Dados do fluxo cambial consolidado em setembro, divulgados ontem pelo Banco Central (BC), não corroboram com a informação de que as linhas de crédito para os exportadores haviam secado no mês passado. Os números mostram um crescimento dos contratos de ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio), usadas pelos exportadores para antecipar suas receitas em dólar.
Só em setembro, foram US$ 5,25 bilhões em ACC, correspondente a 27% do volume de câmbio fechado pelo exportador no mesmo mês, de US$ 19,24 bilhões. A participação do ACC, inclusive, vem crescendo nos últimos meses, tendo sido de 25% em julho e de 26,9% em agosto. “Estes dados, divulgados pelo BC, chamam a atenção e mostram que não houve qualquer fechamento das linhas para exportadores. Pode até ter ficado mais caras, mas elas continuaram existindo”, comenta Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da corretora NGO. “O que existe é muita pressão sobre o BC para que tome medidas em favor deste ou daquele setor. Por enquanto, o que há é muito exagero no mercado local, sempre tentando forçar a autoridade a liberar recursos.”
O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse ter ficado surpreso com os números de ACC em setembro. “Para mim os números foram surpreendentes, até mesmo estranhos, mas eles de fato revelam que existia sim linhas para os exportadores e elas foram contratadas”, diz Castro. “No máximo, pode ter havido algum problema pontual com as linhas, mas não afetaram a contratação de ACC no mês, inclusive em setembro foi registrado o maior volume no ano.”
No mês passado, pressionado pelas queixas de que as linhas para exportador haviam secado, o BC voltou a vender dólar no mercado à vista, com compromisso de recompra. A venda irriga o mercado de dólares que podem ser comprados direto pelo exportador ou por bancos que repassam os recursos aos exportadores. Normalmente, os bancos tomam recursos em dólares no exterior e emprestam ao exportador no Brasil, via ACC. A opção do BC foi por agir em socorro das linhas que, em tese, haviam sumido.
“Os números divulgados ontem mostram que, do ponto de vista do exportador, isto não era necessário, tanto que no leilão da última terça o BC não conseguiu comprador para o US$ 1 bilhão ofertado”, lembra Nehme. Na data, O BC conseguiu vender US$ 700 milhões a R$ 2,30, com compromisso de recompra em 7 de janeiro de 2009, pagando R$ 2,347. A taxa a ser paga pelo BC na recompra representa um juro de 2,04% no período de três meses. Sustentado pela idéia de que as linhas para exportadores haviam secado, além de ofertar dólar com compromisso de recompra, via BC, o governo também adotou outras medidas como o aumento das linhas de financiamento pré-embarque, concedidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar exportações.
Fluxo segue positivo
A crise global continua também estimulando posições especulativas em dólar no Brasil. A divulgação de um fluxo positivo em setembro – mais dólares entrando do que saindo – reforçam a tese especulativa. O fluxo positivo no ano, até a primeira semana de outubro está em US$ 17,7 bilhões. Na parte financeira, as saídas foram maiores do que os ingressos em US$ 26,7 bilhões, mas compensados com pelo saldo comercial de US$ 44,4 bilhões. “O fluxo vem caindo em comparação com 2007, mas é positivo, o que indica sobra de dólares”, diz Vanderlei Arruda, da corretora Souza Barros. “Mas a formação de preço ocorre hoje no mercado futuro que força a uma alta na cotação.”