O diretor-executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Néstor Osorio, admitiu hoje que a crise global pode desacelerar o consumo de café. Até então, a avaliação era a de que os problemas econômicos não teriam efeito sobre o produto, protegido pelo fato de pesar pouco nos gastos dos consumidores.
Segundo Osorio, existe a possibilidade de o crescimento do consumo de café recuar este ano dos 2,5% apresentados anteriormente para 1,5%. Osorio ressaltou, entretanto, que ainda é preciso aguardar para ter uma avaliação mais precisa dos impactos da crise sobre o setor. Ele reiterou que, por enquanto, não foi verificado um efeito específico.
Mas, durante as discussões na 102ª reunião anual da OIC, realizada durante esta semana, surgiram avaliações de que o segmento de cafés mais caros pode ser afetado se os consumidores passarem a gastar menos nas cafeterias. Em compensação, o varejo está reagindo agressivamente com promoções. “Os cenários estão mudando a cada dia, é preciso avaliar”, disse.
Mesmo se a desaceleração do consumo de café se efetivar, está mantida a previsão de déficit na relação entre oferta e demanda do setor, o que tende a sustentar o preço. “Não será um déficit crítico, deve ficar entre 3 milhões e 6 milhões de sacas, mas o mercado ficará apertado.”
Osorio lembrou que as chuvas excessivas estão prejudicando a produção da Colômbia. Além disso, a colheita do Brasil recuará para cerca de 38 milhões de sacas este ano, o que representa uma queda de 20%, depois da safra mais volumosa do ano passado.
Financiamento
Outra questão importante é a dificuldade de financiamento enfrentada pelos produtores diante da crise de liquidez internacional. “Essa é uma das principais razões que impedem o aumento da produção”, disse Osorio. Segundo ele, os governo têm atuado para financiar os produtores, já que os bancos estão apertados.
Com a crise, o setor também pode presenciar mudanças na quantidade de mão de obra. Osorio disse que os países da América Latina estão constatando a volta de trabalhadores que deixaram a produção de café entre 2003 e 2004 para migrar para os Estados Unidos. Agora, com a recessão norte-americana, essas pessoas começam a retornar. “Há dois anos, a falta de pessoal era uma preocupação para o setor”, lembrou.