(18/02/2009 09:36)
A alta das cotações do café, desencadeada pela queda da oferta, ameaça as empresas americanas Starbucks Corp., Kraft Foods Inc. e fundos de hedge que apostaram na queda dos preços. A demanda por café deverá ultrapassar a oferta em 8 milhões de sacas de 60 quilos no ano que vem – volume quase equivalente ao consumo de toda a Alemanha -, e os estoques dos exportadores estão no nível mais baixo desde 1965, disse a Organização Internacional do Café (OIC).
Os contratos futuros de café Arábica deverão dar um salto de 25% este ano, depois de cair pela primeira vez desde 2001, com a redução da safra do Brasil e da Colômbia, os dois principais produtores do Hemisfério Ocidental, disse o Goldman Sachs Group Inc.. “Prevemos a alta dos preços do café em 2009”, disse Sandra Bachofer, co-gestora de US$ 1,2 bilhão no suíço Tiberius Group. “Nossa projeção é de que o café será uma das commodities mais promissoras de 2009”.
As expectativas de uma recuperação mostram o que acontece quando mercados futuros impulsionados por especuladores colidem com a relação oferta-demanda do mundo real. A alta, se concretizada, puxará para cima os custos da Starbucks, sediada na cidade norte-americana de Seattle, e da Maxwell House, controlada pela Kraft Foods, ao mesmo tempo em que enriquecerá os países produtores e aumentará a receita das exportações de nações como Vietnã e Brasil.
Embora o Fortis Bank diga que a recessão deverá paralisar a demanda e conter os preços, o café subiu 2,3% este ano, para US$ 1,1465 a libra-peso, na ICE Futures U.S. Os contratos para entrega em dezembro indicam que a alta vai prosseguir.
Judith Ganes-Chase, ex-analista da Merrill Lynch & Co. que dirige uma consultoria em Katonah, no Estado de Nova York, disse que o café poderá subir até 52%, para US$ 1,70, até 30 de junho.
O Morgan Stanley prevê uma média de US$ 1,41 a libra-peso no ano-safra que começa em 1 de outubro, e o Goldman Sachs projeta cotação de US$ 1,40 a libra-peso em 12 meses.
A Starbucks prevê que os custos com café no ano a encerrar-se a 30 de setembro vão corroer as vantagens da queda dos preços dos laticínios. A empresa informou que seu custo sobre as vendas do primeiro trimestre subiram 2,9 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a Kraft, a segunda maior empresa de produtos alimentícios do mundo, elevou os preços do café Maxwell House por duas vezes no início de 2008, com a alta do custo do grão, seguida por três reduções.
A alta dos preços deverá prejudicar os fundos de hedge e outros grandes especuladores, que venderam 19.379 contratos futuros, avaliados em mais de US$ 864 milhões, em dados do último dia 10 de fevereiro, com base no contrato para entrega em maio, numa aposta de que os preços cairiam, segundo mostram dados da Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities (CFTC, pelas iniciais em inglês).
O café caiu 14% no quarto trimestre do ano passado na bolsa ICE, apesar de o ágio pelos grãos colombianos em relação aos contratos futuros mais negociados em Nova York ter saltado 54%, refletindo a demanda numa época em que os investidores fugiram das bolsas de commodities. O número de contratos não-exercidos, ou pendentes, caiu quase 10%. “O café caiu vítima de grandes liquidações por parte dos fundos” realizadas no ano passado, disse Roland Veit, presidente da importadora Paragon Coffee Trading Co. sediada no Estado de Nova York. “O mercado de café foi puxado excessivamente para baixo por motivos não-ligados aos fundamentos econômicos” (relação oferta-demanda). Os compradores do mercado à vista “começaram a ignorar” os contratos futuros que não refletiam a relação oferta-demanda, disse ele.