Selo de comércio justo pode beneficiar agricultores de café

Por: Globo

Agricultores no Brasil recebem pelo menos R$ 4,68 por quilo de café.
A taxa atual de mercado é de cerca de R$ 3,80 por quilo.

Do New York Times
 


NYT

O agricultor brasileiro Rafael de Paiva, que recebeu um certificado de ‘comércio justo’ pela sua safra de café. (Foto: NYT)


 


Rafael de Paiva em princípio estava descrente. Se quisesse receber um certificado de “comércio justo” para sua safra de café, o agricultor brasileiro teria que cumprir uma extensa lista de normas sobre uso de pesticidas, técnicas de cultivo, reciclagem, entre outras. Precisaria inclusive comprovar que os filhos estavam matriculados na escola.


No entanto, o prêmio de 20% que ele recebeu recentemente por sua primeira safra certificada como comércio justo fez com que o esforço valesse a pena.


A probabilidade é que mais agricultores recebam esse tipo de proposta, à medida que importadores e varejistas se apressam para atender uma crescente demanda de consumidores e ativistas para a adesão a padrões ambientais e sociais mais rígidos.


Neste mês, os grãos cultivados por Paiva estarão na marca comercial de café vendida pela Sam’s Club, a rede de atacado da Wal-Mart. Outras redes, como Dunkin’ Donuts, McDonald’s e Starbucks, já vendem alguns cafés do selo comércio justo.


“Temos agora um impulso nessa direção, com grandes empresas e instituições aderindo ao comércio justo”, contou Paul Rice, presidente e diretor executivo da TransFair USA, a única certificadora independente de comércio justo nos Estados Unidos.


 Preço
Os agricultores do comércio justo no Brasil recebem pelo menos R$ 4,68 por quilo de café, comparado com a taxa atual de mercado de cerca de R$ 3,80 por quilo, contou Sydney Marques de Paiva, presidente da Café Bom Dia.


A maioria dos agricultores de café é organizada em cooperativas e parte do prêmio é redirecionado para a comunidade para financiar projetos sociais como escolas ou água potável.


Assim como a maioria dos cerca de 3.000 membros de sua cooperativa, e três quartos dos agricultores de café do mundo, Paiva, o agricultor de café, cultiva menos de 25 acres de terra. Ele produz cerca de 200 sacas de 50 quilos para a cooperativa, sendo que 70% dessa quantia é vendida como comércio justo para a Café Bom Dia.


A safra do comércio justo rendeu a Paiva cerca de R$ 258,00 por saca, comparados com cerca de R$ 230,00 para as sacas que não são do selo comércio justo. Neste ano, rendeu a ele um extra de R$ 3.920, uma quantia enorme nas pobres montanhas de Minas.


 Marginalizados
A Associação Internacional de Comércio Justo, uma instituição formada por organizações em mais de 70 países, define comércio justo como aquele que reflete “a preocupação com o bem-estar social, econômico e ambiental de pequenos produtores marginalizados” e aquele que “não maximiza os lucros à custa desses produtores”.


 


 
De acordo com a Fairtrade Labelling Organizations International, um grupo de certificadoras de comércio justo atuando no mundo inteiro, os consumidores gastavam cerca de US$ 2,2 bilhões em produtos certificados em 2006, um aumento de 42% em relação ao ano anterior, beneficiando mais de 7 milhões de pessoas em países em desenvolvimento.


Os produtos de comércio justo que tiveram o maior salto na demanda incluem café, coco e algodão. Dezenas de outros produtos, como chá, abacaxi, vinho e flores, são certificados por organizações especializadas, que visitam os agricultores a fim de checar se estão cumprindo os diversos critérios que proíbem, por exemplo, o uso de mão-de-obra infantil e produtos químicos perigosos.


 


 Selo
Grandes redes comerciais estão comercializando o café do comércio justo em diversos níveis. Todos os cafés expresso servidos nas 5.400 lojas do Dunkin’ Donuts nos Estados Unidos, por exemplo, levam o selo de comércio justo. Todas as lojas do McDonald’s em New England vendem apenas café com o selo comércio justo. No ano passado, a Starbucks comprou 50% mais cafés com o selo do que em 2005.


As mercadorias do comércio justo continuam representando uma porcentagem minúscula do comércio mundial, mas estão se expandindo. Somente 3,3% do café vendido nos EUA no ano passado eram certificados com o selo comércio justo, mas esse número representou mais de oito vezes o registrado em 2001, segundo a TransFair USA.


Michael Ellgass, diretor de marcas comerciais da Sam’s Club, contou que a empresa teve condições de pagar o prêmio do comércio justo e ainda manter o preço baixo de seu café de marca própria porque diminuiu a quantidade de intermediários.


Em geral, o café sai do agricultor e passa por torrefadoras, embaladoras, negociadores, transportadoras e depósitos até chegar às lojas. Mas a Sam’s Club comprará mercadorias prontas para vender diretamente da Café Bom Dia, a torrefadora que fica no Brasil.


 


 Críticas
Alguns críticos do comércio justo afirmam que trabalhar com milhares de pequenos agricultores dificulta o cumprimento à risca das normas exigidas pelo selo.


Outros argumentam que o café do comércio justo é tão explorador quanto o do comércio convencional, sobretudo nos países produtores dos grãos de maior qualidade, como Colômbia, Etiópia e Guatemala. Os agricultores do comércio justo nesses locais mal-e-mal recebem mais do que seus equivalentes no Brasil, embora suas safras se tornem marcas gourmet, vendidas muito acima do preço, declarou Geoff Watts, vice-presidente da área de café da Intelligentsia Coffee & Tea, importadora de café sediada em Chicago.

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