Exportações recuam e não há maiores reclamações

28 de novembro de 2008 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: GAZETA MERCANTIL

28 de Novembro de 2008 – Entre as economias emergentes, o Brasil é sempre lembrado como um dos países que melhor aproveitaram o chamado “superciclo das commodities”, a alta recorde dos preços das matérias-primas e dos produtos básicos nos últimos anos. Porém, o conjunto de fatores que jogavam tanto a favor da economia brasileira começou a mudar. Os dados da Fundação Centro do Comércio Exterior (Funcex) mostraram que a comemorada alta de 17,4% das exportações brasileiras em outubro ocorreu exclusivamente baseada em preço. Enquanto o índice de preço das vendas externas cresceu 29,6% em relação a outubro de 2007, a quantidade exportada despencou 9,3% na mesma comparação.


Curiosamente, na ponta das importações, o quadro não é diferente. O aumento de 40,3% verificado em outubro ante o mesmo mês do ano passado esconde uma alta de preço, que foi 20,9% superior a outubro de 2007, e uma quantidade importada, que foi 15,6% maior na mesma comparação. Combustíveis tiveram, pelos números da Funcex, a maior alta nas importações, enquanto o maior salto na quantidade ocorreu com a importação de bens de capital. Vale notar também que os preços dos produtos importados caem mês a mês, desde julho.


A rigor, o quadro detectado pela Funcex, de perda de densidade em volume, já fez parte de alerta semelhante da Organização Mundial do Comércio (OMC). O relatório anual da OMC divulgado na primeira semana de novembro prevê que as exportações brasileiras devem passar por “tempos difíceis” com a crise internacional e a queda de preços nas commodities. Por esse relatório, o Brasil ocupa a 24posição entre os maiores exportadores, alcançando a fatia de 1,2% do comércio internacional. O mesmo relatório da OMC divulgado em abril colocara o Brasil na 23 posição, mas o País foi superado pelos Emirados Árabes Unidos. O mais preocupante é que a taxa de expansão das exportações do Brasil, ao longo de 2007, é a menor entre os integrantes dos Bric. No ano passado, as exportações brasileiras cresceram 17% em valor, porém, em volume, o aumento foi de apenas 6,7%. A OMC apontou que até meados deste ano o que salvou as exportações brasileiras foi a alta de preços das commodities.


Com as importações, como também mostrou a OMC, o quadro não é diferente. Em 2007, as importações brasileiras avançaram 32%. Já nos dois primeiros meses de 2008 o salto nas importações chegou a mais de 50%, sempre em referência o mesmo período do ano anterior. Em 2006, o Brasil importou US$ 88 bilhões e foi o 29 importador do mundo, com 0,7% das compras mundiais. Em 2008, no relatório da OMC de novembro, o Brasil passou a comprar a fatia de 0,9% do comércio mundial. Só os russos, com todos os recursos que a alta do petróleo oferecia, tiveram um salto maior na participação das importações mundiais do que o Brasil. Observe-se que , segundo os números da OMC demonstram, o Brasil não sobe a quantia exportada, perde posição aliás, mas expande bastante o volume importado. Vale a pena também notar que o maior exportador mundial, a Alemanha, é dono de 9,5% do volume exportado, crescente ano após ano, seguido de perto pela China, que exportou no ano passado 8,7% do comércio internacional, 20% a mais do que exportou em 2006.


Esse conjunto de dados sugere que o Brasil pode não ter aproveitado totalmente o superciclo das commodities. Agora, com a queda dos preços, a situação do comércio exterior brasileiro ficará mais complicada. Entre julho e a primeira quinzena de novembro o preço das commodities mais exportadas pelo Brasil despencou em média 42%, em dólar, segundo o estudo de consultoria especializada. Há, obviamente, um problema complementar à perda de preço: o recuo dos principais mercados compradores dos produtos brasileiros. Em outras palavras, arranhamos o pior dos mundos, os preços desabam e a quantidade vendida diminui brutalmente nos principais mercados consumidores. Os dados da Funcex mostraram que as vendas para Estados Unidos, Canadá e México, recuaram 10,2% entre janeiro e setembro, em comparação ao mesmo período de 2007. Já para a União Européia a queda foi de 5,7%, na mesma comparação. É fato que as exportações para a Argentina cresceram 12,4% e para a Ásia, 5,7%, na mesma comparação, o que pode não gerar o mesmo saldo na balança comercial.


É estranho, mas quando o dólar estava muito baixo o setor exportador reclamava muito. O dólar voltou a subir, o volume exportado despencou e as ácidas críticas à política comercial desapareceram.A perda no volume parece não preocupar os exportadores brasileiros. É uma pena.


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.