Grãos encerram o semestre com expressiva valorização

Por: Valor Econômico

AGRONEGÓCIOS
01/07/2008 
  
Fernando Lopes, Alda do Amaral Rocha e Mônica Scaramuzzo

Após encerrarem maio com variações médias mensais pequenas e pouca pressão adicional sobre a já explosiva inflação global dos alimentos, as cotações de quase todas as principais commodities agrícolas negociadas nas bolsas de Chicago e Nova York voltaram a registrar ganhos expressivos em junho.


Os novos saltos colaboraram para que as cotações médias de sete dos oito produtos agrícolas mais importantes transacionados nessas bolsas encerrassem o primeiro semestre deste ano com ganhos em relação ao segundo semestre de 2007. De quebra, também ajudaram o índice CRB, composto por 19 commodities de diferentes segmentos, a subir 29% de janeiro a junho, disparada que não se via desde o choque do petróleo de 1973.


Commodity com maior movimentação financeira e, assim, maior influência no CRB, o petróleo segue a contagiar os produtos agrícolas, pelo peso nas carteiras dos fundos de índice ou pelos reflexos nos preços das matérias-primas para a produção de biocombustíveis, casos de soja e milho.


Em junho, as cotações de soja e milho, além de trigo e algodão, também foram sustentadas pelos danos causados pelas fortes chuvas que inundaram regiões produtoras do Meio-Oeste americano, sobretudo Iowa, principal Estado produtor de grãos dos EUA.


Negociadas em Chicago, soja, milho e trigo são as commodities agrícolas de maior liquidez. Base para a alimentação humana e animal, as três subiram em junho e no semestre, mantendo a pressão inflacionária em níveis preocupantes apesar de alguns analistas já enxergarem nos preços elevados barreiras naturais ao consumo – e, consequentemente, a novos aumentos -, também nos aquecidos países emergentes.


Cálculos do Valor Data baseados nos valores médios dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente as de maior liquidez) dos produtos agrícolas negociados nas duas bolsas americanas mostram que as variações mais expressivas continuam a movimentar Chicago.


Em junho, o destaque foi o milho. O bushel do grão atingiu US$ 7,1262 no mês, 16,88% acima da média de maio e maior média mensal da história. No semestre, o preço médio atingiu US$ 5,8589, 55,58% mais que no segundo semestre do ano passado e também um recorde para o período. Analistas observam que nenhuma outra cultura refletiu tanto as inundações no Meio-Oeste como o milho, o que ajuda a explicar a “liderança” do grão na lista das valorizações.


O salto de julho foi confirmado apesar do surpreendente relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgado ontem, que apagou o rastilho altista ao estimar uma área de plantio maior do que se esperava no país nesta safra 2008/09 (87,3 milhões de acres). O relatório provocou limite de baixa para o milho em Chicago.


Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado, observou, porém, que o novo levantamento ainda não trouxe informações sobre perdas em áreas de plantio inundadas em junho, já que foi finalizado em maio. Assim, o número da área plantada com milho pode ser diferente do divulgado ontem.


A soja registrou menos máximas históricas em Chicago em junho, mas ainda assim seu preço médio mensal foi recorde (US$ 15,0563 por bushel), 12,58% superior ao de maio. A média mensal (US$ 13,6657) também é inédita, e nos últimos doze meses sua ascensão (81,02%) só perde para a do milho (83,09%) entre as oito commodities pesquisadas pelo Valor Data.


“Vivemos uma fase em que, para cima, todo o santo ajuda”, diz Vinícius Ito, analista da Newedge baseado em Nova York. Segundo ele, o cenário de estoques de grãos relativamente baixos prevalece e a demanda global segue firme, apesar da expectativa de especialistas americanos de que os preços devem começar a limitá-la.


Nesse sentido, Ito ressalva que a demanda por grãos americanos segue especialmente forte, em parte por conta das restrições às exportações na Argentina. O país sul-americano é grande exportador de soja, milho e trigo, e os conflitos entre produtores e governo colaborou para alguns dos recordes de preços observados no primeiro semestre deste ano.


O trigo subiu 9,39% em Chicago em junho na comparação com maio, nos últimos doze meses o salto atingiu 46,96% e sua cotação média semestral foi 17,6% superior à observada entre julho e dezembro de 2007. Deflacionados pelo PPI (índice de preços ao consumidor americano), as variações dos grãos perdem, nos últimos doze meses, em torno de 10 pontos percentuais.


Ainda que a preocupação inflacionária esteja concentrada em Chicago, em Nova York as principais “soft” commodities que movimentam menos contratos e são até mais suscetíveis aos movimentos especulativos, que estão na mira das autoridades dos EUA -também estão em alta.


Produzido basicamente na África, o cacau é o produto que mais subiu no mercado nova-iorquino em junho (13,19%) e acumula os ganhos mais expressivos em doze meses (55,54%), por conta da especulação. Em doze meses, o algodão, que normalmente oscila sob forte influência dos grãos em Chicago, vem em seguida (29,62%).


Já as perspectivas para café e açúcar voltaram a ficar positivas, com fundamentos consistentes de alta, independentemente das guinadas de fundos e especuladores.


Para o café, pelo menos no curto e médio prazo, o clima no Brasil ditará as regras do jogo. “Tivemos um aumento de preços no início de junho porque o começo do inverno no Brasil gerou especulações de que as geadas poderiam afetar os cafezais”, disse Márcio Rodrigues Bernardo, da Newedge. Os riscos não se confirmaram, mas o atraso na colheita de arábica no país segue oferecendo suporte. Segundo Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), os baixos estoques globais também.


No caso do açúcar, o Brasil também guiará as cotações. Nos últimos dois anos, a Índia foi o principal fundamento negativo para o mercado mundial. “O atraso da colheita da cana no centro-sul e a perspectiva de menor produção de álcool que o projetado mexeu com o mercado”, afirma Bernardo. 


 

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Grãos encerram o semestre com expressiva valorização

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Após encerrarem maio com variações médias mensais pequenas e pouca pressão adicional sobre a já explosiva inflação global dos alimentos, as cotações de quase todas as principais commodities agrícolas negociadas nas bolsas de Chicago e Nova York voltaram a registrar ganhos expressivos em junho.


Os novos saltos colaboraram para que as cotações médias de sete dos oito produtos agrícolas mais importantes transacionados nessas bolsas encerrassem o primeiro semestre deste ano com ganhos em relação ao segundo semestre de 2007. De quebra, também ajudaram o índice CRB, composto por 19 commodities de diferentes segmentos, a subir 29% de janeiro a junho, disparada que não se via desde o choque do petróleo de 1973.


Commodity com maior movimentação financeira e, assim, maior influência no CRB, o petróleo segue a contagiar os produtos agrícolas, pelo peso nas carteiras dos fundos de índice ou pelos reflexos nos preços das matérias-primas para a produção de biocombustíveis, casos de soja e milho.


Em junho, as cotações de soja e milho, além de trigo e algodão, também foram sustentadas pelos danos causados pelas fortes chuvas que inundaram regiões produtoras do Meio-Oeste americano, sobretudo Iowa, principal Estado produtor de grãos dos EUA.


Negociadas em Chicago, soja, milho e trigo são as commodities agrícolas de maior liquidez. Base para a alimentação humana e animal, as três subiram em junho e no semestre, mantendo a pressão inflacionária em níveis preocupantes apesar de alguns analistas já enxergarem nos preços elevados barreiras naturais ao consumo – e, consequentemente, a novos aumentos -, também nos aquecidos países emergentes.


Cálculos do Valor Data baseados nos valores médios dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente as de maior liquidez) dos produtos agrícolas negociados nas duas bolsas americanas mostram que as variações mais expressivas continuam a movimentar Chicago.


Em junho, o destaque foi o milho. O bushel do grão atingiu US$ 7,1262 no mês, 16,88% acima da média de maio e maior média mensal da história. No semestre, o preço médio atingiu US$ 5,8589, 55,58% mais que no segundo semestre do ano passado e também um recorde para o período. Analistas observam que nenhuma outra cultura refletiu tanto as inundações no Meio-Oeste como o milho, o que ajuda a explicar a “liderança” do grão na lista das valorizações.


O salto de julho foi confirmado apesar do surpreendente relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgado ontem, que apagou o rastilho altista ao estimar uma área de plantio maior do que se esperava no país nesta safra 2008/09 (87,3 milhões de acres). O relatório provocou limite de baixa para o milho em Chicago.


Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado, observou, porém, que o novo levantamento ainda não trouxe informações sobre perdas em áreas de plantio inundadas em junho, já que foi finalizado em maio. Assim, o número da área plantada com milho pode ser diferente do divulgado ontem.


A soja registrou menos máximas históricas em Chicago em junho, mas ainda assim seu preço médio mensal foi recorde (US$ 15,0563 por bushel), 12,58% superior ao de maio. A média mensal (US$ 13,6657) também é inédita, e nos últimos doze meses sua ascensão (81,02%) só perde para a do milho (83,09%) entre as oito commodities pesquisadas pelo Valor Data.


“Vivemos uma fase em que, para cima, todo o santo ajuda”, diz Vinícius Ito, analista da Newedge baseado em Nova York. Segundo ele, o cenário de estoques de grãos relativamente baixos prevalece e a demanda global segue firme, apesar da expectativa de especialistas americanos de que os preços devem começar a limitá-la.


Nesse sentido, Ito ressalva que a demanda por grãos americanos segue especialmente forte, em parte por conta das restrições às exportações na Argentina. O país sul-americano é grande exportador de soja, milho e trigo, e os conflitos entre produtores e governo colaborou para alguns dos recordes de preços observados no primeiro semestre deste ano.


O trigo subiu 9,39% em Chicago em junho na comparação com maio, nos últimos doze meses o salto atingiu 46,96% e sua cotação média semestral foi 17,6% superior à observada entre julho e dezembro de 2007. Deflacionados pelo PPI (índice de preços ao consumidor americano), as variações dos grãos perdem, nos últimos doze meses, em torno de 10 pontos percentuais.


Ainda que a preocupação inflacionária esteja concentrada em Chicago, em Nova York as principais “soft” commodities que movimentam menos contratos e são até mais suscetíveis aos movimentos especulativos, que estão na mira das autoridades dos EUA -também estão em alta.


Produzido basicamente na África, o cacau é o produto que mais subiu no mercado nova-iorquino em junho (13,19%) e acumula os ganhos mais expressivos em doze meses (55,54%), por conta da especulação. Em doze meses, o algodão, que normalmente oscila sob forte influência dos grãos em Chicago, vem em seguida (29,62%).


Já as perspectivas para café e açúcar voltaram a ficar positivas, com fundamentos consistentes de alta, independentemente das guinadas de fundos e especuladores.


Para o café, pelo menos no curto e médio prazo, o clima no Brasil ditará as regras do jogo. “Tivemos um aumento de preços no início de junho porque o começo do inverno no Brasil gerou especulações de que as geadas poderiam afetar os cafezais”, disse Márcio Rodrigues Bernardo, da Newedge. Os riscos não se confirmaram, mas o atraso na colheita de arábica no país segue oferecendo suporte. Segundo Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), os baixos estoques globais também.


No caso do açúcar, o Brasil também guiará as cotações. Nos últimos dois anos, a Índia foi o principal fundamento negativo para o mercado mundial. “O atraso da colheita da cana no centro-sul e a perspectiva de menor produção de álcool que o projetado mexeu com o mercado”, afirma Bernardo.
 

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