Pequenos produtores aprendem a guardar agrotóxicos de maneira correta e a economizar adubo e defensivo
Niza Souza – O Estado de S.Paulo
Para melhorar a qualidade do café e se adequar às exigências da certificação Utz, os cafeicultores que participam do projeto contam com um importante aliado: a assistência gratuita de técnicos e agrônomos. Na maioria dos casos, diz o consultor José Luiz Monteiro, a certificação não exige grandes investimentos.
No sítio da família Olivotto, tudo é muito simples, funcional e está dentro dos padrões. As principais mudanças foram a construção de um cômodo para armazenar defensivos, feito com material reaproveitado. Hoje, o galpão é usado só para os agrotóxicos e, para ninguém esquecer dos cuidados que os produtos exigem, as paredes exibem lembretes por toda a parte sobre o manejo correto. Há até um passo a passo de como vestir os equipamentos de proteção individual, que passaram a fazer parte da rotina no sítio.
Mas é o processo, ou a burocracia, para manter a rastreabilidade da produção que exigiu mais da família. “Foi a parte mais difícil. Temos um fichário onde anotamos tudo o que é feito na lavoura. O técnico ensinou a dividir a plantação em talhões, para facilitar o controle. Agora que temos uma rotina está mais fácil”, diz.
Além de organizar melhor a produção, as orientações dos técnicos foram fundamentais para reduzir o uso de defensivos. “Usávamos mais do que o necessário. Este ano, por exemplo, gastamos apenas 1 quilo de defensivo por hectare contra a broca, o bicho mineiro e a ferrugem. Em outras épocas, usávamos 7 quilos. E é um produto caro, custa R$ 400 o quilo.”
BUROCRACIA
Próximo dali, no Sítio São José, o cafeicultor Benedito Vasconcellos, que faz parte do projeto desde 2007, cultiva 6 hectares. No ano passado, após cumprir as regras, ele obteve a certificação Utz. Assim como no sítio de Olivotto, o mais complicado foi se adaptar à burocracia. “Com o tempo, pegamos prática”, diz ele.
“O mais importante foi a assistência técnica. Hoje, por exemplo, sempre faço análise de solo; aplico somente o adubo necessário e consegui reduzir o custo de produção.”
Outra orientação dos técnicos, diz Vasconcellos, foi o manejo de esqueletamento, uma poda drástica. “Nunca havia feito. Tinha receio de perder tudo”, diz, lembrando que alguns pés de café com cerca de 14 anos já estavam perdendo a produtividade. “Fiz o manejo e eles voltaram a produzir.”
Vasconcellos também passou a trabalhar com a chamada safra zero, sob orientação dos agrônomos do projeto. No ano em que o cafezal produz menos, ele não colhe. “No ano seguinte, a produtividade mais que dobra. Além disso economizo na adubação.”
Na vizinha Amparo, o produtor Ageu Pagan e sua mulher, Neli, cuidam sozinhos do cafezal de 2 hectares. As melhorias começaram com a renovação da lavoura, em 2003. Três anos depois, eles foram certificados. “Com a certificação, além de o sítio estar mais limpo e organizado, meu café se valorizou. Cheguei a receber R$ 40 a mais por saca”, diz o produtor, que optou por investir um pouco mais, cerca de R$ 4 mil, na organização da propriedade. “Construí os cômodos para guardar os agrotóxicos e um banheiro externo, forrei a tulha para armazenar os grãos e comprei os EPIs. E também faço coleta seletiva do lixo”, diz.
A melhoria dos grãos produzidos na região a partir do projeto Qualidade do Café também começa a dar mais lucro para os produtores. Por iniciativa da Sara Lee, foi criada a marca Café do Ponto – Safra Social. A Empresa Quota Mille, de Serra Negra, compra o produto dos agricultores que fazem parte do projeto e repassa para a Sara Lee, que beneficia, mói e embala para venda por um preço diferenciado. O produto, um blend (mistura de grãos especiais), é preparado exclusivamente com os grãos cultivados pelos produtores do projeto.
INFORMAÇÕES: Quota Mille, tel. (0–19) 3892-3025