Em recessão, Alemanha deve importar menos do Brasil
A Alemanha é um dos principais importadores de commodities brasileiras e o quadro recessivo da economia alemã terá um impacto significativo na corrente comercial entre os dois países. O saldo da balança acumulada em doze meses contados até outubro apontava déficit US$ 3,04 bilhões e a tendência é aumentar ainda mais.
“A recessão da Alemanha será um baque para o país”, afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). As vendas brasileiras para o mercado alemão, concentradas em minério de ferro, automóveis, café, soja, farelo de soja, motores para veículos, cobre, autopeças, catodos de cobre, bombas e compressores, devem sofrer uma queda nas cotações e nas quantidades, avalia Castro.
As exportações brasileiras, que haviam crescido 28,4% de janeiro a setembro, serão comprometidas. “Tudo isso vai cair pelo menos 20%”, afirma o vice-presidente da AEB. A Alemanha é o quinto maior comprador de produtos do Brasil. Segundo Castro, de janeiro a setembro de 2007, a corrente comercial entre os dois países era deficitária em US$ 1,145 bilhão. Este ano, em igual período, o saldo negativo havia mais que dobrado e alcançado US$ 2,556 bilhões. “Com a queda de preço, as exportações (do Brasil) devem cair mais que as importações e o déficit deve aumentar”, diz Castro.
Para o vice-presidente da AEB, a economia alemã mostra agora os sinais da segunda fase da crise internacional, que começou pelo setor financeiro, com a falta de liquidez, e evoluiu para o comércio, com conseqüências importantes para os países desenvolvidos. O cenário recessivo, estima Castro, deve se estender até o primeiro semestre de 2009. “Depois a economia se estabiliza em um patamar baixo e vai dar mostras de recuperação no início de 2010.”
Os investimentos de companhias alemãs no Brasil, entretanto, não sofrerão alteração, na avaliação da ZF do Brasil, fabricante de caixas de transmissão, embreagens e componentes de chassis. A empresa reforça que deverá manter os planos de aumentar a produção de caixas de transmissões para veículos pesados a partir de 2009 e de investir R$ 753 milhões até 2010, para ampliar a capacidade e melhorar a qualidade dos produtos fabricados no Brasil.
“Embora a Alemanha enfrente uma recessão, a matriz recomenda que os projetos sejam mantidos no Brasil por considerar que a operação da subsidiária ainda é sólida”, disse João Lopes, diretor de vendas e marketing da ZF na América do Sul. A reportagem é de Jaime Soares de Assis, Sonia Moraes e Wilson Gotardello, da Gazeta Mercantil.