O recuo do dólar é bom porque significa que o Brasil está mais competitivo e é capaz de produzir produtos demandados externamente, diz economista
A queda do dólar prejudica o agronegócio e alguns setores exportadores, mas beneficia diretamente o consumidor via redução da inflação. Esta é a visão do professor de economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Joilson Dias – que é também consultor da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim). Nesta entrevista, Dias afirma que se o Brasil alcançar o investment grade (grau de classificação de risco de economias estáveis), o investimento estrangeiro deve melhorar de qualidade.
Qual o impacto da desvalorização do dólar?
Para o norte do Paraná, que tem na agricultura sua força econômica e exporta muitas commodities, cotadas em dólar, a desvalorização é ruim porque se tem menor remuneração, seja da soja, do milho, café, farelo de soja e todos os sub-produtos. O agronegócio em si é muito dependente do dólar. Isso significa que o agricultor vai receber menos reais pelos produtos vendidos em dólar. Para o ano que vem, por outro lado, há um benefício: o preço menor do dólar significa que o custo de produção também vai cair, já que grande parte dos insumos é importado.
E para o consumidor?
Para o consumidor é bom porque o dólar barato ajuda a segurar a inflação e gera mais competitividade com o produto importado. Então, tem uma série de produtos importados, entre eletrônicos e alimentos, que estão com os preços caindo. Por exemplo, os produtos com base no trigo, que é importado, sofreram forte queda e vão influir em toda a cadeia porque tem um efeito multiplicador importante. Além disso, as viagens internacionais, cotadas em dólar, também estão mais baratas.
Computando prós e contras, a desvalorização do dólar é boa?
É boa porque significa que o Brasil está mais competitivo e é capaz de produzir produtos demandados externamente. É também no sentido geral porque ajuda a estabilizar a inflação e contribui com a estabilidade econômica. E temos mais negociação com o exterior: alguns produtos vão ter menos venda para fora, mas outros setores vão compensar, então no geral é bom. Sempre tem ganhadores e perdedores.
Há um piso para a queda do dólar?
A estabilização vai começar quando a taxa de juros cair ainda mais porque se elimina o fluxo de entrada do investimento especulativo. Eu acho que isso vai acontecer quando o dólar atingir R$ 1,50 a R$ 1,60. Então, nesse intervalo, os economistas acham que vai estabilizar. Isso estava previsto para acontecer em 2009, mas deve ocorrer já em 2008.
A aproximação do investment grade não tende a aumentar a entrada de dólares apesar da queda dos juros?
Quando a gente atingir o grau de investimento, vamos atrair investidores de longo prazo, que aceitam pagamento menor de juros. Em compensação, aqueles que buscam ganhos especulativos vão sair do nosso mercado. O que vamos ter é melhoria na qualidade do investimento. Provavelmente teremos mais recursos de longo prazo e investimentos em capital fixo para aumento da produção.
A maioria dos economistas e empresários vem sustentando que a desvalorização prejudica as exportações, mas as vendas para fora só tem aumentado. Isso acontece por que o dólar também está mais barato nos países que competem com o Brasil?
É exatamente isso. Por exemplo, o dólar está caindo face ao euro, então vai acontecer que as exportações para os EUA podem diminuir, mas para a Europa podem aumentar. Estamos exportando mais porque estamos mais competitivos, somos capazes de produzir com menor preço e mais qualidade. Esse é o aspecto número 1. O outro aspecto é que a desvalorização do dólar está ocorrendo perante todas as moedas. Então, você acaba mudando de mercado, para um país que tem mais atratividade para importar do Brasil. Esse é o panorama que nós estamos olhando
Fábio Cavazotti
Reportagem Local