Desde a geada em 2021 o produtor não vivenciava um mercado tão nervoso com a oferta de café
Por Notícias Agrícolas
Renovando recorde atrás de recorde, o produtor de café continua vivenciando dias de grandes emoções para os preços. Nesta quarta-feira (17), nas primeiras horas do pregão, o robusta já era negociado a US$ 4 mil a tonelada no terminal de Londres e o arábica dava indícios de buscar o valor de 240 cents/lbp em Nova York.
Já tem um tempo que o mercado de café precifica com base nas preocupações com a oferta global. A “bola da vez” é o Vietnã, que já registrou quebra no último ciclo, e não conta com expectativa tão positiva para o próximo. Para o produtor, que aproveita de alguma forma o bom momento, fica a dúvida: Até quando isso se mantém e mais do que isso, até quando o arábica vai acompanhar a valorização?
O Vietnã tem como característica a produção de 31 milhões de sacas por ano. No ciclo passado, devido as condições climáticas adversas, a produção não ultrapassou as 26 milhões de sacas e o momento atual é de apreensão em relação ao próximo ciclo.
Os problemas atuais são reflexos do fenômeno climático El Niño, que favoreceu temperaturas ainda mais elevadas e seca severa em todas as regiões produtoras de café do Vietnã. A grande preocupação do mercado é que não há no médio prazo o indicativo de mudanças significativas nas condições do tempo.
O produtor vietnamita deve continuar observando chuvas escassas e irregulares em boa parte do país. De acordo com dados de Matheus Manente, meteorologista da Meteored, os volumes não devem ultrapassar os 25mm. “A área de café no sul do Vietnã será a mais afetada pela ausência de chuvas nos próximos dias”, afirma.
Com a permanência do tempo seco, a tendência também é de temperaturas ainda mais elevadas nas próximas semanas. É importante destacar que as plantas de café cultivadas no Vietnã são resistentes ao calor excessivo, mas desde que aconteçam as chuvas, o que tem sido o grande problema da produção. Os dados da Meteored mostram ainda que as máximas podem chegar a 40ºC, ficando cinco graus acima da média, podendo caracterizar uma nova onda de calor no parque cafeeiro.
O momento atual é crucial para abertura e pegamento da florada no Vietnã. “Modelos climáticos indicam que, até o fim de Abril, as chuvas permanecem pelo menos 30 mm abaixo da média, enquanto as temperaturas se mantém até 6 graus acima da média”, afirma.
O mundo do café também monitora as condições que o La Niña poderiam trazer para áreas de produção. E apesar do alívio nas temperaturas e na seca, Matheus ressalta que será importante monitorar possíveis ondas de frio. “Em 2008, uma forte onda de frio que durou mais de um mês, entre Janeiro e Fevereiro, matou cerca de 110.000 bovinos e aves e arruinou 180.000 hectares de arrozais, resultando numa perda estimada de mais de 16 milhões de dólares”, relembra.
SEM DEFINIÇÃO DO VIETNÃ, MERCADO PODE NÃO ENCONTRAR TETO TÃO CEDO, AFIRMA ANALISTA
Traçando uma linha do tempo dos últimos anos, é possível afirmar que o mercado não ficava tão estressado desde a geada em 21 de julho de 2021. Na época, sem definição do Brasil e com muitas incertezas, as cotações também atingiram preços recordes. Ao que tudo indica, o movimento dos últimos dias é muito semelhante ao que ocorreu há alguns anos.
De acordo com Haroldo Bonfá, os diferenciais do café proveniente do Vietnã continuam muito acima do mercado, o que mantém a janela de oportunidades aberta para o produtor brasileiro. Alguns vídeos, inclusive, circulam pelas redes sociais como imagens do Vietnã e chama atenção de todo o mercado.
“Sabemos com certeza que esse café é no Vietnã, mas não sabemos qual a data exata de gravação. De qualquer forma, podemos imaginar que a recuperação levará tempo, mesmo que chova nos próximos dias. É preciso, inclusive, que essa chuva seja constante”, afirma Haroldo Bonfá da Pharos Consultoria.
Sem uma definição do Vietnã, para o analista, o mercado continua operando com valorização e buscando romper novas barreiras técnicas nos preços. Além dos problemas no campo, o produtor do Vietnã pouco participa do mercado, opta por não entregar os cafés que foram negociados com preços baixos e ainda tem o fator logística que ajuda a impulsionar as cotações, apesar de ser o problema mais fácil de ser solucionado neste momento.
“Quando o café embarca, mesmo que tenha atrasado, sabemos que ele vai chegar. O grande problema é que não se sabe quando o Vietnã vai voltar a participar desse mercado, ainda teremos muitas emoções”, afirma.
O cotação do arábica também acompanha o movimento de alta, o que segundo o analista deve continuar acontecendo no médio prazo, mesmo com o início da colheita no Brasil nas próximas semanas. “Nós temos muitas incertezas climáticas inclusive para o Brasil. O produtor precisa estar atento porque é natual que aconteça uma correção em algum momento, mas não acredito que seja antes de uma definição clara para o Vietnã”, complementa.
PREÇOS
Nesta quinta-feira (17), em Londres, o tipo robusta encerrou o pregão com alta de mais de US$ 200 por tonelada, o que representa alta de 5,48%.
Alguns analistas afirmam que a previsão de frio para o Brasil nos próximos dias também ajudam a impulsionar as cotações, apesar de os modelos meteorológicos, até esta quarta-feira (17), não indicarem riscos para geadas com intensidade forte em áreas do parque cafeeiro. As condições do tempo continuam sendo monitoradas e o produtor segue se preparando para o início da colheita.
Dando suporte aos preços, pesquisas recentes mostram que o consumo de café continua evoluindo. Durante a Covid-19 a demanda se manteve estável e a expectativa do setor é que a partir de agora ela seja mais aquecida. Segundo dados da Circana, importantes polos consumidores como Estados Unidos registraram avanço no consumo da bebida.
Julho/24 teve alta de US$ 218 por tonelada, negociado por US$ 4195, setembro/24 avançou US$ 215 por tonelada, cotado por US$ 4111, novembro/24 teve avanço de US$ 206 por tonelada, negociado por US$ 4000 e janeiro/25 teve alta de US$ 199 por tonelada, negociado por US$ 3883.
Em Nova York, o arábica avançou 5,23% – o equivalente a mais de mil pontos. Julho/24 teve alta de 1195 pontos, negociado por 240,35 cents/lbp, setembro/24 teve valorização de 1155 por valorização, valendo 238,40 cents/lbp, dezembro/24 teve alta de 1095 pontos, valendo 236,45 cents/lbp e março/25 teve alta de 1060 pontos, cotado por 235,40 cents/lbp.
No Brasil, o físico acompanhou e encerrou com valorização nas principais praças de comercialização do país.
O tipo 6 bebida dura bica corrida teve alta de 4,76% em Guaxupé/MG, negociado por R$ 1.320,00, Poços de Caldas/MG teve alta de 8,06%, valendo R$ 1.340,00, Machado/MG teve valorização de 5,51%, valendo R$ 1.340,00, Varginha/MG teve alta de 2,27%, cotado por R$ 1.350,00 e Franca/SP teve alta de 3,05%, cotado por R$ 1.350,00.
O tipo cereja descascado teve alta de 4,58% em Guaxupé/MG, negociado por R$ 1.370,00, Poços de Caldas/MG teve valorização de 7,69%, valendo R$ 1.400,00, Varginha/MG teve alta de 0,73%, cotado por R$ 1.380,00 e Campos Gerais/MG teve alta de 4,76%, negociado por R$ 1.430,00.
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