A balança comercial do Espírito Santo vai fechar o ano de 2008 com forte crescimento dos negócios. Até outubro, as exportações somavam quase US$ 8,7 bilhões, valor que já superava em 26% o total obtido em 2007, de US$ 6,9 bilhões. As importações também registraram forte expansão, para US$ 7,1 bilhões, nos dez primeiros meses do ano, 7,8% acima dos US$ 6,6 bilhões de todo o ano passado. O saldo da balança comercial acumulava resultado positivo de US$ 1,5 bilhão. “O ano foi vigoroso e, qualquer que seja o resultado dos três últimos meses, vamos registrar um crescimento histórico”, afirma Severiano Imperial, presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex). “Daí para a frente, a gente não tem como prever”, acrescenta.
O setor é um dos mais organizados dentro da economia capixaba e vem crescendo com vigor desde a abertura comercial, na década de 90. “O empresariado tem feito a sua parte. Nos últimos cinco anos, investiu-se muito na infra-estrutura de logística, a capacidade de armazenagem cresceu 35%, houve um grande avanço na tecnologia e na capacitação de pessoas”, diz Imperial. O que falta, segundo ele, são os projetos prometidos pelo governo em infra-estrutura portuária, estradas e aeroporto. “Temos experiência, gente capacitada e organização para ampliar o setor. Mas é preciso acabar com esses gargalos”, completa.
O forte do comércio exterior do Espírito Santo vem das vendas das chamadas “grandes plantas”, unidades industriais construídas no Estado, entre os anos 70 e 80, voltadas exclusivamente ao mercado internacional. As indústrias de aço, minério de ferro/pelotas e celulose representam mais de 85% do volume total de exportação. O restante é dividido entre o tradicional café e outros, categoria que inclui de rochas e granitos a frutas e grãos. A importação também é capitaneada pela indústria exportadora, que importa insumos e equipamentos em grande quantidade, corn destaque para o carvão mineral.
A localização e a natureza da costa .avoreceram a implantação de um sistena portuário eficiente, especialmente o ara atender as grandes indústrias.
Cada uma delas tem um porto específico para seu negócio. Mas o Porto de Vitória também conseguiu crescer e se modernizar a partir da abertura comercial no início da década de 90. Esse movimento foi favorecido pelo fato de Espírito Santo oferecer um benefício financeiro e fiscal para importadores, desde a década de 70, o Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap).
Esse fundo foi criado em 1970 com o objetivo de incrementar as atividades de comércio exterior no Espírito Santo, oferecendo incentivo financeiro às tradings importadoras sediadas no Estado. A idéia era aproveitar a infra-estrutura portuária já existente, para impulsionar negócios voltados à importação. Até então, o Estado só exportava, não importava nada. Além de impulsionar o comércio exterior, esse incentivo atraiu os grandes projetos e permitiu a criação de uma infra-estrutura de logística, com empresas que vão de grandes armazéns alfandegados a pequenos despachantes.
Um dos desafios para o próximo ano será barrar a aprovação da reforma fiscal que, da forma como está proposta, extingue o Fundap, o que poderia trazer sérios prejuízos ao setor. “Não faz sentido terminar com o Fundap e manter benefícios concedidos em outros Estados. Queremos um mínimo de igualdade de tratamento”, diz Imperial.
Nem a crise nem o risco de extinção do Fundap, no entanto, abalam a confiança das grandes empresas do setor. Para o Grupo Coimex, que tem investido em logística, a crise financeira mundial é vista como uma oportunidade para o Brasil tirar o atraso em relação à demanda de infra-estrutura. “Estávamos quase chegando ao limite em transportes, logística e energia. A manutenção do ritmo de crescimento poderia nos levar a um gargalo no crescimento que aumentaria o custo Brasil e colocaria em xeque a nossa competitividade”, afirma Orlando Machado, vice-presidente da holding Coimexpar, que administra os negócios do grupo. Para ele, a redução do ritmo em 2009, inevitável, dará tempo para o Brasil intensificar projetos em portos, ferrovias, rodovias e energia, preparando o país para a nova onda de crescimento.
Nascido e criado em solo capixaba e no setor de comércio exterior, o Grupo Coimex diversificou sua área de atuação e ultrapassou divisas e fronteiras. Sobretudo nos últimos 20 anos, o grupo tem atuado diretamente no setor de logística, buscando sinergia para o seu negócio tradicional, o comércio exterior. Hoje, os dois segmentos têm peso equilibrado no patrimônio do grupo. “Foi um movimento natural”, diz Machado. “Além de complementares, os dois setores são estratégicos para o desenvolvimento do Brasil, e por isso apresentam boas oportunidades de negócios. O objetivo é crescer contribuindo para a competitividade do país e das empresas dos diversos setores.”
Fundado há 59 anos, o Coimex é o quarto maior grupo do Estado, de acordo com ranking elaborado pelo Valor Data. Em 2007, sua receita líquida somou mais de R$ 1,8 bilhão. Sua carteira inclui dez empresas, entre controladas e coligadas, com presença em todos os Estados brasileiros e em cinco continentes.
O principal projeto do grupo em curso é a construção ela Embraport, que será o maior terminal portuário privado do país, com 1 milhão ele metros quadrados e capacidade para movimentar 1,2 milhão de con têineres, além de 4 milhões de metros cúbicos de granéis líquidos de álcool. Para realizar o investimento total, de US$ 900 milhões, o Grupo Coimex passou a contar, desde outubro, com a participação do Fundo de Investimento do FGTS. Criado junto com o PAC, em 2007, o fundo adquiriu um terço de participação no empreendimento, que deverá ser finalizado até o segundo semestre de 2011.
Outras duas empresas importantes do grupo no setor de logística – a Tegma e a CPW – tiveram um ano de consolidação e crescimento em 2008. “A Tegma está colhendo os frutos do processo de fortalecimento da empresa realizado em 2007, que culminou com a abertura de capital, no Novo Mercado da Bovespa””, diz Machado. A empresa, que já liderava o segmento de transportes de veículos, foi integrada à CLI, do setor de armazenagem, e à Boni/GATX, de transportes para o segmento químico e petroquímico.
Já a CPW está realizando, atualmente, primeiro plano de expansão. Inaugurada em 2000, a empresa opera um porto especializado em serviços de apoio offshore às atividades de exploração de petróleo nas bacias do Espírito Santo e de Campos. “A recente queda no preço do petróleo não muda a perspectiva de crescimento desse setor, já que é uma atividade estratégica para o Brasil. Vamos dar continuidade a esse investimento para crescer de acordo com a demanda”, diz o executivo.
Alinhada com a estratégia do grupo, a Coimex Trading, focada em exportação de commodities, está ampliando seus negócios via Espírito Santo, através da criação de uma logística nova para a exportação de etano. “Vamos iniciar, em breve, o uso do transporte ferroviário para escoar a produção de etanol de Minas Gerais até o Porto de Vitória. Além de reduzir custos, esse modal traz benefícios ambientais com a redução de emissão de gases de efeito estufa”, ressalta Olivier Colas, presidente da trading.
Maior importadora do Estado e uma das maiores do país, a Cisa Trading também não planeja recuos. “Nossa expectativa é de uma queda no movimento geral em 2009, mas nada que afete nosso plano de investimento”, diz Antonio Pargana, presidente da companhia, que está investindo ao redor de R$ 10 milhões na construção de um novo Centro de Distribuição, na região da Grande Vitória. Com área de 100 mil m2 , a estrutura é focada no atendimento aos segmentos de aço e minérios.
“O gargalo do Espírito Santo é a falta de um porto especializado em contêineres, não a crise”, diz Sérgio Tristão, presidente do grupo que reúne a maior exportadora de café do país, a Tristão Companhia de Comércio Exterior, e uma fábrica de café solúvel, a Real café. “O Porto de Vitória ainda está atendendo, mas de forma muito precária. O setor como um todo precisa se mobilizar para pensar nesse investimento, muito importante para o futuro do comércio exterior capixaba”, ressalta. Quanto aos investimentos do grupo, Sérgio Tristão antecipa que os planos são de ampliação da fábrica de café solúvel e até uma possível abertura de capital. “O setor de café não deve sentir muito a crise já que não sentiu também a euforia. Mas o momento é de cautela. No entanto, não vamos desistir de investir, apenas adiar”, garante.