O jurista Saulo Ramos captou em versos a essência dos cafezais

20 de dezembro de 2007 | Sem comentários Especiais Mais Café
Por: Dinheiro Rural

ESTILO NO CAMPO
19/12/2007
 
O poeta do café 
 
LEONARDO ATTUCH
Saulo Ramos, um dos juristas mais talentosos do País, guardou suas memórias no baú por muito tempo. Decidiu publicá-las neste ano no livro Código da Vida, que rapidamente entrou na lista de “mais vendidos”. 0 talento literário de Saulo, no entanto, vem da mocidade. Aos 16 anos, a mesma idade com que o francês Rimbaud produziu seus melhores versos, Saulo escreveu Café -A Poesia da Terra e das Enxadas. É um livro que merece ser lido. Não só pela qualidade poética do autor como pelo registro histórico de um tempo em que o café, maior produto de exportação do Brasil até a década de 50, já mostrava sinais de declínio. Saulo viveu essa época. Filho de fazendeiros, ele nasceu em Brodósqui, a mesma cidade do pintor Cândido Portinari, que também retratou a cultura cafeeira em várias de suas telas. Nos seus poemas, Saulo escreve sobre as derrubadas das matas, a capina das lavouras e os cãnticos dos imigrantes. Ao falar dos rituais de preparação do campo para a semeadura, sua poesia assume ares eróticos e canta uma “terra doida de desejos que espera a fecundação” e recebe a “dança sádica, das enxadas”.


A decadência do café também foi captada pelo jovem escritor. Saulo viveu num mundo em que os fazendeiros – e também seus filhos – eram vistos como ricos, mas contavam dinheiro todos os anos e esperavam por milagres nas safras seguintes. Naquele tempo, as geadas começavam a dizimar os cafezais paulistas e a cultura migrava para solos mais seguros, como os de Minas Gerais. No poema Chuva de Pedra, Saulo escreve que “as pedras brancas de gelo, aos olhos do fazendeiro, eram flores derretidas das floradas do futuro”. E termina contrapondo a dor do fazendeiro à alegria das crianças, que brincavam na chuva. “Que importava, nesse dia, de trovão e de alegria, de granizo sem juízo, a pobreza do patrão?”, pergunta o poeta.
 

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