Enquanto a chuva não vem, pairam incertezas sobre a nova safra de café

Regiões como o Cerrado Mineiro registram altas temperaturas desde novembro, o que afeta o desenvolvimento vegetativo das plantas e a produtividade

2 de janeiro de 2024 | Sem comentários Produção

Por Isadora Camargo/ Globo Rural

Quase ninguém arrisca previsões sobre a nova safra de café, a 2024/25, cuja colheita começa em maio. A razão para a incerteza, mais uma vez, é o clima. Na região do Cerrado Mineiro, uma das maiores produtoras de café arábica do país, alertas de chuvas moderadas a partir de janeiro deram um respiro aos produtores locais, que convivem com as altas temperaturas desde novembro.

A água tão esperada assegura que os chamados chumbinhos do cafeeiro não caiam, se desenvolvam e resultem em um enchimento pleno do grão até a colheita, afirma o presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal.

A fase de chuvas prevista para janeiro e fevereiro será crucial para que não haja queda dos chumbinhos e, portanto, perda de produtividade na safra de café da região. No ciclo 2023/24, recém-colhido, a produção deve fechar entre 6,5 milhões e 7 milhões de sacas de 60 quilos.

“Para 2024, o cenário é complexo, pois as ondas de calor estão se repetindo desde novembro. Temperaturas elevadas e chuvas irregulares causam estresse na planta, confusão na fisiologia vegetal, o que acarreta a queda dos chumbinhos, resultando em uma menor produção”, afirma Tarabal.

Diante do cenário, a única certeza na região do Cerrado Mineiro é que a produção da nova safra deve ficar abaixo de 5 milhões de sacas, segundo o dirigente.

As chuvas também vão definir como será a produção em outras importantes regiões de café do país, como a Alta Mogiana em São Paulo, afetada por altas temperaturas. Cafeicultores no sul da Bahia e no Espírito Santo também enfrentam a mesma preocupação em relação à possível perda de produtividade das lavouras de conilon.

O fator clima, claro, não sai mais do radar de especialistas do mercado de café, que não contavam com uma valorização de preços tão forte para o arábica nas bolsas de Nova York e para o robusta em Londres.

“A virada de novembro [na bolsa] — e que sustentará as projeções futuras — se deve a três pontos: estoques certificados em Nova York sem recuperação, porque a oferta de café está limitada; entressafra da Colômbia e de Honduras e os gargalos logísticos do Brasil no porto de Santos, onde as filas para escoar grãos atrapalham o calendário de embarques de café”, afirma Guilherme Morya, analista do Rabobank.

Segundo ele, o comportamento do mercado reflete os impactos do clima adverso no desenvolvimento vegetativo do café no Brasil. “O que olhamos para próxima safra 2024/25 é também o comportamento de regiões com menores consequências dos estresses climáticos, como Rondônia que, ainda assim, deve ter queda de 5% a 10% da produção de robusta, ou o sul da Bahia, cujas lavouras não são 100% irrigadas. Por outro lado, esperamos que o Espírito Santo compense a quebra de conilon”, afirma.

Para a safra que já foi colhida, o Rabobank tem estimativas superiores às da Conab, que projeta produção de 55 milhões de sacas. Na previsão do banco holandês, serão 66 milhões de sacas.

O analista de café da StoneX, Fernando Maximiliano, concorda que o cenário para o café é desafiador, e se sairá bem o produtor que estiver tecnificado. “Desde 2013, temos ação de fenômenos climáticos no mercado de café. Mas este ano, uma vantagem em relação aos períodos de quebras passados é a tecnologia das lavouras e os sistemas de irrigação”, pondera.

Para ele, se o El Niño perder força nos próximos meses e se houver chuvas neste mês de janeiro, as surpresas com produção podem ser positivas e a oferta de grão brasileiro nos mercados internacionais estará garantida.

Os efeitos do clima nas lavouras também estão no radar da indústria de café. Para o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Café (Abic), Pavel Cardoso, a volatilidade das cotações nas bolsas, reflexo do clima, terá impacto nos preços ao consumidor. Em sua avaliação, a preocupação com uma possível retração da oferta pode levar a um repasse nos preços ao consumidor final entre janeiro e fevereiro.

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