Intempéries mais abundantes desde fim de outubro amenizam seca, mas impactos não serão recuperados, apontam especialistas
Por Diário do Comércio
As chuvas mais abundantes registradas desde meados de outubro e nos primeiros dias de novembro estão sendo benéficas para os cafezais. Com a maior incidência de água, a floração das plantas foi favorecida e está mais uniforme, o que pode render grãos com melhor qualidade. Apesar das belas floradas, a estimativa para a safra 2025 de café é pessimista, uma vez que os estragos provocados pela seca prolongada e altas temperaturas não têm correção, o que deve provocar uma redução na colheita.
Conforme a analista de agronegócio do Sistema Faemg Senar, Ana Carolina Gomes, nos últimos anos, as chuvas favoreceram a florada, porém, isso não significa que haverá um bom rendimento na safra 2025.
Ana Caroline explica que a cafeicultura tem vivenciado grandes desafios, principalmente, atrelados à questão climática. Nas últimas safras, a produção de café em Minas Gerais enfrentou diversos desafios como geadas, granizo e enchentes. Agora, em 2024, as ondas de calor e o déficit hídrico severo comprometeram os cafezais e deixaram dúvidas de como será 2025.
“A seca registrada ao longo de 2024 foi a mais longa dos últimos 40 anos. A espécie arábica é muito sensível às adversidades climáticas, então, a planta sente muito. Temos notado em campo que as chuvas estão mais frequentes, favorecendo as floradas, mas devido ao elevado déficit hídrico – com mais de 160 dias sem chuvas – o dano causado é irreversível”, explicou.
Ao longo do período de seca prolongada, muitos cafeicultores tiveram que fazer um manejo mais drástico e que não estava planejado para 2025. “Devido às condições dos cafezais, vários produtores fizeram podas drásticas nas lavouras que estavam com as plantas depauperadas, então, não irão produzir em 2025”.
Conforme Ana Carolina, mesmo nas lavouras onde não houve recepas, as plantas também sofreram com a seca e as altas temperaturas e estão mais desfolhadas. A redução das folhas é um gargalo para a atividade, já que para o pegamento e formação do grãos, após a florada, a planta precisa de energia e com menos folhas, esse processo fica comprometido.
“As chuvas registradas por agora vão amenizar o déficit hídrico, mas o impacto já causado, infelizmente, não tem como recuperar. As floradas foram boas, mas a flor não é café. Para a safra 2025, ainda existe um longo caminho para que as flores se tornem grãos e virem café a ser colhido beneficiado e chegar à mesa. Há grandes chances de um elevado grau de abortamento, diante da fragilidade da planta”, informou a analista do Sistema Faemg Senar.
O engenheiro agrônomo e gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Mário Ferraz de Araújo, explica que nas áreas de atuação da cooperativa – Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Vale do Rio Pardo (no estado de São Paulo) – as chuvas, até o momento, estão favoráveis.
“As chuvas estão favoráveis, mas não mudam o cenário. O nosso prejuízo já ocorreu com as altas temperaturas e a seca que durou por aqui em torno de 180 dias. Quando as chuvas retornaram, as plantas já tinham sofrido demais, estavam com estresse acentuado e, certamente, isso vai implicar em decréscimo da produção”, explicou.
Ainda conforme Araújo, ainda não é possível avaliar o tamanho do impacto na safra 2025, mas é certo que as lavouras não atingirão o potencial total. “O cafeeiro arábica não suporta altas temperaturas e déficit hídrico muito acentuado. Por isso, a safra será prejudicada”.
Apesar do prejuízo estimado, o retorno das chuvas foi importante para a florada. Segundo Araújo, nas regiões da Cooxupé, as duas floradas foram próximas, o que favorece a maturação mais igual.
“No atual cenário, o que temos de benefício é a possibilidade de uma maturação mais uniforme, favorecendo a qualidade do café. Mas, em termos de produtividade, ainda é muito cedo para falar”, concluiu Araújo.
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