Cibelle Bouças, de São Paulo 04/11/2008
A queda de 56,2% no saldo da balança comercial de outubro (US$ 1,207 bilhão) foi considerada atípica por economistas, que esperavam uma desaceleração menos abrupta nas transações internacionais. Para os meses de novembro e dezembro, a expectativa é de que haja uma pequena melhora no saldo de transações, caso o dólar mantenha certa estabilidade, como foi observado na semana passada. Para 2009, as previsões são de deterioração no saldo da balança – as previsões se situam entre US$ 8 bilhões e US$ 15 bilhões – , com queda mais significativa em preços e volumes negociados e possibilidade maior de déficits nos resultados mensais.
“As indústrias tiveram problemas com o financiamento das exportações, o que também comprometeu o resultado de outubro”, observou Fábio Silveira, da RC Consultores. Na avaliação do economista, o desaquecimento das economias européia e americana fez reduzir as encomendas de produtos brasileiros, mas a dificuldade para obtenção dos contratos de câmbio (ACC) contribuiu para gerar a queda brusca no saldo.
A expectativa do economista é que haja uma pequena melhora em novembro e dezembro, conduzindo a balança para um saldo próximo a US$ 25 bilhões (até outubro o saldo chega a US$ 20,8 bilhões). Para Silveira, preocupa a queda de preços das commodities. Em outubro, segundo dados divulgados pela Secex, 17 dos 23 principais produtos exportados pelo Brasil registraram queda de preços (ver gráfico). E a expectativa é que haja reduções mais significativas nos preços das commodities nos próximos meses, por conta do desaquecimento das economias, sobretudo as asiáticas. “O desaquecimento do mercado chinês e o desaquecimento do mercado siderúrgico vão derrubar o preço do minério de ferro no começo do ano que vem. O momento mais agudo será o segundo semestre de 2009, quando haverá queda tanto nos preços das commodities exportadas como também nos produtos industrializados”, previu.
O economista da Tendências Consultoria Integrada, André Sacconato, também acredita que pode haver uma pequena melhora em novembro, tendo em vista que “a fase de pânico passou”. Ele observa que a queda das exportações (8,7% em outubro sobre setembro) superior ao resultado das importações (que aumentaram 0,5%) é explicada pelo descompasso entre a economia brasileira e a internacional. “A crise já atinge a renda dos países desenvolvidos; no Brasil, a economia ainda ainda não foi afetada diretamente pela crise. Como as exportações dependem da renda externa, o efeito mais imediato se dá na exportação”, ponderou. Para Sacconato, o resultado deste ano não deve sofrer grandes alterações porque a maior parte das transações já está contratada. A Tendências prevê para 2008 saldo de US$ 25 bilhões na balança e, em 2009, superávit de US$ 11 bilhões.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, tem a projeção mais pessimista. Ele prevê para este ano saldo de US$ 24 bilhões e, para 2009, de US$ 5 bilhões. “Não há espaço para aumentar as exportações, 95% da balança comercial está concentrada nos mercados dos Estados Unidos, Europa e América latina. Os dois primeiros estão em franca desaceleração e os nossos vizinhos também terão desaceleração em 2009”, afirmou. Ele prevê para o primeiro semestre do próximo ano queda nos preços do minério de ferro e redução da balança comercial agrícola.
O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César de Souza e o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria observaram que, na média trimestral, a balança comercial segue tendência de desaceleração desde julho, iniciada com retração nos negócios com bens de alta intensidade tecnológica. De janeiro a setembro, o déficit da balança do grupo de bens de média intensidade passou de US$ 6,6 bilhões para US$ 22 bilhões; o déficit do grupo de bens de alta intensidade passou de US$ 10 bilhões para US$ 16 bilhões.
“O grupo de baixa intensidade tinha bom desempenho e ajudava a manter mais alto o saldo da balança. Com a queda nos preços das commodities, essa vantagem deixou de existir”, afirmou Souza. Para Faria, a piora no resultado das exportações de manufaturados pode estar ligada ao vencimento de contratos de curto prazo.