ECONOMIA – 06/07/2008
Por Janaína Oliveira
Em 2007, o mercado brasileiro consumiu 17,1 milhões de sacas de café, um acréscimo de 4,74% em relação ao ano anterior, que havia registrado consumo de 16,3 milhões de sacas. A previsão do setor para 2008 é o país saltar para um consumo de 18,1 milhões de sacas, com vendas de R$ 6,8 bilhões. E a meta para 2010 é chegar a um consumo interno de 21 milhões de sacas, passando o Brasil a ser o maior consumidor mundial. Com o aumento do consumo, a tendência é que o cafezinho fique mais caro. Nesta entrevista, o novo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Almir José da Silva Filho, exalta o sabor e a qualidade da bebida, mas reclama dos custos na lavoura e estima um encarecimento da xícara. «Desde a implantação do Plano Real, há 14 anos, o café só subiu 40% para o consumidor. Em contrapartida, o salário mínimo aumentou 500% e a energia elétrica está 600% mais cara. A nossa expectativa é de que, finalmente, haja correção dos valores», afirma. Mineiro de Rosário da Limeira, cidade de pouco mais de 4 mil habitantes, localizada na Zona da Mata, Almir Filho vê com naturalidade o posto que acaba de ocupar. «É natural que um mineiro chegue a presidente da Abic, até pela imensa importância do Estado nos cenários nacional e mundial», diz. No Brasil, o café é produzido em 11 estados e em 1.850 municípios. São 2,3 milhões de hectares plantados, e a produtividade média é de 21,63 sacas por hectare. Mas é em Minas onde está a maior produção: 22,9 milhões de sacas.
HD – Como está a média da saca de café paga ao produtor? Obedecendo ao ciclo bianual da planta, quais as suas expectativas sobre o preço pago?
ALMIR – O Brasil tem mantido sua participação no mercado internacional, mas o produtor de café está em situação desconfortável, principalmente em relação à variação cambial. Hoje, a saca do grão verde é vendida a R$ 250. Mas o preço não paga o custo da produção. Quanto às perspectivas futuras, infelizmente não há nada de mágico para acontecer. A esperança é que voltemos a equilibrar as contas, que não estão fechando.
HD – Até que ponto o aumento dos preços dos insumos tem repercutido negativamente na cadeia do café, inclusive na ponta do consumo?
ALMIR – Desde a implantação do Plano Real, há 14 anos, o café só subiu 40% para o consumidor. Em contrapartida, o salário mínimo aumentou 500%, a energia elétrica está 600% mais cara e a inflação beira os 300%. Além disso, o grão verde e os impostos representam 65% do preço final da indústria. Se sobe tão pouco para o consumidor, a cadeia daí para trás fica sacrificada. Mas a nossa expectativa é de que, finalmente, haja correção dos valores.
HD – O paladar do consumidor está mais exigente. A qualidade do café tem acompanhado o aprimoramento do paladar?
ALMIR – O café vem melhorando sistematicamente a cada ano e isso é reflexo do comportamento do consumidor. O selo de pureza, que é precursor do selo da qualidade, já tem quase 20 anos e manteve a fraude sob controle. Hoje, das mais de 2 mil marcas do mercado, cerca de 300 são certificadas. E Minas Gerais é campeã neste quesito. Mais da metade das marcas do Estado, aproximadamente 26, têm a certificação.
HD – A qualidade do café brasileiro é superior à dos outros concorrentes mundiais?
ALMIR – O café brasileiro não é superior ao dos concorrentes. Temos qualidade equivalente, mas o país ganha em variedade. O que acontece é que o produto do Brasil atende a todos os paladares e possui os mais diferentes sabores, capazes de seduzir qualquer consumidor, em qualquer parte do mundo. Anualmente, o país produz de 45 a 50 milhões de sacas, enquanto o Vietnã, segundo colocado, é responsável por 17,5 milhões de sacas. O café brasileiro responde por 30% de todo o grão exportado no mundo.
HD – O brasileiro é um bom bebedor de café?
ALMIR – O consumo per capita no país é de 4,43 quilos por ano, enquanto os países nórdicos consomem 8,5 quilos. Em sacas, o Brasil consome 17 milhões, menos que os Estados Unidos, que ficam entre 18 e 20 milhões. Portanto, ainda há muito potencial para ser explorado e muito consumidor para ser conquistado, não só aqui como no mundo todo. O chinês, por exemplo, só agora está começando a adquirir o gosto pela bebida.
O senhor atua no mercado mineiro por meio da torrefadora Café Toko. Como está esse mercado?
ALMIR – Sou um cidadão genuinamente mineiro. Nasci em Rosário da Limeira, na Zona da Mata, e minhas lavouras estão em solo mineiro. E é com grande satisfação que presencio a melhora constante da qualidade do café de Minas. A tecnologia que se aplica aqui é equivalente à dos grandes produtores mundiais. Dos 853 municípios mineiros, 663 são produtores de café.
HD – Quais os principais desafios que o senhor terá enquanto novo presidente da Abic?
ALMIR – O principal desafio é desenvolver rentabilidade e sustentabilidade para o agronegócio. Indústria, lavoura e cafeicultura terão que se abraçar numa aliança sólida para que a atividade seja bem remunerada. Para um café de boa qualidade, os setores devem ser convencidos de que são interdependentes.