Dólar preocupa, diz Meirelles

Por: O ESTADO DE S. PAULO

Para presidente do BC, mercados de câmbio estão muito voláteis, e a situação dos EUA está se deteriorando


Jamil Chade


O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a desvalorização do dólar “é preocupante” e a situação da economia dos Estados Unidos está se deteriorando. “Os mercados (de câmbio) estão muito voláteis, e isso é certamente algo preocupante. Não há dúvida de que a situação do dólar é preocupante”, disse Meirelles, ao concluir dois dias de reuniões com os presidentes de BCs de todo o mundo na Basiléia para debater o cenário internacional. O Banco Central Europeu (BCE) também atacou a desvalorização do dólar, alertando que uma moeda forte seria de interesse do próprio governo americano.


Meirelles, porém, negou que o problema seja com o real, e preferiu não dar sugestões aos exportadores, que sofrem com a mudança no câmbio. Questionado se o Brasil tomaria alguma medida para evitar a volatilidade e a valorização, o presidente do BC manteve a discrição. “O importante é manter políticas adequadas e sólidas. O problema do dólar é um problema dos Estados Unidos e mundial. Não é um problema relacionado especificamente ao real, mas a todas as moedas. É um problema global.”


Para ele, seria prematuro falar em queda das exportações brasileiras para os Estados Unidos. “Hoje, exportamos menos para os Estados Unidos – apenas cerca de 15% de nossas vendas. Além disso, os preços das commodities ainda estão muito fortes”, afirmou.


Meirelles reconheceu que a situação vivida hoje nos Estados Unidos não é fácil. “Não há dúvida que a situação americana hoje é mais séria que há 60 dias.” Mas evitou classificar o cenário de uma recessão. “O quadro é de bastante incerteza e demanda a atenção de todos os bancos centrais.”


Na avaliação do BC brasileiro, os países mais vulneráveis e os primeiros que seriam atingidos por uma recessão são aqueles que têm grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) ligada à economia americana. “Os grandes países emergentes estão com mercados domésticos fortes e em expansão. O Brasil é o melhor exemplo e tem as melhores condições de absorver o potencial problema de exportação aos EUA, que sempre tem conseqüências tão graves.”


Ontem, as autoridades monetárias da Europa também deixaram claro que não estarão dispostas a bancar um dólar fraco, e alertaram Washington para que tome medidas a fim de evitar uma desvalorização ainda maior da moeda americana em relação ao euro. “A excessiva volatilidade (do dólar) é indesejável para o crescimento da economia diante das atuais circunstâncias”, disse o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.


Os comentários fizeram com que o euro recuperasse algum terreno durante o dia de ontem. Mas a relação entre as duas moedas atingiu níveis sem precedentes nos últimos dias. Exportadores europeus temem que a desvalorização do dólar acabe freando a competitividade do bloco no mercado internacional. “Estamos preocupados com o excessivo movimento das taxas de câmbio”, disse Trichet, alertando que os BCs teriam de continuar “extremamente atentos” às tendências.


Na prática, Trichet deu um recado aos americanos. O desequilíbrio nas contas comerciais dos EUA não poderá ser resolvido apenas com uma desvalorização do dólar, já que isso afetará outras economias.


 

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