O vinho de Três Corações

24 de outubro de 2008 | Sem comentários Cafeteria Consumo
Por: 24/10/2008 04:10:15 - Jornal do Commercio Brasil - RJ

Esta semana abrimos espaço para noticiar sobre novas e promissoras regiões produtoras de vinhos finos no Brasil. Abrimos espaço para o texto do amigo Guilherme Gazzola, fundador da ABS-Rio e atual diretor da Sbav-Rio, relatando a novidade: “Até 1970, no imenso Brasil, a Serra Gaúcha era o único terroir do vinho fino. Dalí, a Vitis vinifera foi à Campanha, no mesmo Estado, e ao Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco).”


“No novo milênio, mais novidades: o Rio Grande plantou uvas européias na Serra do Sudeste e nos Campos de Cima; Santa Catarina, em São Joaquim; e Paraná, em Toledo. Mas a maior surpresa é Minas Gerais: quem tinha café com leite e cachaça, agora faz vinhos finos. Iniciativa da estatal mineira Epamig, que arregimentou fazendeiros interessados no novo negócio, e baseou o projeto na Fazenda Experimental de Caldas, Sul de Minas, onde tem adega experimental, laboratórios e pesquisas de videiras.”


“A originalidade é a adaptação do ciclo da videira ao regime de chuvas, de outubro a abril: à poda normal em setembro, segue-se outra em janeiro, transpondo-se a colheita de março para julho. Três meses de seca, dias claros de sol e noites frias permitem o ótimo amadurecimento das uvas, mantendo boas acidez e condições fitossanitárias. A coordenação é do agrônomo Murillo Regina, doutor em vinhos por Bordeaux, e a vinificação do enólogo Daniel Amorim.”


“Há experiências em Três Corações, João Pinheiro, Cordislândia, Diamantina e Pirapora. Em Três Corações, a experiência, iniciada em 2001, é a mais ampla e se encontra mais avançada, já na quarta safra. Na altitude de 985 metros, é desenvolvida na Fazenda da Fé, de Marcos Arruda Vieira, um produtor de cafés finos de exportação. O agrônomo José Antônio Vieira cuida do vinhedo.”


“Marcos soube que a uva se beneficia da amplitude térmica entre o dia e a noite: isto favorece o acúmulo de polifenóis, dita a intensidade da cor e a produção de tanino, essencial para a boa estrutura do vinho. A amplitude no local, de 20 graus, torna sua fazenda boa para café fino. A plantação experimental tinha Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Chardonnay, em espaldeira, em encosta bem drenada e exposta ao sol. Só a Syrah se desenvolveu bem, e partiu-se para seu plantio comercial.”


“O primeiro vinho foi o da safra de 2004: tinha ótimas cor e estrutura, e a tipicidade do Syrah, com algum excesso de acidez. Degustei uma garrafa em maio de 2007 e o vinho estava equilibrado, com acidez amena e boa tipicidade de aromas. A de 2005 teve pequena exposição ao carvalho, concluindo-se que o vinho ganhava com o estágio na madeira. Já a de 2006 produziu 2 mil garrafas, com boas cor e estrutura, 12% de álcool sem chaptalização e, agora, acidez e taninos equilibrados.”


“O vinhedo tem 8 hectares, com 20.100 videiras de Syrah, 1.800 de Pinot Noir, e 300 de cada: Tannat, Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc. No futuro, terá 30 hectares. Na área experimental há 16 variedades: Cabernet Sauvignon e Franc, Sauvignon Blanc, Merlot, Malbec, Petit Verdot, Tannat, Chardonnay, Pinot Noir e Meunier, Syrah, Marsanne, Viognier, Mondeuse, Tempranillo e Muscat à Petits Grains.”


“A Pinot Meunier motivou pergunta sobre espumantes. Murillo confirmou a intenção, a depender dos testes com Chardonnay e Pinot Noir. Revelou pensar também em um “blanc de noirs”, por confiar na Pinot Noir, tanto que a plantou em maior escala. A safra de 2007 (6.700 garrafas) foi excelente e contou com assessoria em vinificação do enólogo Jean-Pierre Rosier. A boa maturação das uvas levou a 14% de álcool e com a também boa a maturação fenólica, espera-se um vinho de qualidade. Após passar por barricas de carvalho novo, irá para o mercado talvez em 2008.”


“Outra novidade: 200 garrafas de Sauvignon Blanc. As uvas, provadas no campo, estavam muito maduras e sãs, doces, mas com excelente acidez e produziram um interessante vinho de sobremesa. Em João Pinheiro – Vale do Rio Paracatu, um projeto foi instalado em 2003, em cinco hectares na Fazenda Salvaterra II, de João Francisco Meira, com Syrah (melhor desenvolvimento), Tempranillo, Marsanne e Roussanne.”


“Em Cordislândia – região cafeeira do Sul de Minas, na Fazenda do Porto, gerenciada por José Silveira Duarte, plantou-se 15 hectares em 2005, com Tempranillo, Cabernet Sauvignon e Franc, Syrah, Pinot Noir, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Em Diamantina – Vale do Rio Jequitinhonha -, o projeto, também de 2005, em um hectare, é uma parceria com a empresa Quinta d”Alva, e tem Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Pinot Noir e Meunier, Marsanne, Chardonnay e Muscat à Petits Grains.”


“Em Pirapora, Vale do São Francisco, ainda em 2005, com a Cooperativa Agrícola de Pirapora, foram plantadas 16 cepas finas. Pirapora já tem viticultura para uva de mesa e busca verificar seu potencial enológico. A iniciativa privada tem outros projetos com viníferas nas cidades mineiras de Alfenas, Andrelândia, Carandaí, Santa Luzia, Delfim Moreira e São João Batista do Glória. Em Andradas e Caldas, produtores de vinhos comuns (de garrafão), foram plantadas Chardonnay, Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e Franc.”


“Minas está entrando no cenário dos vinhos finos. A aposta de desviar o ciclo da videira e obter uvas de qualidade otimizada dará provavelmente vinhos superiores, que poderão surpreender pela originalidade. “Se tudo der certo, teremos um típico e bom vinho mineiro”, espera o pesquisador Murillo Regina. Brindemos a isso!”

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