O consumo interno brasileiro de café alcançou 17,66 milhões de sacas de 60 kg em 2008, representando um aumento de 3,21% em relação ao ano anterior, que foi de 17,11 milhões de sacas. O resultado faz parte da pesquisa divulgada ontem pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que revela que o mercado interno de café cresceu 550 mil sacas no ano passado.
O desempenho, no entanto, está abaixo da expectativa inicial da Abic, que indicava a demanda de 18,1 milhões de sacas. Segundo a Abic, o consumo apresentou pequeno crescimento no primeiro e no quarto trimestres do ano, apesar de o preço do produto não ter evoluído. Com este resultado, a meta da Abic para o consumo interno em 2010 que é de 21 milhões de sacas, ficou mais distante. A entidade projetava taxas de crescimento anual entre 5% e 6% a partir de 2004.
Segundo a Abic, o consumo de 17,66 milhões de sacas em 2008 exigiria um crescimento de 19% em 2009 e 2010, o que parece ser difícil de ser alcançado. Em comunicado, a associação explica que o desafio é grande porque o café já é consumido por mais de 97% dos brasileiros com mais de 15 anos de idade.
Outro problema, é a situação mundial. Segundo o presidente da Abic, Almir José da Silva Filho, o consumo não deve cair em 2009, mas é justo que se espere uma redução na velocidade de crescimento, por causa dos efeitos da crise econômica. Assim, a Abic deverá rever a meta de 21 milhões de sacas para entre 2011 e 2012.
Para 2009, a associação projeta um consumo de 18,2 milhões de sacas, uma alta de 3%, o que significa um consumo moderado, de acordo com o diretor-executivo da associação, Nathan Herszkowicz. “O consumo de café parece que não vai crescer tão rapidamente quanto eram nossas expectativas até o ano passado. Mas a Abic continua acreditando que o consumo da bebida deve evoluir. Talvez um pouco mais modestamente”, disse.
De acordo com Nathan, o fato de o preço do produto final não ter se valorizado significativamente nos últimos anos inibiu as margens das empresas e o lucro final tem sido muito pequeno. “Todo o corte de custo e ganho de produtividade foi anulado porque o preço não evoluiu. Estamos incentivando parte da indústria do setor a migrar para mercados de maior valor agregado, pois essa é uma das ferramentas do setor para se defender de margens cada vez menores”, afirmou.
Segundo Herszkowicz, desde o advento do Plano Real, em 1994, o preço do café na prateleira do varejo cresceu apenas 30%. O aumento é visto pelo setor como um déficit, já que o incremento no valor da cesta básica nesse mesmo período foi de 260% e o acréscimo no custo de produção da indústria foi de aproximadamente 45% – de R$ 6 o quilo para um custo que hoje varia entre R$ 8,5 a R$ 9 o quilo.
Nathan deu destaque ainda ao aumento da entrada de café de outras origens no Brasil, o que pode trazer desvantagens competitivas às indústrias locais. “Há uma grande demanda por esses produtos por uma questão de diferenciação e originação e hoje nós não podemos concorrer”. Em apenas um ano (de 2007 para 2008), as importações de café aumentaram de US$ 2,5 milhões para US$ 6 milhões aproximadamente, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.
A pesquisa da Abic mostra ainda que a concentração no setor vem se acentuando. Segundo os dados do levantamento, as 10 maiores empresas respondem por 71,87% da produção total das associadas da Abic, em comparação com 71,01% na pesquisa anterior. Já as 307 menores empresas tiveram a participação reduzida de 7,32% para 6,79% no período.
Exportações
Se no mercado doméstico a avaliação não é das melhores, as perspectivas quanto às exportações são otimistas. A previsão é a de que haja um aumento nos embarques de 130 mil para 160 mil sacas de torrado e moído em 2009, atingindo uma receita de US$ 42 milhões.
Para garantir um bom desempenho em 2009 a Abic está prospectando novos mercados, já que o consumo nos Estados Unidos e Europa, para onde vai 70% do torrado e moído exportado pelo Brasil, já está próximo da estagnação.
A Abic pretende intensificar os negócios com a Turquia e Cingapura, países onde foram feitos estudos que mostram que apesar de o consumo local ser relativamente baixo, são importantes reexportadores de café. “Eles funcionariam como centros de distribuição, importariam café torrado e moído do Brasil e reexportariam”, explica Herszkowicz.
No ano passado, a parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) ajudou as vendas externas desse segmento de café a crescerem 37%, de US$ 26 milhões para US$ 35,6 milhões. Este ano o convênio entre a Abic e a Apex deve garantir a continuidade da expansão. As duas entidades estão juntas no projeto que levará a marca Cafés do Brasil junto à alta gastronomia mundial, promovendo o café brasileiro em eventos desse segmento.