45 anos com a ferrugem do cafeeiro Por José Braz Matiello e Saulo R.de Almeida – Procafé

Por José Braz Matiello e Saulo R.de Almeida, engenheiros agrônomos da Fundação Procafé


Neste 17 de janeiro estamos completando 45 anos desde a constatação da ferrugem do cafeeiro no Brasil, identificada, pela primeira vez, em 1970, em Aurelino Leal, município do Sul Baiano.


Naquela época, pouco sabíamos sobre a doença e tentamos, a princípio, erradicá-la, depois procuramos confiná-la mais ao norte, através de uma faixa de segurança, mas logo, devido à facilidade de disseminação da ferrugem, ela escapou para as regiões cafeeiras mais ao Sul, sendo que em junho de 1970 já se encontrava o primeiro foco no Sul de Minas, em janeiro de 1971 em São Paulo e em outubro de 1971 no Paraná.


Assim, rapidamente foi preciso partir para uma estratégia de convivência com a ferrugem em nossos cafezais, com base em um programa de controle, que passou a dar ênfase a 3 setores – a pesquisa, a assistência técnica e o crédito. A pesquisa desenvolveu os métodos de controle, a assistência levou as tecnologias até aos produtores e o crédito deu suporte para a execução das práticas de controle.


O objetivo principal foi o de preparar os cafezais para o controle, através de novos plantios, em áreas zoneadas, com espaçamentos mais abertos na rua, visando facilidade no trânsito de maquinário pulverizador e adaptar, por podas e tratos adequados, as lavouras existentes. A melhoria da produtividade foi um ponto básico na política de convivência com a ferrugem, sendo essencial para gerar receita necessária para cobrir gastos adicionais com o controle químico, na época atingindo cerca de 20% do custo de produção do café.


Surgiu, assim, com a ferrugem, uma nova cafeicultura brasileira, ao contrário do que nos contava na época a história, que dizia que a ferrugem poderia acabar com o café, como havia acontecido no Ceilão. Também a literatura apontava a necessidade de usar um elevado número de pulverizações ao ano e com altas doses de cobre (7,5 kg por ha, a cada 21 dias).


A estrutura montada pelo IBC, na época, com 15 centros regionais de pesquisa, com uma equipe de Assistência de mais de 600 técnicos e com o crédito do Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais, resultou na renovação, de 1970 a 1979, de 1,4 milhão de hectares de novos cafezais. Chegou-se, em 1980, com uma safra de 25 milhões de sacas, apesar da geada arrasadora de 1975 e em 1983 com safras de 35 milhões e recorde, na época, de 42,7 milhões de sacas em 1987, quando em 1970, antes da ferrugem, produzia-se, apenas, 20 milhões. A base foi montada para que agora pudéssemos atingir, com novas melhorias, safras na faixa de 45-50 milhões de sacas/ano.


Parece que tudo foi fácil, porém houve muito esforço e mudanças fundamentais tiveram que ser feitas. Hoje, o custo de controle da ferrugem é de apenas cerca de 5% do custeio anual da lavoura e o próprio controle pode resultar em ganhos adicionais de produtividade, por efeito tônico dos produtos.


Vemos que a cafeicultura brasileira sobreviveu e melhorou com a ferrugem. Mas não foi assim em países cafeeiros vizinhos, aqui no continente americano. A Colômbia teve que trocar quase toda sua cafeicultura, substituindo a variedade caturra por variedade resistente e sua safra caiu de 12-13 milhões de sacas ano para 8 milhões e só agora começa a se recuperar. Países da América Central, como Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua, e, em escala menor, também a Costa Rica, estão tendo perdas importantes de safra com a ferrugem. Peru e Equador estão tendo problemas graves. A República Dominicana passou de exportadora para importadora de café com a ferrugem.


Disso tudo tiramos uma lição. Para enfrentarmos um problema grave precisamos investir com seriedade. Uma estrutura de trabalho ativa e integrada é importante. Conhecimentos, tecnologias e formas para fazê-los chegar aos produtores são a chave. Lavouras com bons níveis de produtividade são a base. Tudo isso com o apoio em preços de café remuneradores.


Evoluímos muito no controle químico da ferrugem. Precisamos evoluir mais na utilização do controle genético. Existe bom material disponível. É preciso maior difusão, para uma melhor aceitação das novas variedades pelos produtores. Afinal, os 45 anos de convivência com a ferrugem, com sucesso, nos trouxeram boas experiências, úteis para nossa luta contínua na tecnologia cafeeira.

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