Recursos para financiar safra 2009/10 serão de R$ 108 bilhões, número 38% maior que 08/09
VIVIANE MONTEIRO BRASÍLIA
O governo anunciará créditos de R$ 108 bilhões para o plano safra 2009 e 2010, informou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
O crédito rural para fomentar as culturas agrícolas supera em 38,46% os R$ 78 bilhões obtidos no ano anterior. A agricultura empresarial será a mais beneficiada com os recursos e contará com um limite de financiamento de R$ 93 bilhões.
A cifra representa um aumento de 43,07% sobre os R$ 65 bilhões obtidos no Plano Agrícola de Agricultura Empresarial do ano anterior.
É a maior da história. Stephanes acredita que os dados oficiais serão anunciados entre a primeira e segunda semanas do próximo mês.
O governo também vai elevar os valores para a agricultura familiar.
O montante será de R$ 15 bilhões, um crescimento de 15,38% na comparação com os R$ 13 bilhões observados no período anterior.
“Vamos ter um bom aumento nos recursos em relação ao ano passado”, justificou o ministro Stephanes, após fechar os números ontem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O ministro da Agricultura informou que já estão fechados quase todos os dados para o atual ciclo agrícola. Mas não detalhou o novo plano safra. “É provável que até o fim desta semana os últimos itens sejam concluídos”, disse o ministro.
Os produtores rurais, porém, consideram os valores insuficientes para atender as necessidades do campo, uma vez que as operações de crédito do setor privado têm se tornado mais escassas em decorrência do agravamento da crise financeira internacional, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), José Mário Schreiner. Segundo ele, o setor havia pedido R$ 120 bilhões para fomentar a produção da próxima safra agrícola e aumentar a participação do financiamento público no campo, já que o setor financeiro privado tende a fechar as torneiras de crédito em virtude da falta de liquidez mundial. O dirigente adiantou que o governo precisará reduzir as burocracias do sistema financeiro, sobretudo do Banco do Brasil, o principal fornecedor de recursos para o campo, para que os produtores rurais possam acessar os recursos, pois os impactos do agravamento da crise mundial, em meados de setembro de 2008, também agravaram as dificuldades dos produtores rurais na contratação de crédito rural. Segundo ele, o governo precisa alterar a resolução do Banco Central que autoriza os bancos a não levarem em conta, nas operações de crédito, o risco das dívidas agrícolas repactuadas.
“Os bancos estão ignorado essa medida porque o Banco Central fez apenas uma autorização para que o risco das dívidas agrícolas renegociadas não seja levado em consideração nas operações de crédito. O Banco Central precisa alterar a medida e obrigar os bancos a fazerem isso”, reforçou.
Schreiner disse que os recursos são insuficientes para atender as necessidades do campo, porque o setor privado tem reduzido as operações de crédito e elevado a taxa de juros por conta do risco da agricultura.
Ele reclamou que os produtores rurais tem contratado o crédito com taxa de juros de ate 18% em media no setor privado.
Segundo ele, a maior parte da produção agrícola é fomentada pelos bancos privados e tradings, que respondem por cerca de 75% dos financiamentos na região CentroOeste, a maior produtora nacional de soja. “O crédito com juros equalizados (6,75% ao ano) respondem por 25% do crédito agrícola no Centro-Oeste”, reclamou.
Os produtores rurais reivindicam redução da taxa do juro equalizado de 6,75% anuais para 5% ao ano, para acompanhar a tendência de queda da taxa Selic.
Trigo O ministro foi cauteloso quando questionado se o governo estaria pensando em reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) para a cota de trigo de terceiros países, diante da queda de safra da Argentina. “Estamos estudando isso com muito cuidado”. Stephanes sinalizou que, por enquanto, o Brasil não precisa adotar tal medida, pois ainda existem estoques do grão na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na mão da indústria e cooperativas.
Além disso, destacou que o Brasil colherá uma safra de trigo este ano maior do que no ano passado. “Acreditamos que a necessidade de importação de trigo será muito pequena. Estamos examinando os estoques, a reunião da Camex deverá será em meados de junho. Aí vamos colocar isso na mesa”, disse.