NOTAS E INFORMAÇÕES
31/08/2007
Para que serve, afinal, o dinheiro gasto pelo governo em promoção comercial? Ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) resolveram buscar uma resposta para essa pergunta. Iniciaram, para isso, uma auditoria especial, destinada a examinar a eficiência das políticas mantidas por Ministérios e entidades da administração indireta, como a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex). Talvez o levantamento revele alguma novidade, mas o cenário inicial, familiar a qualquer viajante, é pouco animador.
Aviões fabricados no Brasil transportam milhões de passageiros em todos os continentes, mas quando alguém se declara brasileiro, em qualquer canto, a resposta imediata é alguma referência simpática a Ronaldo ou Ronaldinho, ao carnaval e às escolas de samba. Se o interlocutor for um pouco mais chegado à leitura de jornais, poderá mencionar a destruição da floresta amazônica por agricultores escravistas.
Agora, com a moda do etanol, tudo está piorando, poderá completar o bem informado alemão, tailandês, iraniano ou canadense. Esse tipo de percepção do Brasil não é surpresa para quem vai ao exterior com alguma freqüência. Como não é surpresa a nova percepção da Índia, ainda marcada pela imagem de exotismo e mistério, mas identificada, também, como um país em crescimento veloz e em rápida modernização.
Imagem e comércio internacional andam unidos, principalmente quando se trata da exportação de produtos industrializados e de especialidades. Grandes vendedores de commodities, sejam primárias ou de elaboração intermediária, podem até ganhar dinheiro sem ter uma imagem popular. Mas mesmo nesses casos a imagem pode fazer diferença.
Muitos europeus provavelmente não associam o nome do Brasil ao café. Mas podem citar a Colômbia e o Quênia, por exemplo, como produtores e exportadores importantes. A baixa visibilidade pode ser aceitável quando se trata de exportar produto de qualidade medíocre, ou inferior, para fazer volume em misturas. Mas boa parte do café brasileiro está bem acima dessa condição – e o investimento em qualidade vem crescendo há anos.
Mas mesmo quem conhece o Brasil como grande produtor de café dificilmente vincula seu nome à idéia de qualidade. Essa condição é reservada a outros, notadamente à Colômbia. E isso não é tudo: há alguns anos, o governo federal usou numa divulgação do café brasileiro a imagem de um escravo. Os concorrentes foram bastante generosos para não se aproveitar disso.
O ministro Augusto Nardes, do TCU, mencionou reclamações da indústria quanto à falta de coordenação entre os vários Ministérios – Itamaraty, Agricultura, Desenvolvimento, etc. – nas ações de promoção e divulgação do Brasil. Mas o problema não é apenas a falta de coordenação. A deficiência mais grave é o amadorismo. Não é preciso fazer uma pesquisa para verificar esse ponto. A criação da “marca Brasil” é um assunto recorrente em meios oficiais e empresariais, mas não há sinal de uma política voltada para isso.
A coordenação deficiente reflete, em primeiro lugar, a incapacidade governamental de fixar objetivos claros e bem definidos para a ação comercial. A exportação tem crescido muito mais por mérito das empresas do que em conseqüência da ação oficial. Mesmo assim, a participação brasileira no mercado mundial não é muito diferente da observada há 20 anos.
A diplomacia, especialmente depois de submetida à orientação petista, elegeu como prioridade a mobilização do mundo em desenvolvimento para o grande (qual e quando?) confronto com o Primeiro Mundo. Enquanto isso, indianos e chineses, seguindo o caminho percorrido por outros emergentes, tratam de se apresentar perante os grandes mercados como produtores dinâmicos e capazes de oferecer qualidade (às vezes contestada) e a preços competitivos. Discurso terceiro-mundista, só quando convém.
Quanto ao presidente Lula, aproveitou a maior parte dos microfones postos à sua disposição, em eventos internacionais, para falar sobre a fome e sobre o combate à miséria no Brasil e no mundo. Tem sido aplaudido – cada vez menos, porque o folclore também cansa. Só não cansou os auditórios falando do Brasil moderno, competitivo e comercialmente confiável. Não cansou porque mal tocou no assunto.