Inovar para crescer

Por: Jornal de Brasilia

 
 OPINIÃO
28/09/2007
 
Inovar para crescer
 
 
Jeroen Klink e Luis Paulo Bresciani
É possível conciliar teoria e prática, de modo que isso se traduza em projetos concretos? A resposta à questão, ainda polêmica junto ao meio acadêmico, é única. A pesquisa deve, sim, acompanhar os rumos do mercado e assumir o papel, fundamental em muitos casos, de fomentar novos negócios.


Não há meio termo nesse processo. As inovações tecnológicas têm de romper o muro das faculdades e, preferencialmente, ajudar a transformar esse conhecimento em uma fonte de renda. É fato que as pesquisas representam um momento de reflexão e refinamento da ciência pura. Mas se a sua aplicação se restringir às salas de aula, elas só servirão para consulta nas estantes empoeiradas das bibliotecas das universidades.


De nada adianta o Brasil fazer parte do grupo das maiores economias mundiais se a Nação ainda está longe de ocupar uma posição satisfatória quando se fala em competitividade. Segundo a Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), o País tem um dos dez maiores parques industriais do mundo, mas fabrica, principalmente, produtos de baixo e médio valor agregado. Isso ocorre porque as linhas de financiamento a projetos de pesquisa e desenvolvimento são recentes e pouco consolidadas, e não há também uma cultura inovadora por parte da imensa maioria das empresas — que seriam as principais beneficiadas, caso investissem em inovação. Aliás, a pouca (ou falta de) inovação é responsável pela baixa competitividade nacional no cenário externo. Dos mais de 4 milhões de empresas brasileiras existentes, somente 17 mil (0,4%) apresentam alguma receita proveniente de exportação.


O Brasil precisa ter um sistema em que empresas, universidades, escolas técnicas, institutos de pesquisa, agências de fomento e reguladoras, poder público, entidades e associações empresariais cooperem de forma mais efetiva, de modo a produzir e difundir inovações de cunho tecnológico. Essa tarefa não é fácil, devido à infra-estrutura tecnológica reduzida e implantada de maneira pulverizada, ao baixo investimento em ações de pesquisa e desenvolvimento e a um fraco modelo de formação de recursos humanos.


A Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que apenas 12% das nossas exportações são de produtos de conteúdo tecnológico alto (computadores, equipamentos de comunicação, aviões, instrumentos, cosméticos e produtos farmacêuticos). A média no mundo é de 30%. Por outro lado, as commodities primárias (minério de ferro, soja, café etc.) representam 40% da balança exportadora nacional, contra 11% da média mundial.


Não se trata aqui meramente da escassez de recursos públicos. O gasto do Brasil em pesquisa e desenvolvimento é de cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que não é pouco. Desse total, 60% vêm do poder público, patamar praticamente semelhante ao que ocorre na Coréia do Sul e no Japão. A diferença é que nessas nações, para cada dólar investido pela administração pública, as empresas colocam cerca de US$ 4, enquanto aqui, nessa relação, a empresa só investe US$ 0,7.


Para superar essa barreira, é preciso que o Brasil passe por um choque de inovação e incentive o desenvolvimento das boas idéias. Exemplo disso é o que ocorre na cidade de Santo André, na região do ABC paulista, um dos berços da moderna indústria brasileira. O município tem apoiado ações de pesquisa e inovação tecnológica relacionadas ao desenvolvimento local e regional. Algumas iniciativas em andamento são o Pólo de Desenvolvimento de Software da TIM, as Incubadoras Tecnológica e Educacional de Santo André, o Núcleo de Fomento à Inovação Tecnológica e a realização de eventos, como o 6º Seminário e a 2ª Rodada de Negócios do Plástico.


Santo André será a sede, no dia 4 de outubro, do 1º Encontro de Ciência e Tecnologia do ABC. Medidas como essa são essenciais para tirar o conhecimento acadêmico dos laboratórios de pesquisa das universidades e levá-lo ao chão-de-fábrica das empresas. Só assim será possível se pensar no desenvolvimento sustentável dos municípios, das regiões e do País.



Jeroen Klink é pró-reitor de Extensão da Universidade Federal do ABC; e Luis Paulo Bresciani é secretário de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional de Santo André e professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Imes)

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.