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10/09/2007
Após chegar à bolsa, SLC corteja analistas e investidor
Por Adriana Cotias
Há apenas três meses na Bovespa, mas com uma história que começou há mais de 60 anos, a gaúcha SLC Agrícola quer estreitar seu relacionamento com o mercado de capitais. Depois de ter levantado R$ 490 milhões com a sua oferta inicial (IPO, na sigla em inglês) em junho, a ordem, agora, é apresentar os projetos de investimentos para comunidade de analistas e ampliar, assim, a cobertura das ações, hoje restrita a duas casas de investimento, o JP Morgan e o Credit Suisse, que coordenaram a abertura de capital.
Listadas no Novo Mercado, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) têm tido um giro médio ainda pequeno, inferior R$ 5 milhões (ou 120 negócios, desconsiderando o IPO) ao dia, mas, por enquanto, não há planos de contratar um formador de mercado. Segundo o diretor de relações com investidores, Laurence Beltrão Gomes, a liquidez dos papéis tende a aumentar à medida que os investidores conheçam as potencialidades da produtora de grãos e de algodão e que identifiquem as vantagens competitivas do setor agrícola brasileiro. A seguir, os principais trechos da entrevista do executivo ao Valor.
Valor: Quando foi que a SLC percebeu que o mercado de capitais seria uma opção de financiamento ?
Laurence Beltrão Gomes: Tínhamos planos de crescer agressivamente desde 2003 e começamos a avaliar fontes de financiamento para sustentar a expansão, por meio da compra de terras e aumento da área plantada. Os anos de 2003 e 2004 foram bons para a agricultura brasileira, com aumento da rentabilidade para o setor, o que teve impacto nos preços das terras. Com a elevação, decidimos retardar o projeto idealizado. Já, 2005 foi um ano ruim para o setor e 2006 também, por causa do câmbio e do clima. Ali, decidimos que seria a hora de colocar os planos em ação. Como agricultura é uma atividade que requer capital intensivo, o endividamento não seria o melhor caminho. Os controladores acreditavam que o mercado de capitais traria mais benefícios para a companhia.
Valor: O cenário mundial era ainda bem favorável…
Gomes: Aproveitamos um momento de crescimento e de boa liquidez, aliado a condições favoráveis do setor para exportações. O cenário para as commodities agrícolas também foi estruturalmente alterado, com o uso de grãos para a produção de etanol e biocombustíveis. Estados Unidos, Europa e Ásia passaram a estimular a mistura do biocombustível ao derivado do petróleo. Os Estados Unidos aumentaram a área de milho para a produção de etanol e reduziram aquelas destinadas ao algodão e à soja. Como o país era um exportador importante, a oferta diminuiu e houve um efeito sobre os preços dos produtos. O Brasil está preparado para ocupar esse espaço.
Valor: E qual o balanço que o senhor faz da oferta?
Gomes: Foi bastante positiva e pudemos constatar que não havia empresas abertas exclusivamente produtoras de grãos e de algodão no mercado mundial. As opções eram tradings ou grandes produtoras, que misturavam negociação e logística. A SLC só produz e foi possível perceber que houve um prêmio de escassez. A demanda superou a oferta em algumas vezes e os papéis saíram no meio da faixa indicativa. Durante o “road show”, apresentamos um negócio novo, mas com muita história. A atuação na área agrícola começou em 1977, mas o grupo SLC foi fundado em 1945, são mais de 60 anos. Para o investidor estrangeiro, tivemos de ensinar qual é a dinâmica do setor de agribusiness no Brasil, diferente dos Estados Unidos, China ou Argentina. A agricultura brasileira tem vantagens, pois o país é um dos poucos do mundo que tem reserva de áreas para crescimento, tem clima e altitude favoráveis, topografia plana. Além disso, ao longo dos anos, investiu em tecnologia, desenvolvendo, por exemplo, sementes para regiões tropicais.
Valor: O desempenho das ações após o IPO – alta de 4,21% em comparação à queda de 0,20% do Ibovespa – reflete o aval do mercado?
Gomes: A empresa tem uma história muito sólida, tem 135 mil hectares de terras próprias, mas é difícil avaliar em tão pouco tempo. Além disso, o dólar subiu em meio à crise internacional e isso beneficia o setor agrícola como um todo.
Valor: Com a oferta, a SLC colocou 39,1% do capital no mercado. A liquidez tem sido satisfatória ?
Gomes: A empresa é nova, o setor é novo. A liquidez vai aumentar ao se tornar mais conhecida pelos investidores, ao receber mais cobertura de analistas.
Valor: Está nos planos contratar um formador de mercado?
Gomes: Há, primeiro, um trabalho a fazer junto às áreas de “research”. E, à medida que a SLC execute seu plano de crescimento, naturalmente os papéis vão ganhar liquidez. Na área de relações com investidores, a intenção é ter um “disclosure” relevante com investidores e comunidade de analistas.
Valor: Algum projeto para se aproximar da pessoa física, que ficou com 8,9% das ações ofertadas?
Gomes: Já temos um site em operação. A preocupação foi deixar o conteúdo claro, pois esse é um canal de acesso normalmente utilizado pelo pequeno investidor. Respondemos a todos os e-mails recebidos e estamos programando reuniões públicas.
Valor: Em 2003 a SLC apresentou prejuízo, o que afeta a perspectiva de dividendos…
Gomes: O prejuízo do ano passado foi contábil e não operacional. A situação já melhorou no segundo trimestre, embora houvesse o impacto das despesas com o IPO. Neste ano, o resultado já fecha positivo.