Nós e a crise mundial
Divaldo Moreira/Comércio da Franca
CRISE NA CAFEICULTURA – Produção de café durante a secagem no terreiro da Fazenda Nossa Senhora Aparecida em Pedregulho. Alta do dólar derrubou o preço da saca
Priscilla Sales
Chefe de reportagem
Marco Felippe
da Redação
Confecção, calçados, construção civil, café e veículos são alguns dos setores da economia francana já afetados pela crise financeira internacional que tem provocado instabilidade na cotação do dólar e deixado o mercado em polvorosa. Mais de 20 empresários da cidade estão preocupados. Nenhum deles tem certezas quanto ao futuro de seus negócios. A palavra de ordem agora é cautela. A maioria suspendeu decisões que exigem investimentos e colocou o pé no freio nos custos de produção, antevendo tempos difíceis.
As fábricas de lingerie de Franca foram surpreendidas nesta semana com reajustes de 12% a 15% no preço das matérias-primas, depois de quatro anos de estabilidade. Lázaro Adriano Zani, proprietário da Larulp, se viu obrigado a estudar formas de driblar o aumento nos custos. “Foi, literalmente, um susto. Os fornecedores dizem que a culpa é da crise financeira. Não sei ainda o que farei, mas terei que cortar outros custos e, em última hipótese, repassar o aumento para o consumidor”.
No setor de venda de veículos, a instabilidade do dólar e as incertezas quanto às políticas de juros fizeram as vendas despencar. Antes acostumados a comercializar dezenas de unidades por semana, proprietários de estacionamentos viram-se, dias seguidos, sem vender sequer um carro. “O problema é que as linhas de crédito estão reduzidas. Carros que antes financiávamos em até 48 meses, agora só podem ser parcelados em até 36 vezes”, disse o vendedor da Dankar Veículos, Felipe Inácio.
A venda de motos também não ficou imune à incerteza do mercado. “Houve um ajuste das financeiras, que antes vendiam sem entrada e agora estão exigindo 20%. Na hora de formular o cadastro dos clientes, as exigências são muito grandes e isso é ruim para a gente também”, disse Hidomeneu, diretor da Hido Motos.
No campo, a apreensão é grande. As negociações de café estão paralisadas depois do preço da saca ter caído 8% em duas semanas. De R$ 260 foi para R$ 240. “A crise afetou diretamente os cafeicultores que deverão estocar a produção à espera de melhores preços”, disse Ely Martin, presidente do Sindicato Rural de Pedregulho. Com a produção estocada, a tendência é faltar café no mercado, o que levará à elevação dos preços, inclusive, na mesa do consumidor.
Nem os remédios escapam. Alguns medicamentos já começam a faltar nas prateleiras. Ébio Pedrosa, diretor comercial da Drogafarma, disse que o motivo é aumento dos custos dos produtos da área, a maioria importada e com preço baseado em dólar. “Vamos tirar o pé do acelerador para os investimentos. Precisamos estudar como absorver esses reajustes para evitar repassar os aumentos para o consumidor”. O mesmo acontece no setor de cosméticos e perfumes, onde os componentes e vidros são importados.
A CONSTRUÇÃO CIVIL E A INDÚSTRIA CALÇADISTA
No setor calçadista, a ordem entre os empresários é cautela. Nada de novos projetos ou aumento de produção. José Carlos Brigagão Couto, presidente do Sindifranca (Sindicato das Indústrias Calçadistas de Franca), diz que o momento é de observação. “Ainda não houve prejuízo. Os negócios estão praticamente congelados.
Quem se atreve a fechar pedido o faz com o dólar travado, o que diminui o risco de haver uma queda brusca e o fabricante perder dinheiro”. Até mesmo os exportadores estão cautelosos à espera da estabilização da moeda. Com altas e baixas do dólar, não há como imaginar a cotação do dia seguinte para fechar novos pedidos.
O economista Ulisses Ruiz de Gamboa confirma que o momento é de nervosismo, mas tranqüiliza os empresários ao dizer que o dólar se estabilizará, só não se sabe quando. “Nenhuma economia é imune. Os empresários precisam manter a calma e esperar, pois essa crise vai passar”.
Enquanto isso não acontece, empresários da construção civil começam a amargar prejuízos. Três construtoras da cidade já tiveram clientes que desistiram dos investimentos. “As linhas de crédito estão bloqueadas. Sem elas, os grandes investimentos ficam parados. Ninguém quer arriscar”, disse o gerente da Marka Sistemas Construtivos, Olívio Rodrigues Peres.