11 de Outubro de 2005
Países do Oriente Médio e África importam 90% dos alimentos que consomem. O agronegócio, setor que por um bom tempo vem sustentando a economia brasileira, apresenta um dado relevante em 2005. Os tradicionais mercados para produtos agropecuários nacionais, como União Européia e Estados Unidos, vêm perdendo rapidamente terreno para os países em desenvolvimento. Entre estes destacam-se os países árabes.
Os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) são eloqüentes e revelam que, entre janeiro e agosto, as exportações do agronegócio para os 22 países da Liga Árabe avançaram 24% em relação ao mesmo período do ano passado, com US$ 2,2 bilhões faturados. Enquanto isso, as vendas externas totais do setor aumentaram apenas 10% em relação a 2004, registrando US$ 28,6 bilhões. Entre os itens mais vendidos para os árabes, destacam-se as carnes de frango e bovina, açúcar, café, soja, produtos de couro, papel, madeiras e tabaco.
Segundo ainda o Mapa, a participação do mundo árabe no total das exportações agropecuárias em julho passou de 6,27% em 2004 para 8,29% em 2005. Nesse mesmo mês, a corrente comercial com os árabes (total de exportações mais importações) cresceu 50% e atingiu o recorde de US$ 1,1 bilhão, sendo US$ 598,4 milhões em importações e US$ 496,7 milhões em exportações. Já em agosto as vendas para os árabes somaram US$ 432,5 milhões, um aumento de 46% em comparação com o mesmo mês do ano passado, enquanto a média nacional no período foi de 16%.
A persistir essa tendência, o desempenho global das exportações brasileiras para o mundo árabe ultrapassará a previsão da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) de um crescimento entre 12% e 13% em 2005 para mais de 20%. Durante o “Seminário SP Exportação”, realizado em São Paulo na segunda quinzena de agosto, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deu ênfase à consolidação do novo cenário, informando que o Brasil tem condições de se tornar um dos maiores fornecedores de produtos agrícolas para os países árabes.
A Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) comunga da mesma opinião do ministro. Segundo relatório feito pelo órgão, seremos em dez anos o maior país agrícola do mundo. Isso representa uma grande vantagem para o Brasil, se considerarmos que os árabes, tanto os situados no Oriente Médio como os do Norte da África, importam 90% dos alimentos que consomem.
O segmento de carnes, segundo destacou o ministro, é um dos mais promissores. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) prevê que, num prazo de dois a três anos, a região vai ultrapassar a União Européia e tornar-se a principal compradora da carne bovina brasileira. Em julho o Egito foi o segundo maior importador de carne bovina brasileira in natura e a Argélia, o quarto.
A pauta de exportações de produtos agrícolas para os árabes também vem se diversificando com itens como frutas, mel, castanha e até boi vivo. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), 1.440 itens foram exportados no primeiro semestre do ano passado e 1.535 no mesmo período de 2005 – 95 produtos a mais. Outro dado interessante é que as companhias brasileiras estão cada vez mais atentas ao potencial de negócios com os países árabes, principalmente porque não há protecionismo agrícola na região – sério problema enfrentado pelos produtores nacionais nos mercados norte-americano e europeu. Além disso, como observam especialistas, houve aumento da capacidade de compra dos árabes e fortalecimento de suas economias a partir da elevação do preço do petróleo. O resultado disso é que o número de empresas que vendem para a região cresceu, saltando de 1.257 nos primeiros seis meses de 2004 para 1.357 no mesmo período deste ano, segundo a Secex.
O aumento das receitas, do número de empresas e de produtos na pauta de exportações para os árabes aponta, portanto, para um crescimento sustentável e evidencia que esses países estão se consolidando como um mercado forte para o Brasil. Dando sustentação e alimentando o que ocorre na economia, há ações políticas de peso, como a recente realização da cúpula dos países árabes e sul-americanos, as missões comerciais comandadas pelo governo brasileiro e a própria visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cinco países árabes, em dezembro de 2003.
Faz-se necessário, porém, aumentar e equilibrar o comércio bilateral entre árabes e brasileiros. Além de exportações, o País deve pensar também em importações. E lembrar que a mesma falta de informação dos árabes em relação ao Brasil existe na mão contrária e que um pouco de esforço para enxergar vai revelar um mundo de opções entre os países do Oriente Médio e Norte da África que vai muito além do petróleo. Basta lembrar que a Arábia Saudita possui também a maior reserva de fosfato do mundo, matéria-prima fundamental para o desenvolvimento da agricultura. Se assim proceder, o Brasil tornará irreversível o fenômeno aqui descrito.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3)(Antônio Sarkis Junior – Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). )