O desenho tem o aval de instituições como Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Banco Mundial e da própria Organização das Nações Unidas (ONU). E as projeções desses órgãos sinalizam que a velha idéia de país do futuro pode, realmente, sair das letras de músicas e chegar à economia pelas mãos, braços e trabalho sério da agricultura, pecuária e agroindústria do Brasil. O ano da glória poderá ser 2017.
Uma das razões da irrefutável liderança brasileira no setor, no futuro, é que o país tem condições muito favoráveis à produção agrícola. O Brasil possui recursos naturais que permitem ao país ampliar sua área de produção, acompanhando as tendências de crescimento de mercado consumidor, sem precisar derrubar uma árvore sequer. Atualmente são 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis de alta produtividade – desse volume, 90 milhões ainda não foram explorados. Somente esse fator já faz do Brasil um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados à suas cadeias produtivas.
Outro ponto que tem de ser considerado é que o Brasil investiu pesado em pesquisa e tecnologia nas duas últimas décadas e agora está colhendo os frutos. O retorno vem em números, por exemplo: com a modernização da agricultura foi possível, com uma pequena expansão da área agrícola – de 37,9 milhões de hectares em 1990 para 45,6 milhões em 2007 -, passar de uma produção de cerca de 58 milhões de toneladas para 127,6 milhões, a safra recorde que o Brasil irá colher esse ano. Esse quadro de conquistas levou o país a ser considerado o detentor da agricultura mais moderna e produtiva do mundo.
Para Eugênio Stefanello, professor da Universidade Federal do Paraná e técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esses indicadores mostram que é apenas uma questão de tempo, organização e estratégia de mercado para que o Brasil se torne celeiro do mundo.
Mundo esse que, cada vez mais, vai precisar de comida para alimentar seus habitantes. Em 2030, estima-se que a população mundial seja de 8,5 bilhões de pessoas. “Países populosos como a China e Índia, mesmo sendo grandes produtores agrícolas, terão dificuldades de atender às demandas, devido ao esgotamento de áreas agricultáveis”, explica o ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto.
Segundo ele, isso já começa acontecer e é uma das explicações para o crescimento das exportações brasileiras para aqueles países, que vem ocorrendo nos últimos anos.
Entre 2002 e 2006, as vendas externas do agronegócio brasileiro cresceram 99%. Subiram de US$ 24,8 bilhões para US$ 49,4 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura. A escalada de crescimento continua em 2007. Só nos primeiros quatro meses as vendas externas do setor somaram US$ 16,5 bilhões – o valor é 24,7% maior do que o exportado no mesmo período do ano passado. O Oriente Médio liderou o ranking das regiões que mais cresceram como destino das exportações brasileiras – 67,4%, seguido pela União Européia (34,95%) e África (33,4%).
Atualmente, o Brasil já é o maior exportador mundial de etanol, açúcar, complexo carne, de carne bovina isoladamente, café, suco de laranja e complexo soja (farelo, grão e óleo). É também o segundo em soja em grão, segundo em carne de frango e quarto em carne suína. Em menos de duas décadas o Brasil deixou de ser importador para se transformar no quinto maior exportador de algodão. É ainda o quinto maior exportador de milho e está entre os 20 maiores de arroz. Em produção, o país é o maior produtor mundial de carne bovina, o terceiro em aves e o quarto em carne suína. É também o maior produtor mundial de açúcar, de café, suco de laranja, o segundo maior produtor de soja (grão), e o quarto em produção de farelo e óleo.
Etanol As vendas externas do complexo sucroalcooleiro foram as que mais cresceram – 243% em quatro anos. No caso do etanol, o país está bem à frente dos seus concorrentes. “O Brasil tem a expertise para produzir, é competitivo em toda a cadeia, da produção da cana, passando pela industrialização e até na logística, por causa da Petrobras. O gargalo da logística para o álcool é menor do que para o transporte de grãos, por exemplo. Então, acredito que em 2017, seremos os principais distribuidores mundiais de álcool”, afirma Márcio Lopes e Freitas, presidente do Sistema Organização das Cooperativas do Brasil (OCB).
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil estará produzindo 38,6 bilhões de litros de álcool em 2017, mais que o dobro da produção de 2005. O consumo interno está estimado em 28,4 bilhões e as exportações em 10,3 bilhões de litros. Para continuar no caminho certo, o país só tem que encontrar o equilíbrio da cana com outros cultivares e a atividade pecuária. “Acredito que haverá mudança na produção de carne bovina, por exemplo. A pecuária extensiva será substituída pela intensiva. Na pecuária de corte, a tecnificação é grande, quem está na ponta, por exemplo, está confinando 14 cabeças por hectare. Em 2017, teremos mais fazendas de gado dentro desse padrão. O que antes era pasto vai virar plantação de cana”, afirma Freitas.
O presidente da OCB, no entanto, alerta para que o governo assuma uma posição importante nas mudanças que estão por vir. “Serão necessárias medidas governamentais para orientar a produção.
É preciso garantir renda em outros cultivares, estimular a integração da lavoura com a cana, com a pecuária, produção de grãos”, completa.
Como exemplo de passos certeiros para um futuro sem tropeços, Freitas cita o caso do trigo. “O Brasil consome mais do que produz e sofre com a postura da Argentina, basta uma política agrícola para incentivar a produção aqui para acabar com o imbróglio. O trigo pode ser alternado com soja e milho, é uma cultura de inverno.
Os agricultores só não plantam porque os argentinos têm melhores condições, então o trigo chega aqui com preço mais barato, se se equiparar os brasileiros com os argentinos, estabelecer um acordo com a indústria, garantiremos o abastecimento do mercado e geraremos renda”, explica o dirigente.(fonte: Intelog)