Mônica Scaramuzzo, de São Paulo
O índice de inadimplência no Banco do Brasil deverá encerrar este ano em até 3%, ante os 4,61% registrados no ano passado. A queda da inadimplência ocorre em um momento crítico para os agricultores, que enfrentam escassez de crédito no mercado. Luiz Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócios do BB, atribui o bom resultado ao refinanciamento das dívidas dos agricultores, sobretudo as roladas pelos produtores de grãos do Centro-Oeste do país.
Até junho deste ano, o índice de inadimplência estava em 2,27%. No ano passado, encerrou em 4,61%. Em 2006, ficou em 2,78%, contra 5,09% em 2005, período mais crítico para os produtores de grãos, que enfrentaram àquela época baixos preços das commodities no mercado internacional e desvalorização do dólar sobre o real.
Para computar esse índice, o BB considera os valores em atraso em até 15 dias. O não-pagamento corresponde a dívidas antigas e as contraídas pelo menos há mais de um ano. O Banco do Brasil é tradicionalmente o maior agente financiador da agricultura – até junho deste ano respondeu por 62,7% dos recursos liberados ao campo.
Analistas ouvidos pelo Valor consideram “artificial” a redução do índice de inadimplência deste ano. “Com a rolagem das dívidas, os produtores postergam o problema”, afirmou José Carlos Hausknesht, analista de agronegócios da MB Agro.
Além da escassez de crédito dos bancos, os agricultores também estão com limitação de financiamento por parte das tradings e tradicionais companhias do setor agrícola, sobretudo as de grãos, que costumam emprestar recursos para financiar a safra.
Em junho, o governo anunciou um megapacote de refinanciamento de dívidas, com o financiamento de R$ 75 bilhões. Os produtores de grãos do Centro-Oeste do país foram os mais atingidos pela crise no campo, como resultado dos altos custos de produção e baixos preços das commodities.
Segundo Guedes Pinto, o Banco do Brasil está mais rigoroso nas análises de crédito ao campo, mas o maior critério para conceder financiamento não está impedindo o aumento dos desembolsos nesta safra. De julho a novembro deste ano, o BB liberou 14,647 bilhões para a agricultura, um aumento de 31,3% sobre igual período do ano passado. Para agricultura familiar, foram liberados R$ 3,335 bilhões, alta de 18%. Para a agricultura empresarial, os desembolsos totalizaram R$ 11,32 bilhões, elevação de 35,8%. A aplicação destes recursos será custeio, investimento e comercialização da safra.
O maior desembolso ao campo nesta safra foi favorecido pela liberação recente de R$ 5 bilhões em crédito para a agricultura pelo Banco do Brasil, observou Guedes Pinto. O governo decidiu injetar mais recursos como uma das medidas para evitar o contágio da crise americana sobre o crédito produtivo no Brasil.
Para esta safra 2008/09, o governo federal anunciou a destinação de R$ 65 bilhões para o financiamento da agricultura empresarial. Desse total, R$ 55 bilhões serão emprestados pelos bancos com taxas subsidiadas pelo caixa da União.