Arnaldo Galvão, de Brasília
O governo já tem os primeiros sinais do impacto da crise financeira mundial nos números do comércio exterior. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, informa que, em outubro, as importações ficaram abaixo do esperado e as exportações, em alguns segmentos, perdem força pela queda da demanda internacional por produtos brasileiros.
Barral diz que o crescimento de exportações e importações vem sendo “resfriado” e afirma que alguns importadores querem renegociar preços. Como exemplo cita caminhões, celulares e aço. Esse comportamento é devido à volatilidade no câmbio. No lado das exportações de “commodities”, o secretário afirma que, com exceção do alumínio, não houve queda significativa das cotações. O que chama a atenção dele, na balança comercial de outubro, é a redução das quantidades embarcadas.
No caso da redução de 30 milhões de toneladas na produção de minério de ferro da Vale, o secretário revela que esse volume significa 8% das exportações do produto. Mas acredita que as altas cotações do produto ainda vão compensar a diminuição da quantidade.
Comparando o desempenho de outubro com o de setembro deste ano, o governo destaca as seguintes quedas de quantidades embarcadas: etanol (19,1%), alumínio em bruto (11,7%), semimanufaturados de ferro e aço (16,9%), celulares (18,7%), automóveis (11,6%), caminhões (7,4%), carne bovina (13,9%), minério de ferro (8,5%), soja em grão (43%) e aviões (54,2%).
Considerando as médias diárias de outubro, as exportações cresceram 17,4% sobre outubro de 2007 e as importações tiveram elevação de 40,3% sobre o mesmo mês do ano passado. As vendas foram de US$ 18,51 bilhões e as compras chegaram a US$ 17,3 bilhões, o que resultou em saldo de US$ 1,2 bilhão, o menor em sete anos para meses de outubro, segundo informa o Ministério do Desenvolvimento. Esse superávit é 64,8% menor que o de outubro de 2007.
Quando o governo compara as médias diárias de outubro com as de setembro, verifica redução de 7,5% nas exportações e ligeiro aumento (0,2%) nas importações. O saldo cai 56,2%.
No confronto dos períodos janeiro-outubro, há aumentos de 27,3% nas exportações (US$ 169,37 bilhões) e 50,8% nas importações (US$ 148,52 bilhões) , com queda de 39,6% no saldo comercial (US$ 20,84 bilhões). A meta de exportações do governo é de US$ 202 bilhões para 2008. No acumulado dos últimos 12 meses (novembro de 2007 a outubro de 2008), as variações são de 25,8% nas vendas, 49,7% nas compras e queda de 38,1% no superávit.
Para o secretário de Comércio Exterior, ainda é cedo para previsões sobre a balança em 2009, porque o governo espera estabilização em três fatores: crédito, câmbio e risco-país. “Tivemos uma crise no principal mercado mundial. É natural uma redução de demanda em todo o mundo, mas não sabemos mensurar o que fica para o Brasil.”
Segundo os números analisados por Barral, as exportações para os EUA caíram 0,5% na comparação de outubro com o mesmo mês do ano passado. Se a comparação é com setembro deste ano, a queda salta para 24,3%. Grande parte desse comportamento pode ser explicado, de acordo com Barral, pela queda dos preços do petróleo, mas ele admite ser “preocupante” a diminuição das vendas de bens de capital ao mercado americano.
No caso da China, as vendas de produtos brasileiros, em outubro, foram 30,9% maiores que as de outubro de 2007, mas ficaram 20,8% abaixo dos embarques de setembro deste ano. Para o mercado chinês, a redução de 20,8% sobre as exportações de setembro tiveram como principais causas as quedas do minério de ferro (17%) e da soja em grão (73%).
A soja não preocupa o governo, porque a redução é normal. Os embarques da commodity concentram-se entre maio e setembro. O problema é a menor demanda por minério de ferro. “Não dá para generalizar, mas a redução da demanda mundial é provocada pela crise”, lamenta.
No atual momento de crise, Barral diz que as exportações estão sendo mais rapidamente afetadas que as importações. No caso das compras, as estatísticas são alteradas com o desembaraço aduaneiro das mercadorias, o que vem sendo adiado por alguns operadores “cautelosos”. “Sabemos que os portos estão lotados”, reconhece.
A análise da importação dos bens de consumo não-duráveis mostra que outubro teve, pelas médias diárias, aumento de 11,7% sobre outubro de 2007. Na comparação com setembro deste ano, houve queda de 13,4%. No ano passado, outubro teve importações 10,3% maiores que setembro.
Outras quedas de importações verificadas na comparação de outubro com setembro, em 2008, são de bens de capital (3,9%), automóveis (7,5%). As compras de bens de consumo duráveis ficaram praticamente estáveis e as matérias-primas e intermediários importados foram apenas 1,6% maiores. “As importações de bens de consumo foram maiores nos anos anteriores. Já há algum efeito do dólar. Os brinquedos para o Natal já chegaram em agosto”, diz Barral.
Para o secretário, os desafios mais imediatos do governo federal, nessa crise, são regularizar e ampliar a oferta de crédito para os exportadores, aumentar a desoneração da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e acelerar a redução de custos com burocracia e logística. Também estão nas perspectivas oficiais o combate ao protecionismo e o reforço da defesa da indústria nacional por meio da defesa comercial, da maior articulação com a Receita Federal e da atualização dos mecanismos de inteligência.