Gonçalves