Contra crise, indústria de café encolhe

19 de março de 2009 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: DCI - Priscila Machado

(19/03/2009 08:22)


Após um crescimento do consumo abaixo do esperado em 2008 (3,21%), as indústrias de café reveem a meta para este ano e intensificam o movimento de downsize – o enxugamento da estrutura física para se voltar a mercados mais remuneradores – como uma das alternativas para fugir da crise.

De acordo com Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o fato de o preço do produto final não ter se valorizado significativamente nos últimos anos inibiu as margens das empresas e o lucro final tem sido muito pequeno. “Todo o corte de custo e ganho de produtividade foi anulado porque o preço não evoluiu”, Herszkowicz.
“Estamos incentivando parte da indústria do setor a migrar para mercados de maior valor agregado”, acrescenta o diretor executivo da Abic. “Essa é uma das ferramentas do setor para se defender de margens cada vez menores”, completou.


Segundo Herszkowicz, desde o advento do Plano Real, em 1994, o preço do café na prateleira do varejo cresceu apenas 30%. O aumento é visto pelo setor como um déficit, já que o incremento no valor da cesta básica nesse mesmo período foi de 260% e o acréscimo no custo de produção da indústria foi de aproximadamente 45% – de R$ 6 o quilo para um custo que hoje varia entre R$ 8,5 a R$ 9 o quilo.


Para amenizar a situação do setor, Herszkowicz acredita que apenas o downsize das indústrias é pouco. Além de continuar ampliando a participação dos cafés superiores no mix das empresas é necessário outras estratégias para reduzir custos. Entre elas, o diretor-executivo da Abic exemplifica a compra conjunta por pequenas e médias empresas de matéria-prima e de embalagem.


O representante da indústria destacou ainda o aumento da entrada de café de outras origens no Brasil, o que poderá acarretar num cenário em que as indústrias locais não poderão competir. “Há uma grande demanda por esses produtos por uma questão de diferenciação e originação e hoje nós não podemos concorrer”. Em apenas um ano (de 2007 para 2008), as importações de café aumentaram de US$ 2,5 milhões para US$ 6 milhões aproximadamente, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.


Desempenho


Os indicadores da indústria de café mostram que a crise já alterou o cenário de produção e consumo no País. No ano-base 2008 (de novembro de 2007 a outubro de 2008), a Abic registrou um consumo da ordem de 17,66 milhões de sacas, o que representa uma alta de 3,2% em relação ao período anterior. No entanto, o resultado é inferior à expectativa inicial da entidade, que apontava para uma demanda de 18,1 milhões de sacas para o último ano. A Abic já admite que a meta de 21 milhões de sacas prevista para 2010, proposta em 2004, fica ainda mais distante. Para obter esse resultado seria necessário que neste ano e no próximo o consumo interno tivesse um incremento de 19%. Para 2009, a Associação projeta um crescimento em torno de 3%.


Exportações

Se no mercado doméstico a avaliação não é das melhores, as perspectivas quanto às exportações são otimistas. A previsão é a de que haja um aumento nos embarques de 130 mil para 160 mil sacas de torrado e moído em 2009, atingindo uma receita de US$ 42 milhões.
Para garantir um bom desempenho em 2009 a Abic está prospectando novos mercados, já que o consumo nos Estados Unidos e Europa, para onde vai 70% do torrado e moído exportado pelo Brasil, já está próximo da estagnação.

A Abic pretende intensificar os negócios com a Turquia e Cingapura, países onde foram feitos estudos que mostram que apesar de o consumo local ser relativamente baixo, são importantes reexportadores de café. “Eles funcionariam como centros de distribuição, importariam café torrado e moído do Brasil e reexportariam”, explica Herszkowicz.

No ano passado, a parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) ajudou as vendas externas desse segmento de café a crescerem 37%, de US$ 26 milhões para US$ 35,6 milhões. Este ano o convênio entre a Abic e a Apex deve garantir a continuidade da expansão. As duas entidades estão juntas no projeto que levará a marca Cafés do Brasil junto à alta gastronomia mundial, promovendo o café brasileiro em eventos desse segmento.

O primeiro deverá acontecer no Chile onde haverá no próximo ano o principal acontecimento mundial de alta gastronomia e o Brasil será o principal patrocinador do evento.


 


 

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Contra crise, indústria de café encolhe

Por: DCI

19/03/09 SÃO PAULO – Após um crescimento do consumo abaixo do esperado em 2008 (3,21%), as indústrias de café reveem a meta para este ano e intensificam o movimento de downsize – o enxugamento da estrutura física para se voltar a mercados mais remuneradores – como uma das alternativas para fugir da crise.


De acordo com Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o fato de o preço do produto final não ter se valorizado significativamente nos últimos anos inibiu as margens das empresas e o lucro final tem sido muito pequeno. “Todo o corte de custo e ganho de produtividade foi anulado porque o preço não evoluiu”, Herszkowicz.


“Estamos incentivando parte da indústria do setor a migrar para mercados de maior valor agregado”, acrescenta o diretor executivo da Abic. “Essa é uma das ferramentas do setor para se defender de margens cada vez menores”, completou.


Segundo Herszkowicz, desde o advento do Plano Real, em 1994, o preço do café na prateleira do varejo cresceu apenas 30%. O aumento é visto pelo setor como um déficit, já que o incremento no valor da cesta básica nesse mesmo período foi de 260% e o acréscimo no custo de produção da indústria foi de aproximadamente 45% – de R$ 6 o quilo para um custo que hoje varia entre R$ 8,5 a R$ 9 o quilo.


Para amenizar a situação do setor, Herszkowicz acredita que apenas o downsize das indústrias é pouco. Além de continuar ampliando a participação dos cafés superiores no mix das empresas é necessário outras estratégias para reduzir custos. Entre elas, o diretor-executivo da Abic exemplifica a compra conjunta por pequenas e médias empresas de matéria-prima e de embalagem.


O representante da indústria destacou ainda o aumento da entrada de café de outras origens no Brasil, o que poderá acarretar num cenário em que as indústrias locais não poderão competir. “Há uma grande demanda por esses produtos por uma questão de diferenciação e originação e hoje nós não podemos concorrer”. Em apenas um ano (de 2007 para 2008), as importações de café aumentaram de US$ 2,5 milhões para US$ 6 milhões aproximadamente, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.


Desempenho


Os indicadores da indústria de café mostram que a crise já alterou o cenário de produção e consumo no País. No ano-base 2008 (de novembro de 2007 a outubro de 2008), a Abic registrou um consumo da ordem de 17,66 milhões de sacas, o que representa uma alta de 3,2% em relação ao período anterior. No entanto, o resultado é inferior à expectativa inicial da entidade, que apontava para uma demanda de 18,1 milhões de sacas para o último ano. A Abic já admite que a meta de 21 milhões de sacas prevista para 2010, proposta em 2004, fica ainda mais distante. Para obter esse resultado seria necessário que neste ano e no próximo o consumo interno tivesse um incremento de 19%. Para 2009, a Associação projeta um crescimento em torno de 3%.


Exportações


Se no mercado doméstico a avaliação não é das melhores, as perspectivas quanto às exportações são otimistas. A previsão é a de que haja um aumento nos embarques de 130 mil para 160 mil sacas de torrado e moído em 2009, atingindo uma receita de US$ 42 milhões.


Para garantir um bom desempenho em 2009 a Abic está prospectando novos mercados, já que o consumo nos Estados Unidos e Europa, para onde vai 70% do torrado e moído exportado pelo Brasil, já está próximo da estagnação.


A Abic pretende intensificar os negócios com a Turquia e Cingapura, países onde foram feitos estudos que mostram que apesar de o consumo local ser relativamente baixo, são importantes reexportadores de café. “Eles funcionariam como centros de distribuição, importariam café torrado e moído do Brasil e reexportariam”, explica Herszkowicz.


No ano passado, a parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) ajudou as vendas externas desse segmento de café a crescerem 37%, de US$ 26 milhões para US$ 35,6 milhões. Este ano o convênio entre a Abic e a Apex deve garantir a continuidade da expansão. As duas entidades estão juntas no projeto que levará a marca Cafés do Brasil junto à alta gastronomia mundial, promovendo o café brasileiro em eventos desse segmento.


O primeiro deverá acontecer no Chile onde haverá no próximo ano o principal acontecimento mundial de alta gastronomia e o Brasil será o principal patrocinador do evento.


Depois do crescimento do consumo abaixo do esperado em 2008 – na casa dos 3,2% -, as indústrias de café reveem a meta para este ano e intensificam o encolhimento das operações: estrutura física mais enxuta voltada a mercados mais remuneradores. “Estamos incentivando parte da indústria do setor a migrar para mercados de maior valor agregado”, diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Além de incentivar a ampliação da participação dos cafés superiores no mix das empresas, Herszkowicz exemplifica a compra conjunta por pequenas e médias empresas de matéria-prima e de embalagem. Ele destaca o aumento da entrada de cafés estrangeiros no Brasil, o que poderá acarretar um cenário no qual as indústrias locais não poderão competir.


Priscila Machado
 

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