Redação Cruzeiro do Sul
O café não é só cafeína. A maioria das pessoas que o toma diariamente ignora quais são as substâncias que estão presentes nesta bebida e pensa que ele contém apenas ou principalmente cafeína. Grande engano. O café possui apenas 1 a 2,5% de cafeína e diversas outras substâncias em maior quantidade. E estas outras substâncias podem até ser mais importantes do que a cafeína para o organismo humano.
O café possui além de uma grande variedade de minerais como potássio, magnésio, cálcio e sódio, entre outros. Adicionalmente o café também possui uma vitamina do complexo B, a niacina e, em maior quantidade que a cafeína, os ácidos clorogênicos, na proporção de 7 a 9%, isto é, 3 a 5 vezes mais. Apenas a cafeína é termo-estável, isto é, não é destruída com a torrefação excessiva. As demais substâncias, como aminoácidos, açúcares, lipídeos, niacina e os ácidos clorogênicos, são preservadas, formadas ou mesmo destruídas durante o processo de torra.
O café com a torra ideal é aquele que possui a cor marrom, tipo chocolate (marrom claro ou marrom escuro), pois este preserva as substâncias benéficas para a saúde. O produto bom é aquele onde há um maior controle sobre a torrefação. Café queimado não faz bem para a saúde. O grão torrado excessivamente possui apenas a cafeína e uma grande quantidade de cinzas, contrariando a frase de que o café bom é aquele preto como o carvão. Na verdade o café deve ser quente como o inferno, puro como um anjo e doce como o amor.
A crítica ao consumo de cafeína em quantidades moderadas são totais e completamente infundadas, mas ainda arraigadas entre pessoas desinformadas. Em quantidades moderadas – o equivalente a 400-500 mg/dia (dose de 3 a 4 xícaras) – a cafeína não é prejudicial à saúde humana, desde a gestação até o final da vida. O consumo crônico e moderado de cafeína não está associado com o infarto do miocárdio, nem com qualquer tipo de câncer ou com má-formação fetal (teratogenia), doença fibrocística da mama ou aborto.
A cafeína também não é responsável pela produção de arritmias cardíacas ou de úlcera gástrica ou duodenal em pessoas normais . Apesar do consumo de café e chá ser antigo, as pesquisas que avaliam os efeitos do café no homem são recentes. Mais de mil produtos químicos foram identificados no café, sendo alguns, como os ácidos clorogênicos, os mais abundantes compostos orgânicos do café.
Mas a cafeína é a substância mais estudada até o momento e considerada erroneamente como a principal responsável pelas propriedades estimulantes da bebida. A cafeína atua através do antagonismo dos receptores de adenosina, um neurotransmissor inibidor existente no cérebro. Impedindo a atuação da adenosina, causa uma estimulação cerebral. Mas a cafeína não pode ser comparada com a estricnina, a cocaína nem a heroína por possuir apenas semelhança fonética. A cafeína foi excluída da lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Anti-Doping (www.wada.org).
A bebida café possui em seu teor final compostos estáveis como sais minerais, niacina, cafeína e os ácidos clorogênicos e os quinídeos, além de um grande número de compostos voláteis que dão aroma e sabor à mesma.
O valor calórico do café é mínimo, pois os açúcares, lipídeos e aminoácidos não estão presentes na bebida. Estudos modernos mostram que a planta mais consumida no mundo, o café, possui ácidos clorogênicos que, no processo de torra, formam diversos derivados conhecidos como quinídeos. Estes compostos formados na torra e exclusivos do café possuem um potente efeito antagonista opióide (inibindo assim o desejo de autogratificação que leva à depressão e ao consumo de drogas legais e ilegais), além de atuarem inibindo o transporte da adenosina no cérebro, protegendo-o dos efeitos da cafeína. Por isto parecem ser até mais importantes que a cafeína, pois ocorrem em maior quantidade em comparação com a mesma, tanto no grão como na bebida final.
Por isto, o consumo regular e moderado de café na dose de 3 a 4 xícaras diárias exerce um efeito profilático sobre a depressão e o consumo de drogas como o álcool e também diabetes, doença de Parkinson, cálculos biliares, câncer de cólon além de melhorar o aprendizado escolar. Isto explica por que o “cafezinho” é uma palavra carinhosa que representa o melhor momento de palestras e reuniões e por que tomamos café durante toda nossa vida.
Darcy Roberto Lima é mestre e doutor (Ph.D) pela Universidade de Londres e membro do grupo coordenador científico do projeto Café e Coração, da Federação Mundial de Cardiologia e Instituto do Coração (Incor) – (e-mail: drlima@cafeesaude.com.br).
Darcy Roberto Lima