Opinião – Fertilizantes. Consumo recorde?

Por: 02/08/2008 06:08:35 - Diário da Manhã - GO

As previsões divulgadas pelo setor de fertilizantes para 2008 são otimistas, mesmo com os preços em alta. Apesar dos elevados valores pagos pelo produto no Brasil, os fabricantes acreditam que o consumo tende a ser recorde esse ano. Segundo projeções, serão mais de 26 milhões de toneladas, contra as 24,6 milhões do ano anterior. A escalada dos preços dos adubos estimulou a antecipação das compras por parte dos agricultores para a safra de verão 2008/2009, pois se temia elevações muito significativas nos custos de produção, como de fato aconteceu.


O aumento do consumo de fertilizante no Brasil foi causado pela explosão da cultura da cana-de-açúcar, especialmente na região Centro-Sul, em resposta à procura por bioenergia, pelo maior uso do produto na cultura do trigo – que teve áreas aumentadas e intensificação da tecnologia empregada – e pelo aumento de dosagens na cultura do café frente à boa perspectiva de preços nas bolsas internacionais.


Nos cinco primeiros meses de 2008, a entrega de fertilizantes ao consumidor final totalizou cerca de nove milhões de toneladas, quantidade 20% superior se comparado ao mesmo período do ano anterior. As importações brasileiras do produto foram 14% superiores às registradas nos primeiros cinco meses de 2007, somando 6,8 milhões de toneladas, segundo dados divulgados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).


O aumento da demanda mundial por fertilizantes é explicado em função de China e Índia – por uma questão de segurança alimentar – estarem aumentando áreas plantadas e, conseqüentemente, consumindo mais fertilizantes. Além disso, os Estados Unidos serão, ao invés de exportadores, importadores de fertilizantes e aumentarão ainda mais a demanda pelo produto.


Como o consumo está aquecido não só no Brasil, mas em todo o mundo, os custos dos fertilizantes se elevaram. Um estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostrou que algumas matérias-primas subiram mais de 40% neste ano, caso do fertilizante nitrogenado sulfato de amônia.


Não existem perspectivas de baixa nos preços desses insumos, pois é inegável o fato de que as matérias-primas, além do impacto do aumento da demanda internacional, sofrerão os impactos nos aumentos futuros do petróleo. Esses aumentos afetarão não somente as matérias-primas, mas também os custos do transporte marítimo e rodoviário. Esse cenário coloca em dúvida o otimismo do setor de fertilizantes quanto ao recorde de consumo. Os produtores estão sentindo o pesado custo que terá a safra deste ano.


O ponto vantajoso do uso de fertilizantes é sem dúvida o aumento da produtividade. Mas com a elevação dos preços e, conseqüente, aumento dos custos de produção, se faz necessário avaliar a quantidade de nutrientes do solo. Há casos em que o agricultor aplica fertilizante em excesso, esperando elevar a produtividade, e o resultado são valores não significativos. Daí a importância de se optar pela agricultura de precisão e evitar desperdícios. Nesse momento de crise dos insumos, a gestão de custos e riscos da propriedade ajuda a evitar problemas ainda maiores com endividamento rural.


Alexandro Alves
é engenheiro agrônomo e assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg)
 
 

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