Data Publicação: 18/04/08
Para os analistas ouvidos pelo DCI a elevação da taxa básica de juros (Selic) em 50 pontos-base, para 11,75% ao ano, anunciada esta semana pelo Banco Central, além de pouco eficaz no controle do aumento dos preços dos alimentos poderá reduzir a margem dos produtores em razão da desvalorização do dólar e do incremento dos juros na tomada de novos financiamentos.
A previsão é a de que a medida não cumprirá seu objetivo de conter a inflação já que a mesma está sendo puxada pelo preço dos alimentos que sofre influência direta de fatores externos como aumento da demanda mundial por alimentos e redução dos estoques das principais commodities agrícolas.
“Esse impacto da taxa de juros vai trazer um custo maior para os produtos que precisam de um financiamento”, avalia Carlos Widonski, gerente da mesa de commodities do Banco Fator.
Em contrapartida o especialista ressalta que os insumos ficarão mais baratos uma vez que a matéria-prima é cotada em dólar.
Emmanuel Zullo Godinho, gerente comercial agrícola corretora Souza Barros, também prevê um repasse do aumento de juros para o financiamento agrícola e um comprometimento da renda do agricultor . “Quem vende commodity no mercado futuro vai precisar se proteger. Desde o anúncio do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] o dólar já caiu e, principalmente agora no período da colheita, essa queda pode afetar o rendimento do produtor no futuro”, diz. “O produtor tem que ir na BM&F [Bolsa de Mercadorias & Futuros] e fazer o hedge de dólar”, recomenda Godinho.
Com os preços das commodities agrícolas sendo orientados internacionalmente a expectativa continua sendo de alta para o preço dos alimentos no mercado doméstico. “O setor agrícola sobrevive muito de exportação e dado a demanda mundial e do mercado interno os alimentos não irão voltar ao patamar de preço de dois anos atrás”, afirma Anderson Nascimento, analista da corretora Hencorp Commor.
Para Maria Auxiliadora de Carvalho, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), não vai ser uma taxa de juros maior ou menor que irá reduzir a inflação. “É problema de safra e uma questão de demanda., não tem como conter a inflação dos alimentos com juros”, diz . “Não só não vai ter um impacto como será ruim para a sociedade, que vai ter seu poder de compra reduzido e para o produtor que perde com a apreciação do câmbio”, avalia.
Editoria: AGRONEGÓCIOS