ICE pode continuar pressionada por temores de recessão

23 de outubro de 2008 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: AGENCIA ESTADO

São Paulo, 23 – Uma combinação de fatores tem mantido sob pressão os contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). O pior deles, no entanto, é o fantasma da recessão, que pode reduzir o interesse mundial por commodities.


As moedas européias se desvalorizam em relação ao dólar, prejudicadas pelo impacto das declarações do presidente do Banco da Inglaterra (BOE), Mervyn King, que intensificaram o receio forte e disseminado de recessão na Europa.


O contrato de café para Dezembro encerrou em baixa de 1,44% (menos 165 pontos), a 114,20 cents. A mínima marcou 195 pontos, a 112,30 cents. O mercado operou no terreno negativo ao longo de toda a sessão. A máxima ficou 5 pontos abaixo do fechamento anterior, a 114,20 cents.


O mercado continua com pouco interesse e baixo volume de negócios. O estoque de café certificado na ICE supera 4,6 milhões de sacas. Nesse cenário baixista, os contratos de café em Nova York podem voltar a testar o suporte a 110 cents, base dezembro.


O vice-presidente da Newedge Group, Rodrigo Costa, diz que uma série de fatores combinados prejudica o desempenho das commodities. Além da perspectiva de recessão e da alta do dólar, Costa comenta que o índice de frete, que sinaliza a movimentação mundial de cargas, caiu 90% desde maio.


Ele observa, ainda, que grandes fundos de investimento devem se reunir para montar estratégias para 2009. Nesse sentido, o mercado de commodities não tem se mostrado atrativo por causa da forte desvalorização.


O petróleo também perde valor, com os temores de desaceleração econômica. Um dado divulgado ontem provocou ainda mais perdas, com o contrato futuro do óleo recuando cerca de 5%, a US$ 68 dólares o barril: houve aumento de 3,182 milhões de barris nos estoques dos EUA na semana passada, bem maior que a expansão de 2,4 milhões esperada pelos analistas.


Costa acrescenta que a crise de aperto no crédito ocorre em momento inoportuno para importantes países produtores de café. A América Central, a Colômbia e o Vietnã iniciam a comercialização da safra, que pode ser prejudicada pela crise de confiança na oferta de financiamento.


Alta do dólar puxa preço


Os preços do café no mercado interno tiveram reajuste ontem, apesar da queda de 1,4% dos contratos futuros, base dezembro, na Bolsa de Nova York. A alta de 6,4% do dólar em relação ao real mais do que compensou as perdas no mercado futuro, informa um corretor de Santos (SP).


Mesmo assim, o volume de negócios continua fraco. “A Rua XV de novembro, onde se concentram corretores e exportadores de Santos, estava entregue às moscas”, diz a fonte. O comprador está preocupado com a restrição de financiamento para embarque no ano que vem, conforme informou o diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), Guilherme Braga.


O produtor também não tem motivos para sair às pressas para vender. Isso porque os elevados custos de produção, principalmente com fertilizantes, tornam os atuais preços do café pouco remuneradores. Segundo o Ministério da Agricultura, os fertilizantes chegaram a ter aumento de mais de 50% em relação ao ano passado, em grande parte por causa da alta do petróleo, que no momento está se desvalorizando.


O comentário na praça de Santos é que a Cooperativa dos Cafeicultores de Três Pontas (Cocatrel) teria vendido café tipo 6, bebida dura para melhor, com 13% de catação, a R$ 265/R$ 266 a saca de 60 kg, posto em Varginha. Ontem, o mesmo produto era cotado a R$ 260 a saca. O comprador seria a Stockler.


Café bebida rio, que era cotado ontem a R$ 215, tinha oferta a R$ 220 a saca. O produto duro/rio/riado era cotado ontem a R$ 240 a saca, mas havia oferta de tomador a R$ 245 a saca. Até o fim da tarde, porém, o fechamento de negócio nessa base de preço não foi confirmado.


O Indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6 bebida dura para melhor fechou em R$ 260,67 a saca, aumento de 0,86% em relação ao dia anterior.


Na BM&F de São Paulo, os contratos futuros de café arábica acompanharam Nova York e encerraram em baixa. Dezembro recuou 2,70 dólares (menos 0,80 na semana), a US$ 130,20 a saca. Março/09 caiu 2,65 dólares (menos 1,40 na semana), a US$ 135,60 a saca.


No Espírito Santo, a preocupação é com a falta de chuvas, principalmente no norte do Estado, onde se concentra a produção de café conillon. Conforme dados da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), de São Gabriel da Palha, nos últimos 6 meses o volume acumulado de chuvas alcança 113 mm. No mesmo período do ano passado, quando uma forte estiagem prejudicou cafezais, o volume acumulado era de 130 mm.


Segundo o presidente da Cooabriel, Antonio Joaquim de Souza Neto, “são dois anos seguidos de falta de chuva e a produção de 2009 deve ser inferior a deste ano, que apresentou redução por causa da estiagem”.


Levantamento preliminar do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostra que os embarques de grãos verdes em outubro, até ontem, alcançavam 1.653.913 sacas, em alta de 11,1%, em relação ao observado no mesmo período do mês anterior. Em setembro foram embarcadas 2.653.913 sacas. Em outubro, até ontem, foram emitidos certificados de origem de 2.124.335 sacas, resultado 18,8% maior em comparação com o mesmo período do mês anterior.
 

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