BELO HORIZONTE – Artesãos de Minas Gerias investem no design e no reaproveitamento de matéria-prima para produzir peças com diferencial competitivo. A qualidade dos produtos foi destacada no Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, que reconhece as melhores unidades produtivas do País. Os seis mineiros selecionados participaram da Rodada de Negócios que seguiu-se à premiação na semana passada, no Rio de Janeiro, e fizeram contanto com grandes empresas compradoras.
No Brasil são mais de 8,5 milhões de pessoas que trabalham com o artesanato. Em Minas a atividade é a principal fonte de renda para muitas famílias, que utilizam a matéria-prima da própria região. “O artesão mineiro aproveita desde o barro até as fibras vegetais, abundantes na região, para gerar renda e ocupação. São peças que possuem originalidade e que caracterizam as tradições do nosso povo”, explica o diretor superintende do Sebrae/MG, Afonso Maria Rocha.
Nesta edição do Prêmio Top 100 Artesanato, a inovação de produtos, respeito ao meio ambiente, eficiência produtiva e compromisso social foram decisivos no processo classificatório. “Os processos produtivos evoluiram, assim as unidades artesanais poderão garantir a sua competitividade, visando a ampliação de mercado com produtos diferenciados e com valor agregado”, Sabrina Campos, analista de Comércio, Serviço e Artesanato do Sebrae/MG.
As seis unidade produtivas vencedoras são de quatro regiões do Estado. Em Maria da Fé, no sul Minas, após a crise da monocultura da batata, há mais de 10 anos, os artesãos descobriram na fibra de bananeira uma oportunidade de trabalho. Ligada à Cooperativa Mariense de Artesanato, a oficina Gente de Fibra foi criada por incentivo do programa de desenvolvimento do turismo rural, apoiado pelo Sebrae/MG e pela Prefeitura Municipal.
Com a matéria-prima definida, o Sebrae/MG implantou na cidade o Programa Sebrae de Artesanato que ofereceu aos artesãos capacitação em design para melhorar a qualidade dos produtos. Eles também apreenderam sobre gestão e atendimento. Pratos, cestos, mandalas e adornos decorativos já são comercializados em várias regiões do País e exportados para os EUA, Canadá, Alemanha, Itália e Espanha.
“Queremos melhorar cada vez mais o nosso trabalho para competir com o resto do País. Ganhar o prêmio mostra que estamos no caminho certo e que investir numa produção sustentável é um ótimo negócio”, conta a artesão Valéria Santos.
Para Paulo da Silva, da Fio Brasil Tecelagem (Muzambinho), que produz acessórios e peças decorativas de tecelagem, a premiação é um reconhecimento do esforço e dedicação ao trabalho. “Este prêmio vai trazer oportunidades, principalmente a chance de aumentarmos as vendas. E devemos tudo isso ao Sebrae/MG, que nos ofereceu capacitações e consultorias para melhorar cada vez mais o nosso produto”, conta Paulo.
Reciclagem
A criatividade dos mineiros vai longe. Até sucata de ferro vira artesanato. Em Curvelo e Araçuaí, 80 adolescentes de baixa renda da Cooperativa Dedo de Gente reproduzem personagens, animais e paisagens descritas por Guimarães Rosa utilizando sucata de ferro. “É um resgate cultural, que envolve fatores econômicos, sociais e o compromisso ambiental”, conta a gerente administrativa da cooperativa, Aline Fabrícia de Souza.
Reaproveitar o que não tem mais serventia virou o desafio de um grupo de 26 artesãs de Betim. Juntas elas formam a Cooperativa Futurarte, que dá oportunidade de trabalho a mulheres carentes da comunidade. Pelas mãos das artesãs, jornais, revistas e lonas viram bolsas, bandejas, relógios e pastas escolares.
Toda matéria-prima é doada pela comunidade e por empresas parceiras. As peças já são exportadas para Estados Unidos, Alemanha, França e Espanha. “Lá fora o artesanato produzido de forma sustentável ganha mais valor. O que seria lixo para muita gente para nós é fonte de trabalho”, explica a coordenadora da cooperativa, Graziele Pierazoll.
Outro exemplo de que sustentabilidade e qualidade podem andar juntas vem de Carangola. A artesã Simone de Oliveira percebeu que o filtro de café usado oferecia um efeito luminoso diferenciado e começou a produzir luminárias. O produto foi selecionados pela segunda vez pelo Prêmio Top 100 de Artesanato. “É uma maneira barata, lucrativa e ecologicamente correta de fazer artesanato”, comenta Simone.
Já a artesã Sandra Monteiro ganhou pela primeira vez o prêmio. Ela representa a Associação Uberabense de Artesãos e Artistas. Sandra e o marido reproduzem fachadas de estabelecimentos comerciais das décadas de 20 a 40 utilizando retalhos de papelão e material reciclado. Em sete anos de trabalho, eles produziram 28 modelos. Os produtos são comercializados para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Alagoas e Goiás.