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04/09/2008
Mancha Aureolada preocupa cafeicultura de altitude
03/09 – 20:22
A mancha aureolada, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae tem-se tornado uma preocupação em lavouras em formação ou podadas, especialmente as situadas em regiões cafeeiras mais frias, de altitude, em faces expostas a ventos. Pesquisadores do Instituto Biológico (IB) e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), instituições participantes do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), administrado pela Embrapa Café, alertam para a ocorrência da doença em importantes regiões produtoras e para as dificuldades em reconhecê-la.
De acordo com as pesquisadoras do IB, Flávia Patrício e Irene Gatti Almeida, no Estado de São Paulo, a doença tem sido constatada com relativa freqüência em amostras enviadas ao Instituto. Nos últimos anos, amostras provenientes das regiões de Franca, Mococa, Serra Negra, Garça, assim como do sul do Estado, municípios de Piraju e Arandú, foram positivas com relação à presença da bactéria. Nessas três últimas regiões, a doença foi constatada em lavouras em formação, causando severos prejuízos. Amostras coletadas em lavouras no Sul de Minas e no Cerrado mineiro também apresentaram a doença com relativa freqüência e, em algumas situações, com gravidade.
De acordo com o diretor da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Franca (Coocapec), Ricardo Lima Andrade, o inverno mais seco evitou que a doença se proliferasse, mas a situação torna-se novamente preocupante com a chegada das chuvas nos meses de agosto e setembro, sobretudo em regiões de altitude acima de 1000 metros e em condições de temperaturas amenas.
A condição verificada no campo é confirmada no laboratório. Flávia Patrício esclarece que a mancha aureolada é uma doença que ataca especialmente as lavouras em formação, sujeitas a ventos frios constantes, como as localizadas nas faces sul e sudeste e em regiões de elevada atitude. “É favorecida ainda por elevada umidade, mas no período mais seco do ano sobrevive nos ramos, sendo essa uma estratégia de sobrevivência da bactéria”, complementa.
Como detectar
Os sintomas são caracterizados por lesões foliares de coloração parda, que podem ser acompanhadas por um halo amarelado (que dá o nome à doença), mas a doença também incide sobre rosetas, frutos novos e ramos do cafeeiro. Quando a bactéria penetra na planta pode causar seca de ramos e desfolha. A mancha aureolada também incide sobre mudas em viveiros, causando lesões nas folhas e seca de hastes, ramos e até do ponteiro. A doença é mais importante em lavouras novas, com até três a quatro anos de idade.
Sintomas causam confusão
Como a doença pode causar seca de ramos e desfolha é, com relativa freqüência, confundida com mancha de phoma, causada por Phoma tarda, ou mesmo distúrbios nutricionais ou climáticos. Um sintoma característico da doença, especialmente no final do período das águas, é que os ramos secam e ficam inicialmente com as folhas murchas, que caem posteriormente. No caso da mancha de phoma, as folhas caem antes que ocorra a seca do ramo, ou na medida em que a seca de ramos ocorre.
O inverso também pode acontecer, ou seja, lesões de cercosporiose, causada por Cercospora coffeicola ou até mesmo de mancha de phoma, especialmente as circundadas por halos amarelados, podem ser confundidas com lesões de mancha aureolada. Para dificultar ainda mais a identificação da bacteriose pelo cafeicultor, pesquisadores do IB e IAC muitas vezes têm verificado a ocorrência simultânea de mancha aureolada e mancha de phoma em uma mesma lavoura, justamente por serem doenças favorecidas por condições ambientais semelhantes.
Medidas de controle
È importante iniciar as medidas de controle ainda na fase de formação das mudas. Os viveiros devem ser instalados em locais adequados e protegidos contra ventos frios. O sistema de irrigação dos viveiros deve ser monitorado, evitando-se vazamentos nos aspersores. “Mudas com sintomas devem se isoladas das demais, para que a doença não se propague para as plântulas sadias. Caso a doença ocorra nos viveiros, as mudas podem ser protegidas com aplicações de fungicidas cúpricos ou de antibióticos, a cada 15 dias”, sugere a pesquisadora do IB.
Para o consultor do CBP&D/Café, Roberto Antônio Tomaziello, as medidas culturais são fundamentais para o controle dessa bacteriose no campo. O controle deve ser principalmente preventivo, por meio da instalação de quebra-ventos, se possível, ainda durante a formação da lavoura. Entre as opções de quebra-ventos temporários sugere-se o milho, a crotalária, o feijão guandu e, entre as espécies permanentes, destacam-se as grevíleas e bananeiras. Quando o cafeicultor for instalar a lavoura em regiões de elevada altitude ou com incidência constante de ventos, é importante que faça com antecedência o planejamento do plantio de quebra-ventos temporários e permanentes. Se a doença estiver presente no campo, podem ser efetuadas pulverizações com cúpricos e antibióticos.
Na busca por resistência
Considerando a importância da mancha aureolada para a cultura do cafeeiro, o pesquisador do IAC, Marcos Rafael Petek está dando continuidade aos estudos iniciados no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), com foco na seleção de progênies de Coffea arábica com resistência a essa doença. Estes estudos mostraram que a cultivar “IAPAR 59” tem resistência suficiente para reduzir os danos causados pelo patótipo de P. syringae pv. garcae presente no Paraná, em regiões de alta incidência do patógeno e que o material “IAPAR 96095”, derivado do cruzamento entre “Catuaí” x “Icatu”, embora tenha apresentado resistência simultânea à ferrugem alaranjada e à mancha aureolada, deverá ser testado em ensaios regionais, antes de disponibilizado aos cafeicultores.
De acordo com Petek, em estudos anteriores foram observados materiais com resistência à mancha aureolada em progênies derivadas do cruzamento entre Caturra e Híbrido Timor (fonte de resistência à ferrugem). A linha de estudo em andamento no IAC tem como objetivo selecionar genes que conferem resistência à bactéria, sobretudo em linhagens derivadas de germoplasmas Icatu, tolerantes à doença, e também a avaliação de outros cultivares comerciais de café, em experimentos realizados no IAC e em ensaios regionais. O projeto de pesquisa também inclui o estudo da variedade Geisha, originária da Etiópia, na qual foi identificada imunidade à bactéria causadora da mancha aureolada. Como esta cultivar apresenta bebida de excelente qualidade, será estudada como material alternativo ao plantio da cultivar Bourbon ou mesmo de outras cultivares suscetíveis, em locais em que a mancha aureolada pode ser limitante para a cafeicultura. As informações são da assessoria de imprensa da Embrapa Café.