Reuters/Brasil Online
Por Peter Murphy e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O fluxo de café nas regiões produtoras do Brasil permanece lento, apesar do tempo bom para a colheita, disseram compradores na terça-feira, e alguns afirmaram que a safra pode ser menor do que a esperada por conta do período seco no ano passado.
“O que nós estamos vendo muito claramente é que a colheita está um pouco menor do que nós imaginávamos”, disse Lucio de Araújo Dias, trader da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo.
Em maio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou a produção brasileira em 45,5 milhões de sacas de 60 quilos. Mas analistas privados e compradores pressionaram o mercado com estimativas superiores a 50 milhões de sacas, o que representaria uma safra recorde, superando as 48 milhões de sacas da colheita de 2002/03.
Mas, com as atividades de venda calmas durante o que seria o pico da colheita, alguns compradores dizem que a perspectiva para safra pode não ser tão brilhante quanto inicialmente esperado.
“Eu acho que as estimativas da Conab serão um bom reflexo da realidade”, disse Dias, sobre a previsão que foi considerada muito baixa por muitos dos operadores privados da indústria.
Em maio, a Cooxupé disse esperar a produção de 46 a 48 milhões de sacas, mas Dias afirmou acreditar que o número ficaria mais próximo de 45 a 47 milhões de sacas.
Ele afirmou que as entregas nos armazéns da cooperativa estavam cerca de 16 por cento abaixo do registrado no mesmo período de 2006.
Aquela safra, como a atual, ocorreu durante o período de alta do ciclo bianual do café, na qual a produção total aumenta, para diminuir no ano seguinte, enquanto as plantas recuperam suas força. No ano passado, de produção menor, o Brasil colheu 33,74 milhões de sacas.
As chuvas chegaram mais tarde do que o de costume no final do ano passado, atrasando a florada, o que, por sua vez, atrasou a colheita em cerca de seis semanas.
AINDA É CEDO
Vando Silvestre, da exportadora Unicafé, disse que a falta de mão-de-obra havia contribuído para o atraso na colheita.
“Eles estão trabalhando em outras culturas e não há trabalhadores o suficiente para o café”, afirmou. Alguns trabalhadores podem ter se desencorajado porque teriam que abrir mão de benefícios sociais, acrescentou.
Produtores alegam que as políticas de salário mínimo tornaram a mão-de-obra muito mais cara.
Luis Alfredo de Almeida, da cooperativa Café Poços, em Poços de Caldas (MG), disse que uma safra de bom tamanho ainda é esperada por ali, mas que tinha ouvido que outras regiões devem produzir menos do que o previsto.
“Agora nós estamos tendo uma idéia melhor da extensão (da seca do ano passado), que é maior do que se esperava”, afirmou, acrescentando que o café estava trocando de mãos entre 235 e 240 reais por saca de 60 quilos.
Outros disseram que ainda era muito cedo para se ter uma clara idéia do tamanho da safra.
“O mercado tem estado muito calmo. Nós não temos comprado praticamente nada e vendido praticamente zero”, disse o trader John Wolthers, da exportadora Comexim, no porto de Santos. “Não vi nada como este ano”, afirmou, referindo-se ao início lento da comercialização.
“Nós dissemos 50 milhões de sacas, e eu ainda acredito nisso. Nós ficamos surpresos com os atrasos na nova safra. Nós temos que ser pacientes”, afirmou.
Sérgio Takehara, trader na Coimex, afirmou que o aperto na oferta seria ressaltado com uma safra menor, especialmente no mercado doméstico, onde os estoques caíram a níveis muito baixos neste ano.
“O fato que eu acho mais importante disso tudo é que, mesmo com 50 milhões, o mercado é equilibrado. Então qualquer problema que tivermos com essa safra, mesmo que seja uma quebra de 5 por cento, vai dar impacto relativamente grande no mercado”, disse ele.