A crise global já atingiu as exportações brasileiras duramente a partir de outubro. O volume de vendas externas do país recuou 8,7% no quarto trimestre de 2008 em relação a igual período de 2007 – um resultado bem pior que a queda de 0,8% de janeiro a setembro, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Por conta do desempenho negativo do fim do ano, a quantidade exportada caiu 2,5% em 2008. É a primeira queda desde 1995, quando foi implantado o Plano Real e a paridade entre a moeda local e o dólar prejudicou a competitividade da indústria. Antes da crise global, os economistas apostavam em estabilidade do volume exportado em 2008.
Os analistas acreditam que as perdas devem se aprofundar no primeiro trimestre deste ano, que será o fundo do poço para as exportações brasileiras. Segundo Fernando Ribeiro, economista da Funcex, esse período é sazonalmente ruim para as exportações brasileiras, e muitos países estão gastando estoques enquanto avaliam a economia. “Os efeitos da crise começaram no fim do ano, mas serão captados totalmente agora”, disse Thaís Zara, economista da Rosemberg.
A queda do volume exportado chegou a 11,4% nos semimanufaturados e a 10,4% nos manufaturados no quarto trimestre de 2008. No ano, a queda ficou em 0,8% e 5%, respectivamente. Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, chamou a atenção que até a quantidade exportada de básicos recuou 5% no último trimestre de 2008. “Foi por causa da crise, que reduziu até a compra de commodities. A China também deixou de importar minério de ferro em uma queda de braço com a Vale do Rio Doce”, disse. Até setembro, o volume exportado de básicos subia 1,5%. Após o fraco quarto trimestre, terminou o ano estável.
Alguns setores apuraram quedas expressivas no volume exportado em 2008 em relação a 2007. É o caso de automóveis
(-26,4%), vestuário (-27,1%), couro e calçados (-24,5%) e produtos de madeira (33,5%). Apenas cinco setores entre 24 registraram alta na quantidade exportada, o que demonstra que o prejuízo se disseminou na economia.
Para Thaís, da Rosemberg, as quantidades exportações recuaram, mas o principal impacto da crise para as exportações brasileiras no último trimestre do ano passado foi o preço. Os dados da Funcex indicam que, em comparação com o quarto trimestre de 2007, os preços de exportação subiram 17,2%. A estatística, no entanto, esconde a abrupta queda que ocorreu no fim do ano.
Em relação ao pico registrado em agosto, os preços de exportação caíram 19% até dezembro. Nos produtos básicos, a queda chegou a 29% e, nos semimanufaturados, a 29%. Nos manufaturados, foi bem menor: apenas 7,8%. Para Ribeiro, os preços estão voltando para os níveis verificados antes da “bolha” do primeiro semestre de 2008, que elevou as cotações das commodities agrícolas e metálicas a um patamar recorde.
Segundo André Sacconato, economista da Tendências Consultoria, a dinâmica de exportações e importações é um pouco diferente na balança comercial. Ele acredita que a queda de preços de commodities atingiu em cheio a exportação, enquanto a importação sofreu apenas com a desaceleração da quantidade. Sacconato acredita que pode ocorrer uma inversão no decorrer do ano, o que prejudicaria mais as importações e favorecia o saldo comercial.
A quantidade importada pelo país ainda registrou alta de 5,3% no quarto trimestre de 2008, mas a desaceleração é significativa quando comparada ao aumento de 22,4% do acumulado janeiro a setembro. Mesmo assim, o volume adquirido no exterior teve um desempenho bastante positivo no ano passado, com alta de 17,7% em relação a 2007.
A crise atingiu a importação de bens intermediários e de bens de consumo duráveis. O volume importado de matérias-primas pelas empresas cresceu 3,2% no quarto trimestre, abaixo dos 22,5% do acumulado até setembro. Em bens de consumo duráveis, a alta foi de 7,8% no quarto trimestre, bem menor que os 62,4% de janeiro a setembro.
Os preços de importação também recuaram por conta da turbulência internacional, mas em menor intensidade que as exportações, por conta da natureza da pauta comercial do Brasil, que importa majoritariamente industrializados e exporta commodities. Entre o pico de julho e dezembro, os preços de importação caíram 13,9% (RL)