ENTREVISTA – Presidente da ABIC Almir José da Silva Filho

4 de agosto de 2008 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: Jornal Estado de Minas

“Historicamente, a lavoura dividia com a indústria as benesses da cafeicultura, mas isso acabou”


Marcelo Saant’Anna/EM/D.A Press – 2/7/08 
 



Mundo novo para o café


Quando tinha apenas 9 anos, Almir José da Silva Filho formou seu primeiro viveiro de mudas de café, na fazenda do pai, com a variedade mundo novo. E era para isso mesmo que ele estava se preparando, para criar um mundo novo para o café. Depois disso ele cresceu, permaneceu como cafeicultor e hoje, aos 51 anos, está à frente da Café Toko, de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e foi eleito presidente da Associação Brasileira da Indústria do Caféi (Abic). Desde a década de 70 um mineiro não assumia a presidência da entidade. Agora, Almir Filho quer fazer o máximo para estabelecer uma aliança entre a lavoura e a indústria na busca por qualidade, produtividade e valorização. O cafeicultor e empresário não teme desafios. Gosta deles. Tanto que é pára-quedista. “Bati o recorde brasileiro em 2000 e fiz 83 saltos entre o amanhecer e o pôr-do-sol”, conta.


Quais é seu principal desafio à frente da Abic?


É estabelecer uma aliança com a cafeicultura, visando a remuneração justa para o produtor e gerando a qualidade desejada pelo consumidor.


O que precisa ser feito, uma vez que há um certo estranhamento histórico entre indústria e produtor?


Historicamente, a lavoura tinha de dividir com a indústria as benesses do agronegócio café, do setor cafeeiro. Havia disputa por recursos. Mas isso não é mais realidade. Não tem mais benesse para ninguém e a lavoura tem a indústria como grande cliente. Essa boa relação é muito importante para a sustentação da cafeicultura nacional. Não vai ser fácil mas temos muitos pontos em comum, que é o aperfeiçoamento da genética, da produtividade, a busca da sustentabilidade. Vejo que há uma sinergia muito grande. Temos que nos concentrar nesses pontos comuns para trabalhar a quatro mãos e construir uma base sólida tanto para a indústria quanto para a cafeicultura nacional.


Há projetos para aumentar ganhos com valor agregado para a indústria nacional e, conseqüentemente, valorizar o produtor também?


Sim. Esse é um processo que foi iniciado na última década. A Abic já vem fazendo um esforço conjunto com a Apex para exportação de café industrializado. E nós temos por missão ir removendo as barreiras e obstáculos que ainda existem. O Brasil é reconhecido como grande exportador de grão verde mas não é reconhecido como vendedor de produtos industrializados.


Como está a balança de exportações?


Em 2007, vendemos US$ 26,6 milhões de café industrializado para outros países, contra US$ 3,8 bilhões de verde e solúvel. O número foi pequeno, mas dá para comemorar, porque, em 2002, as exportações de café industrializado movimentaram apenas US$ 4 milhões. Na última década é que fortalecemos esse esforço. E o salto de 2002 para 2007 foi de 700%. Para este ano, devemos faturar perto de US$ 30 milhões, com exportações. Essa é a meta traçada com a Apex.


Mas o valor atual do dólar não ajuda muito o agronegócio do café, não é?


O dólar é desconfortável. Com essa defasagem cambial corrigida, tanto a lavoura quanto a indústria teriam um desempenho aquecido, porque o mercado internacional é favorável. Os estoques são os menores dos últimos 50 anos. Hoje, estamos com preços médios US$ 1,40 por libra peso. É um bom patamar. O que compromete é o câmbio. Mas o café vem conseguindo sobreviver por causa da qualidade, melhoria de produtividade, por entrar em mercados que remuneram um pouco melhor.


O café foi a base da industrialização do país e agora é menos prestigiado do que em outras épocas. O que diz disso?


O café gerou receita para industrializar o país. Em São Paulo, e mesmo em Minas Gerais, a receita do café foi decisiva. Bancos e muitas indústrias têm suas raízes no café. O Brasil desenvolveu muito em outras áreas. Não foi o café que perdeu, mas o país que conseguiu avançar em outras áreas. O Brasil ainda é o maior exportador de café do mundo, com mais de 30% do abastecimento do mercado mundial, é o maior produtor e o segundo maior consumidor do mundo.


Quanto essa indústria do café movimenta hoje?


Estimamos que nossas vendas vão alcançar R$ 6,8 bilhões este ano, só de café industrializado. É um crescimento de 4%, real, sem a inflação, frente ao ano passado. Nos últimos 15 anos, o consumo interno vem crescendo sistematicamente. Saímos de um consumo per capita de 2,6 quilo/ano para 4,43. Em 2007, o crescimento real do mercado foi de 4,75%. Agora vem se sustentando. O mercado interno consumia 6,5 milhões de sacas, em 1980. Nossa meta para este ano é de ultrapassar 18 milhões de sacas. Estamos em um bom caminho.


 




Nossa meta é estabelecer uma aliança com
a cafeicultura, por uma remuneração justa
para o produtor e gerando qualidade para o consumidor


 
 

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