Sede do Instituto Agronômico do Paraná, em Londrina, norte do Estado, que há 35 anos vem se dedicando á pesquisa científica
Créditos: SETIO apoio do governo estadual á produção de sementes genéticas e básicas está permitindo que produtores rurais tenham acesso a um material melhor e mais barato, além da garantia de comercialização junto aos mercados mais exigentes. Um exemplo é a semente de milho branco – cultivares IPR 119 e IPR 127: produzida pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Londrina, essa semente pode alcançar preços até 30% superiores no mercado nacional em relação á variedade amarela. “Hoje, muitas indústrias brasileiras de renome só compram milho branco se este for produzido com as cultivares do Iapar, informa o produtor paranaense José Carlos Belon, da empresa Sementes Nascente, um dos 71 parceiros da instituição no Estado ao todo, no país, eles somam 112.
Lançada em 2003, no município de Irati, região central do Estado, para atender principalmente pequenos produtores, o milho branco IPR 119 vem sendo utilizado com bons resultados na agricultura paranaense e brasileira e também junto à indústria de canjica, fubá, farinha, amidos e outros derivados. Além do milho, sementes de outras espécies, provenientes dos trabalhos de pesquisa do Iapar, também vêm conquistando o mercado nacional, caso, por exemplo, do café, feijão e trigo, informa o engenheiro agrônomo da área Técnica de Propagação Vegetal do Iapar, Alberto Sergio do Rego Barros, coordenador do projeto “Produção de Sementes Genéticas e Básicas para o Desenvolvimento da Agricultura Paranaense.
Implantado pelo Governo do Estado em 2004, o projeto é um dos 329 apoiados pelo Fundo Paraná, gerido pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), com recursos que somam R$ 1,6 milhão. “O objetivo é disponibilizar sementes de espécies de interesse econômico e social para o Estado do Paraná, explica o engenheiro agrônomo. O projeto vem sendo realizado em parceria com o Iapar e a Fundação de Apoio a Pesquisa e ao Desenvolvimento do Agronegócio (Fapeagro).
As sementes produzidas dentro desse projeto são as de feijão, milho, trigo, triticale, aveia, centeio, café e arroz, além de espécies próprias para adubação verde: nabo forrageiro e ervilha forrageira. Esse material é repassado aos produtores de sementes com base em contratos de licenciamento de cultivares, que por sua vez produzem as sementes que serão disponibilizadas aos agricultores.
No total, aproximadamente 400 toneladas de sementes genéticas e básicas de várias espécies, dentro do projeto apoiado pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, foram produzidas na safra 2005/2006. Para a safra 2006/2007 a previsão é produzir a mesma quantidade nas Estações Experimentais do Iapar de Londrina, Cambará, Palotina, Pato Branco, Irati e Ponta Grossa.
As sementes lançadas pelo Iapar as vezes, o trabalho de pesquisa realizado pelo instituto exige de oito a dez anos até o resultado final – vêm sendo utilizadas com sucesso nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, beneficiando todos os segmentos de produtores rurais — pequenos, médios e grandes, de diferentes regiões e trabalhando com diferentes sistemas de produção, inclusive agricultura familiar e a orgânica.
Mas a entrada no mercado brasileiro de um número maior de produtores de sementes, no Paraná e em algumas regiões brasileiras, também se deu graças à Lei de Proteção de Cultivares, que possibilitou que os materiais das instituições de pesquisa fossem disponibilizados a um maior número de produtores. Até alguns anos atrás a produção de sementes de milho ficava quase que exclusivamente por conta das multinacionais. Hoje, os agricultores também utilizam materiais produzidos por instituições oficiais de pesquisa, caso do Iapar, informa ainda o engenheiro agrônomo.
Além de facilitar o acesso a materiais de qualidade, como as sementes genéticas e básicas, o projeto desenvolvido pelo Iapar também possibilita utilização de mão-de-obra nas lavouras. Um exemplo é a Fazenda Canadá, no município de Nova Fátima, norte do Estado, onde, numa uma área de quatro alqueires, destinados à produção de sementes de milho branco IPR 127, são empregadas em média 500 pessoas/safra por R$ 30,00/dia. “Aqui, todos os trabalhadores são registrados e têm equipamentos apropriados, relata ainda o produtor José Belon. Tudo para garantir a qualidade do produto.
CONQUISTANDO NOVOS MERCADOS
O paranaense José Carlos Belon sempre ouvira falar do trabalho realizado pelo Instituto Agronômico do Paraná, o Iapar. Mas foi na safra de 2002 que ele começou a plantar, numa área de 10 hectares, a variedade de milho branco IPR 119, um híbrido duplo de alto potencial produtivo, voltado mais para o mercado de canjica, fubá, amido, farinha e silagem. Hoje, o IPR 119 e o IPR 127, este um híbrido simples que emprega alta tecnologia, estão plantados pelo Brasil inteiro, orgulha-se esse entusiasmado produtor de sementes do norte do Paraná.
Belon, que já vinha de uma família com tradição na produção de sementes, encontrou junto ao Iapar o que procurava para crescer. “Antes de o Iapar entrar no mercado de milho branco, nós tínhamos materiais antigos, o grão era de qualidade inferior, havia baixa tecnologia, baixa oferta de sementes e as empresas que produziam esses materiais cobravam muito caro. O produtor sofria demais, conta.
Ele considera que a parceria com o Instituto Agronômico do Paraná foi um divisor de águas na sua vida. Quando entramos no mercado conseguimos de imediato reduzir o custo da semente em torno de 10 a 20% em relação aos preços cobrados pelas multinacionais. Esses índices permanecem até hoje, relata ainda.
TECNOLOGIA
Porém, a maior satisfação do produtor paranaense é com a tecnologia e a qualidade do milho branco repassada pelo Iapar. Se antes da parceria com o Instituto as indústrias conseguiam uma média de 32 quilos de canjica para cada 60 quilos de grãos, atualmente, com o IPR 127, são obtidos cerca de 44 quilos de canjica de ótima qualidade com a mesma quantidade, conforme o produtor.
Aliás, a opção pelas variedades IPR 119 e 127 foi o que fez a diferença nos seus rendimentos. No Brasil, ao contrário da maioria dos países, o consumo de milho branco é muito baixo, afirma. Por outro lado, enquanto a saca de milho amarelo de 60 quilos está em torno de R$ 16,00, a saca de milho branco já chegou a ultrapassar os R$ 50,00. Quanto à exportação, Belon considera que esta é só uma questão de tempo. Vai depender da adaptação das cultivares.
Histórias de garra e dedicação como a de Belon podem se multiplicar entre os agricultores paranaenses desde que eles atendam alguns pré-requisitos básicos. O produtor precisa agregar valor, ele não pode plantar só commoditie porque o preço é o mesmo para todo mundo. Quando ele planta um produto diferenciado, caso do milho branco, por exemplo, ele pode e deve mandar no seu preço. Já no commoditie isso não acontece, ensina.