Exportações do campo deverão cair em 2009

10 de dezembro de 2008 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: VALOR ECONÔMICO

Murillo Camarotto, Valor Online, de São Paulo


A escassez de crédito resultante da crise financeira internacional deverá levar as exportações do agronegócio brasileiro à primeira queda em dez anos. Ontem, durante encontro com produtores ocorrido em São Paulo, o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Célio Porto, admitiu que o governo espera para 2009 uma queda de 5% a 10% nas vendas externas, quando comparadas a este ano. A última retração nas exportações foi registrada em 1999, quando o montante ficou na casa dos US$ 21 bilhões. Ruy Baron/Valor


Segundo Célio Porto, secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura, embarques cairão de 5% a 10%


Apesar do recuo esperado, os números hoje são bem mais robustos. De acordo com dados divulgados ontem pelo ministério, o agronegócio brasileiro vendeu ao exterior US$ 71,67 bilhões nos doze meses encerrados em 30 de novembro último, valor 23,7% superior ao registrado um ano antes. Esse montante deve ficar bastante próximo ao que será apresentado no final deste ano. Com isso, consideradas as previsões do governo, as exportações em 2009 devem ficar entre US$ 64,5 bilhões e US$ 68 bilhões.


Na avaliação do secretário, o segmento de carnes será o mais afetado pela crise. Ele estima que as exportações desse segmento, considerado “mais sensível” à oferta de crédito”, poderão cair até 20% em 2009. Para os grãos é esperada uma retração menor, na casa dos 5%.


Célio Porto acredita que as carnes suína e bovina irão apresentar declínio mais acentuado, já que as aves costumam ter aceitação maior no mercado global, além de ser uma opção mais barata em tempos de crise.


O secretário, entretanto, não revelou estimativas específicas para cada segmento. Ele disse apenas que suas projeções já contemplam a desvalorização do real ante o dólar, observada desde o agravamento da crise financeira, em outubro último. O dólar mais caro ajudou o setor a compensar a queda observada nos preços internacionais das commodities, já que aumenta a receita das exportações em moeda local.


Porto também chamou a atenção para os insumos agrícolas. Ele lembrou que os preços desses produtos, especialmente os fertilizantes, não caíram no mesmo ritmo observado pelas commodities, o que também ajuda a desenhar o cenário desfavorável para as exportações, especialmente no caso das carnes. “Essa é uma questão bastante delicada, que nos preocupa muito”, disse o secretário.


Questionado sobre as estimativas do governo, o presidente da União Brasileira da Avicultura (UBA), Ariel Antônio Mendes, concordou que o acesso ao crédito será o maior desafio para as exportações em 2009. Ele informou que na última segunda-feira foi solicitada ao governo federal uma linha adicional de R$ 3 bilhões para o setor de aves. A idéia é que os recursos sejam direcionados justamente ao financiamento das vendas externas.


“O setor pede mais dinheiro para ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) e para capital de giro. Sabemos que o governo está sensível ao tema e que já liberou dinheiro, mas ainda está muito burocratizado”, criticou o dirigente. “Há poucos meses, os bancos corriam atrás das empresas e agora são as empresas que estão correndo atrás dos bancos. Continuamos sendo o mesmo setor, não temos tradição de inadimplência”, completou Mendes.


Apesar das queixas, ele acredita que o setor de aves experimentará queda em suas exportações apenas durante o primeiro trimestre do próximo ano. A seu ver, as vendas externas deverão cair algo próximo a 22% em relação aos três primeiros meses de 2008.


Porém, a partir de abril de 2009, Mendes enxerga uma retomada na oferta de crédito, que permitirá ao setor fechar o próximo ano com exportações 5% maiores do que as registradas neste exercício.


Já o segmento de bovinos tem visão mais pessimista. O pecuarista e presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, disse ver “com imensa preocupação” o cenário para as exportações em 2009. Mesmo sem arriscar projeções, ele acredita que haverá queda, puxada pelo consumo menor e, principalmente, pela restrição de crédito. “É muito difícil afirmar quanto vai cair”, afirmou o pecuarista.


 

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