São Paulo, 4 de Novembro de 2008 – Estudo apresentado pelo vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Luis Carlos Guedes Pinto, durante reunião do Conselho Superior de Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revela que 80% do crédito que financia o agronegócio brasileiro custa mais que os 6,75% subsidiados pelo governo. No Centro-Oeste a taxa média cobrada é de 21%. Já na região Sul do País, os juros pagos pelos produtores rurais ficam em torno de 15%.
Essa parcela de crédito não oficial que financia a agropecuária brasileira está, portanto, à mercê das taxas praticadas pelas tradings, e elas não saem baratas para o produtor. Rogério Arioli contratou um financiamento de US$ 600 mil para cultivar 1.800 hectares de soja no Mato Grosso e vai pagar 19,56% de juros ao ano, fora a variação cambial do período que ele também vai ter que incluir nessa conta. “Nós ainda não tivemos acesso ao crédito oficial. E 80% da plantação já foi semeada”. Até a safra passada, Arioli pagava cerca de 14% quando precisava recorrer às tradings.
“O valor disponibilizado pelo governo não atende nem a um terço da demanda. O agricultor tem que completar o volume de financiamento recorrendo às tradings e até aos recursos próprios. Portanto o custo final e real dos recursos utilizados é superior a 6,75%”, diz Luis Guedes. Segundo o ex-ministro, é necessário buscar mecanismos de diversificação e ampliação do crédito oficial que possam garantir a renda do produtor. “Nem que para isso seja necessário rever a atual taxa subsidiada pelo governo”, pondera.
Essa notável falta de crédito, principalmente da versão mais barata dele, levou Rogério Arioli a reduzir a tecnologia empregada na lavoura, que nesta safra vai receber um volume 25% menor de adubo. A área plantada de soja da propriedade continua a mesma, é o algodão que vai ser sacrificado e não vai ser semeado. A maioria dos produtores da nossa região está fazendo sacrifícios porque não teve acesso ao crédito oficial até agora. Nós optamos por plantar apenas soja, que tem uma liquidez maior no mercado”, explica Arioli.
Para Guedes e para os membros do Cosag, uma forma de estreiar o caminho entre crédito oficial e o produtor agrícola, bem como o aumento do fluxo que percorre esse mesmo caminho, seria a disceminação do seguro rural. Além dos 50% do prêmio do seguro já subsidiados pelo governo, o Conselho propõe o subisídio do custo de proteção que o produtor precisa arcar para negociar no mercado futuro.
Benedito Ferreira lembra que o governo gastou no último ano R$ 3 bilhões só para prorrogar a dívida rural, montante que segundo ele seria suficiente para resolver o problema do endividamento dos produtores. O presidente da Comissão de endividamento do Conselho Nacional de Agricultura, Carlos Sperotto, calcula que a dívida do agronegócio chega a R$ 100 bilhões, “sem os enxugamentos e renegociações”. Esse volume é a principal barreira entre o escasso crédito rural, oficial, e o produtor endividado. Pela primeira vez nos vemos alguem falar da realidade. “No ano passado sobraram R$ 5 bilhões nos bancos privados que não foram recolhidos. Sobra a regiões como o Centro-Oeste a cara opção dos juros compostos”, conclui Sperotto. A Câmara de crédito rural não é convocada desde agosto de 2007.