Aprígio Tavares e Paulo Veloso – A DUPLA DO CAFÉ

2 de janeiro de 2008 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: Revista Encontro







 









 


 


 


 


 



Acima, Aprígio Tavares: do Café Três Corações para o Fino Grão. Abaixo, o sócio Paulo Veloso: 3 mil hectares “do melhor café do mundo”


 


 


 


 


 


 


 


 

NEGÓCIOS


DUPLA DO CAFÉ


Dois pesos-pesados do setor cafeeiro – Aprígio Tavares e Paulo Veloso – se unem para atuar no mercado de grãos especiais

ANGELA DRUMOND

Cafeterias e consumidores exigentes, a postos. Mais uma marca especial de café vai aportar no mercado. É o Café Fino Grão, marcando o retorno de um peso-pesado do segmento de café moído, em sociedade com um dos maiores produtores do Estado. Aprígio Tavares, ex-proprietário do Café Três Corações, vendido à israelense Strauss-Elite, por 41,2 milhões de dólares, em 2000, e de Paulo Veloso dos Santos e Pedro Humberto Veloso, do grupo Veloso Café do Cerrado, de Carmo do Paranaíba, consagrados no mercado internacional de grãos crus selecionados.

Desta vez, eles vêm preparados para conquistar, inicialmente, o mercado de Belo Horizonte, com o “melhor café do mundo”. Só que fabricado aqui perto mesmo, em Contagem, numa fábrica que será inaugurada no fim deste mês (30 de junho) e que pertencia aos ex-donos do biscoito Aymoré, que, por sua vez, foi vendida à suíça Danone. Com investimentos que superam os 2 milhões de reais, na linha dos cafés especiais, o Fino Grão, com padrão internacional, em nada fica a dever aos melhores cafés industrializados do mundo, que aliás são feitos a partir dos grãos que eles mesmos fornecem, principalmente para a Itália e os Estados Unidos.

Cumprido o prazo de três anos estabelecido pelo contrato com o grupo de Israel, para que Aprígio se mantivesse afastado do mercado, o empresário fechou a sociedade com Paulo Veloso dos Santos e Pedro Humberto. Mas não foi apenas o aperto de mão entre os dois representantes do café mineiro que selou o novo empreendimento. A amizade entre os filhos Ricardo Tavares, no comando do Suco Mais, e de Paulo Veloso Júnior, expert em mercado internacional, operador de negócios na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), foi o início, o meio e o fim da conversa.

A esses dois, alia-se o conhecimento profissional do tio Pedro Humberto Veloso, à frente da Veloso Trading, indústria altamente tecnológica para a seleção dos grãos, também instalada em Carmo do Paranaíba, com modernos equipamentos e sofisticados sistemas informatizados de controle de qualidade. O processo inclui separação dos grãos pela cor, aroma, nuance, tamanho, com jatos de ar, em diversas esteiras e máquinas.

Do organizado armazenamento, dentro das rígidas regras estabelecidas pela BM&F, em sacas de linhagem, exala-se o cheiro adocicado do grão que seca no pé, concentrando as propriedades e o sabor, beneficiado pelo clima da região. Estações bem definidas e colheita na seca, que vai do outono ao inverno. É o ouro verde, que sai das plantações, agora beneficiado, com valor agregado, que se adquire quando ele é moído e industrializado.

O Fino Grão será colocado no mercado por aqueles que durante quase dois séculos aprenderam a maneira de levar o produto da fazenda à mesa do consumidor, vencendo todas as etapas.

Até degustador e classificador de café existe na Veloso, como se faz com os vinhos na Europa. Esse é o trabalho realizado por André de Brito, que identifica o sabor dos grãos onde o gosto da fruta é mais forte ou que chega a lembrar o chocolate. Segundo os novos sócios, apesar do sucesso dos negócios, lidar com o café não é tarefa fácil. “É muito trabalho”, garantem eles. E requer experiência, justamente o que têm de sobra. Aprígio atua no segmento da torrefação e distribuição de café desde 1949. De vender o Três Corações, ele não se arrepende. “Foi uma oferta e tanto”, diz. E a família Veloso produz café desde 1840, com idas e vindas em outras culturas, mas de forma mais efetiva desde 1972.

A previsão é que a fábrica comece a funcionar com produção inicial de 300 toneladas/mês, aumentando para 500 toneladas/ mês até o fim deste ano. “Vamos entrar no mercado de cafés especiais, com matéria-prima da região do cerrado mineiro, o que confere ao produto altíssima qualidade”, explica Paulo Veloso Júnior. Mas a quarta geração das duas famílias já começa a mostrar que a paixão pelo café corre nas veias, como acontece com Bruno Tavares, de 19 anos e estudante de Administração de Empresas, e Pedro Henrique Veloso, 21 anos, que também é estudante de Administração, ambos enfiados o dia inteiro na fábrica, acompanhando de perto as reformas e a instalação dos equipamentos.

A estrutura permite recolher grão cru, armazenagem, silo, torrador, moinho e empacotador. As fazendas dos Veloso estão a 345 quilômetros de Belo Horizonte, em quase 3 mil hectares de área plantada. Desde 1995, o grupo atua como trading, negociando o grão verde para redes americanas, como Starbucks e Lavazza, com negócios também no Japão e na Europa, o que representa cerca de 70% da produção. E não é à toa que a parceria foi selada rapidamente. Antes mesmo de ser inaugurada, quatro contêineres com o café moído foram vendidos para Estados Unidos e Síria, e outros 12 já estão sendo negociados. Será oferecido o café fino tradicional e extra-forte, e em 2005, o expresso, o que incluirá venda de máquinas de uso comercial e doméstico.

Projetos ambientais e sociais estão a caminho, com a assessoria do holandês Soren Knudsen, do Soren Knudsen Group, sediado em Santos. Entre os maiores concorrentes dentro do mercado local estão o próprio Café Três Corações, líder do mercado mineiro e o Café Bom Dia. Esse fenômeno de retorno ao mercado, porém, não é novo. Nesse mesmo segmento houve episódio anterior. O empresário Américo Sato, depois de cinco anos afastado, após vender a sua tradicional empresa Café do Ponto para a norte-americana Saara Lee, decidiu voltar ao mercado se associando aos proprietários do Café Floresta, da região de Santos. Esse mercado de café parece mais uma “cachaça”: Quem esteve lá, não consegue ficar longe.

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