A insatisfação com os rumos da política agrícola para a cafeicultura fez com que um grupo de produtores do sul de Minas Gerais pedisse, na última sexta-feira, a saída de Manoel Bertone do cargo de secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura (Mapa). O documento foi encaminhado pelos sindicatos dos produtores rurais de Boa Esperança (MG), Altinópolis (SP), Guapé (MG) e de Coromandel (MG) em parceria com a Associação dos Sindicatos do Sul de Minas (Assul), que representam mais de 50 entidades e 150 municípios. Procurada, a assessoria do Mapa não confirmou o recebimento das cartas. Há duas semanas, o secretário-executivo do Mapa, Silas Brasileiro, também se afastou do cargo. Porém, não foi confirmado relação entre sua saída e a crise na cafeicultura.
Os problemas foram agravados nos últimos meses por causa da falta de alinhamento no discurso entre o Mapa e o Ministério da Fazenda, principalmente no que diz respeito ao reajuste dos preços mínimos e criação de ferramentas para impulsionar as cotações no mercado interno. Produtores pedem que a dívida do setor, estimada em R$ 4,2 bilhões, seja amortizada com produto físico. Porém afirmam que o reajuste dos preços mínimos para R$ 261 a saca (60 quilos) não reflete a realidade do custo de produção.
Segundo dizem, as despesas por saca são superiores a R$ 300. “O que está acontecendo é que ele (Manoel Bertone) está sendo omisso.
Estão todos alheios aos problemas. A cafeicultura montou o País e agora está nesse descaso. Estamos quebrados”, desabafou Lenilton Soares, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guapé (MG), e um dos elaboradores do manifesto. “O Silas (Brasileiro, ex-secretário executivo do Mapa) foi colocado lá graças ao apoio da cafeicultura e mesmo assim nos traiu dizendo que o custo de R$ 320 a saca estava errado. E além de tudo não mostrou números para comprovar isso”, completou Soares.
Conforme disse, existem laudos da Universidade de Viçosa (MG), da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq) que comprovam os custos por hectare. “A Colômbia vende café pelo dobro do nosso. Lá existe política. Não sabemos o que está acontecendo em Brasília, por isso resolvemos nos manifestar”, completou. A região do sul de Minas é a maior produtora do País, com um volume anual de 8 milhões de sacas.
O Conselho Nacional do Café (CNC), segundo Gilson Ximenes, presidente da entidade, não é favorável à retirada de Bertone do Mapa. Procurado pela reportagem, a assessoria do Mapa afirmou que Manoel Bertone estava em viagem. O secretário de Produção e Agroenergia do Mapa foi presidente do CNC e da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça (Garcafé). Arnando Matielli, diretor do sindicato de Guapé e secretário-executivo da Assul, afirma que a carta foi enviado ao Ministro da Agricultura e a vários deputados na sexta-feira. “É a tradução do sentimento de vários produtores da região”, disse
“A insatisfação das lideranças com o secretário (Manoel) Bertone foram provocadas pela fraqueza estrutural do Mapa, que não tem força para executar as políticas. Quem manda é o (Ministério) Fazenda e especificamente o Gilson Bittencourt”, observou Carlos Melles, deputado-federal (DEM-MG) e presidente da Frente Parlamentar do Café e da Cooperativa de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso). “Quando o governo aceita transformar a dívida em mercadoria e coloca esse preço mínimo (R$ 261), não se trata de um governo sério.
Amortizar dívida dessa forma só pode ser falta de seriedade. Ainda assim, sou contra a saída do Bertone. Seria um tiro no pé”, acrescentou o deputado. Para ele, o Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), composto pelos Ministérios da Agricultura, Planejamento, Indústria e Comércio, Itamaraty e pela iniciativa privada deveria assumir essa função.
As lideranças, no entanto, concordam que o excesso de divergências e contrariedade nas duas pastas só contribui para a desmoralização do Mapa. “Se continuar desse jeito pode enfraquecer até o (Reinhold) Stephanes”, concluiu Melles (Gazeta Mercantil, 25/05/09)