AGCO acusa Chávez de criar barreiras para Brasil

12 de maio de 2007 | Sem comentários Comércio Empresas

RIBEIRÃO PRETO (SP) – A recuperação das lavouras de grãos, principalmente no Sul do país, aliada ao boom na cadeia da cana-de-açúcar e à safra prevista, de 130 milhões de toneladas (excluído o café – 32 milhões de sacas, de 60 kg), está inundando de otimismo os fabricantes de máquinas e equipamentos presentes da 14ª Agrishow Ribeirão Preto – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola, aberta dia 30 e que se estenderá até sábado. A expectativa dos organizadores é receber 140 mil visitantes e atingir vendas entre R$ 850 milhões e R$ 900 milhões.
Em 2006, o mercado brasileiro de tratores, de acordo com dados da Anfavea, foi de 20.400 unidades, com previsão de crescer entre 20% e 25%, neste ano, atingindo até 25.200. No segmento de colheitadeiras, a expectativa é um salto de 50%, de 1.030 para 1.500 unidades. Um trator tem preço variável de R$ 50 mil até R$ 350 mil. Na colheitadeira, o preço médio é de R$ 400 mil, para as de alta tecnologia.
Porém, não se pode achar que tudo está um mar de rosas no setor de tratores agrícolas e colheitadeiras. Um dos aspectos que preocupam o setor são as relações políticas pragmáticas criadas pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chaves, da Bolívia, Evo Morales, e da Argentina, Néstor Kirchner – aliados do presidente Lula. ‘Na Argentina, Venezuela e Bolívia, infelizmente o Brasil está ficando de fora de alguns negócios. A administração do Governo Chávez fortalece ou dá vantagens aos fabricantes argentinos, excluindo até negociação com os brasileiros‘, se queixou ontem, em conversa com jornalistas, o vice-presidente sênior da AGCO Corporation para América do Sul, Central e Caribe, André Carioba. Acrescentou que o mesmo vale em relação à Bolívia. ‘Eles estão fechando as portas (para o Brasil)‘, enfatizou.
Esse bloco político formado pelos três países, aliado ao câmbio baixo, com o dólar norte-americano cotado no patamar dos R$ 2, segundo André Carioba, cria dificuldades para os produtos nacionais. Acrescentou que há, ainda, uma tendência de agravamento com a decisão da Venezuela de importar tratores baratos do Irã, ‘a preços baixos e sem tecnologia‘. O vice-presidente regional da AGCO, porém, não acredita que a parceria econômica dos três países no atual molde poderá acabar em pouco tempo e que as posturas diferenciadas daqueles governos nas festas do Dia do Trabalho pode provar isso. ‘(…) Nada é eterno neste mundo. Talvez, esse bloco de amizade não exista mais como é hoje‘, prevê o executivo.



Negócios


No seu balanço consolidado de 2006, AGCO, que é holding controladora de grandes fabricantes mundiais, como Valtra, Massey Ferguson, Challanger e Fendt, e dona de duas dezenas de marcas globais, foi de US$ 5,4 bilhões. Nessa fatia, ao redor de US$ 560 milhões foram na América do Sul. No mercado regional, 60% (US$ 330 milhões) com negócios do Brasil.


Queda


Em 2006, as marcas da AGCO tiveram quedas de 1% nos negócios com tratores e, de 37%, nas colheitadeiras, frente aos resultados de 2005, na América do Sul. No primeiro trimestre, as exportações, a partir do Brasil, da multinacional apresentaram queda de 10%, no geral. ‘Dificilmente vai haver melhora, no curto prazo. Estamos com custo afinado na ponta do lápis. Se mantivermos (os contratos), vamos ter prejuízos. Vamos ter que interromper (as vendas)‘, advertiu André Carioba, quando foi abordado sobre as perdas com câmbio e o compromisso com os importadores.


Faltam pneus


Mas o ‘boom‘ da cadeia da cana-de-açúcar cria um problema real para aos fornecedores das máquinas: a falta de peças e componentes. O diretor de Vendas e Pós-Venda da Valtra, Orlando Capelosa, admitiu que há problemas no ‘abastecimento de peças de reposição‘. Um dos gargalos é com pneus, que a empresa está trazendo da China e da Argentina. Em 2006, a empresa faturou US$ 265 milhões, dos quais US$ 40 milhões com as vendas externas.


Espera * O diretor Comercial da Massey Ferguson, Carlito Ecker, diz que a indústria de máquinas agrícolas está operando com prazo médio para entrega de 60 dias. “Mas a fila de espera não está afetando a agricultura”, observou.
Em 2004 * Mesmo que o setor cresça no mercado de máquinas, o que está previsto para 2007, a produção ainda ficará bem abaixo dos resultados de 2004: 30 mil tratores vendidos e 5 mil colheitadeiras.


Vai investir * Apesar das queixas apresentadas à política cambial brasileira e à prática econômica adotada pelos governos da Venezuela, Argentina e Bolívia, o executivo da AGCO disse que a holding planeja colocar em linha uma colheitadeira. ‘No futuro, talvez, a gente fale bem menos do câmbio, e bem mais do futuro‘, disse o executivo, dando como receita própria para o grupo, neste cenário, ‘compressão de custos e melhoria nos processos‘.


* Colunista está na Agrishow a convite do pool de empresas da Mecânica de Comunicação

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