História do Café
Henri Jr
Osvaldo Reis, escritor e “maringaense de coração e alma”; histórias da política séria contadas em livro Juliana Daibert
“A pessoa só nasce por acaso, aventura ou desgraça. Eu, por acaso, nasci em Bonsucesso.” As palavras são do espirituoso escritor e maringaense “de coração e alma” Osvaldo Reis, 57 anos.
Os pais, Ana e Geraldo, trabalhavam em fazendas de café na região, onde ficavam por cerca de dois anos. São Tomé, São Pedro do Ivaí, Umuarama e Jussara foram cidades por onde Osvaldo esteve junto com os pais, antes de passar por Maringá, onde as irmãs, Maria e Lourdes, já moravam.
Em 1964, Reis fixou residência na cidade. “Maringá era incipiente, tudo era novidade”, lembra. Torcer pelo time de futebol bi-campeão paranaense e se divertir na piscina do Andó, uma espécie de clube que havia em Sarandi, era a diversão da juventude da época.
“Os jogos do Grêmio eram uma festa, o estádio ficava cheio”, lembra ele, revelando a origem do apelido do time que tantas alegrias deu aos torcedores. “Antes de uma decisão, um dos diretores soltou um galo no meio do campo. Desde então, o Grêmio passou a ser chamado de Galo.”
A primeira atividade profissional que exerceu foi de vendedor. A “Comercial Reis”, de propriedade do irmão, comercializava as “machina zacharia” de arroz, máquinas de café Pinhalense e um produto revolucionário para a época. “Era uma bomba de corrente para puxar água de poço. Vendeu muito”, diz.
Reis ainda trabalhou no Banco Mercantil de São Paulo e foi vendedor em um grande atacado, antes de ser fisgado pela política. De apresentador de comícios a assessor de políticos nas três esferas administrativas, Reis garante que apenas tentou “ser cidadão.”
“Sempre fui muito ligado ao professor Renato Bernardi, que despertou meu interesse pela política”, conta ele, que está escrevendo um livro sobre o amigo e “modelo de político.”
Em Curitiba, Reis assessorou o deputado estadual Jaime Rodrigues de Carvalho (MDB), da região de Goioerê. Com a eleição de Renato Bernardi (MDB), em 1974, para a Assembléia Legislativa, o assessor permaneceu em Curitiba.
Ao final do mandato de Bernardi, em 1978, Reis foi para Brasília (DF), trabalhar com o deputado federal Antônio Annibelli (MDB). Dois anos depois, novamente em Maringá, ele trabalhou na campanha de Bernardi à Câmara Federal. Favorável, o resultado das urnas levou Reis de volta à Brasília, onde ficou até 1990.
Com a vitória de Said Ferreira (PMDB) à prefeitura de Maringá, em 1992, Reis tornou-se chefe de gabinete. Ao final do mandato, a assessoria continuou, mas de maneira informal.
Alguns fatos dos bastidores políticos testemunhados por Reis foram perpetuados no livro “Boca Maldita: poucas e boas das velhas raposas”, lançado em 1994. De acordo com o autor, o nome do livro não tem ligação com a “Boca Maldita”, espaço democrático de conversas informais e bate-papos diversos.
Um dos fatos que rendeu boas risadas, mas não chegou a ser publicado, envolveu os candidatos a deputado estadual Joel Coimbra (PDT) e Marquinhos Alves (PDS). Segundo Reis, Coimbra, que era promotor de justiça e trabalhava com direitos do consumidor, estava em campanha em Sarandi.
Conversando com uma eleitora, ouviu só elogios, pessoais e profissionais. Depois de agradecer várias vezes pela atuação na solução de um problema, a eleitora revelou que a Coimbra que “se não fosse votar no Marquinhos Alves, votaria no senhor.”
Saudoso do tempo em que a política era a arte de servir, ele lamenta que, ultimamente, a flexão “servir-se” seja mais apropriada.
“A falta de respeito hoje em dia ocorre tanto por parte do político quanto do eleitor. Ninguém mais lembra em quem votou na eleição passada e a conseqüência disso é a falta de cobrança. Político que não é cobrado pela população faz o que quer”, afirma.
Além do exercício político, a Maringá que conquistou Reis mudou bastante e ficou na saudade.
“Talvez eu seja o maringaense mais bairrista de todos. Tenho orgulho até da poeira de Maringá, mas hoje está difícil sair na rua”.