LAWRENCE, KANSAS (EUA), 29 de maio de 2007 – Dissecando enormes e coloridas imagens de satélite, pesquisadores brasileiros da Unicamp e norte-americanos da Universidade do Kansas rastreiam cafezais de 11 mil cooperados da maior cooperativa de café do mundo, a Cooxupé. A idéia é ajudar a cooperativa, que produz 2,5 milhões de sacas anuais (2,5% da produção mundial) em regiões do sul de Minas e norte de São Paulo, a certificar seus cafés, de forma que possa conseguir melhores preços nas exportações.
O projeto, diz o professor J. Christopher Brown, do Departamento de Geografia da Universidade do Kansas, que atua num dos maiores centros de geoprocessamento dos EUA, é captar informações importantes para o mercado global, como qualidade, respeito ao meio ambiente e desenvolvimento social, agregando assim valor ao produto. Na UE, a rastreabilidade é obrigatória para se garantir segurança, enquanto nos EUA a motivação é ligada ao bioterrorismo. Tudo começou quando a Unicamp foi chamada pela Cooxupé para, através do geoprocessamento, mapear a sua produção e, assim, ter uma medida melhor da rentabilidade dos cafezais para o planejamento da safra.
“Descobrimos que a área de plantio era menor do que a estimada pelos métodos anteriormente adotados pela Cooperativa, ou seja, a produtividade dos cafeicultores tinha aumentado exponencialmente”, diz Pedro Piason Breglio Pontes, da Feagri/Unicamp, que está desenvolvendo o projeto de pesquisa na Universidade do Kansas.
Além de boas condições de trabalho (computadores e todos os principais softwares de geoprocesamento), Pedro conta com pesquisadores com larga experiência em Brasil. Seu orientador, Christopher Brown, ficou mergulhado em Rondônia durante dez anos pesquisando tentativas ao desenvolvimento sustentável entre pequenos produtores.
Sua aluna de doutorado, Heather Putnam, que aproveita a pesquisa para examinar as condições sociais dos locais onde o café é plantado, trabalhou por um longo período em cooperativas de café na Nicarágua.
Parcerias de conhecimento como esta – Cooxupé, Unicamp e Universidade do Kansas – não precisam de projetos grandiosos, acordos bilaterais, visitas de chefes-de-estado ou investimentos vultosos. O que fez o projeto possível foi apenas o financiamento da passagem e da moradia em Kansas (pela Cooxupé), e a vontade do pessoal do Kansas de aplicar a tecnologia e conhecimento disponível a este desafio.
O professor Christopher Brown trabalha em conjunto com Alexandre Coutinho e outros da Embrapa em Campinas para desenvolver um sistema de monitoramento da produção da soja e outras culturas na Amazônia com sensoreamento remoto por satélite, baseado na experiência adquirida em Kansas em monitorar a agricultura norte-americana.
Em uma proposta que está sendo avaliada pela Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos, a equipe Kansas/Embrapa propõe mapear, utilizando bases de dados gratuitas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da NASA, a produção da soja e outras culturas na agricultura mecanizada entre 2000-2007 nos estados de Rondônia, Mato Grosso, e Pará, investigando várias características do desenvolvimento da atividade na região. Entre elas, a intensificação da agricultura e a sua relação (ou não) com o desmatamento, impactos no ciclo de carbono, etc. O projeto, de dois anos, tem orçamento total de menos de US$ 250 mil. (Pedro Augusto Leite Costa – Gazeta Mercantil)